Apolônio de Carvalho
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Apolônio de Carvalho | |
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Nascimento | 10 de fevereiro de 1912 Corumbá |
Morte | 23 de setembro de 2005 Rio de Janeiro |
Cidadania | Brasil |
Cônjuge | Renée De Carvalho |
Ocupação | político |
Distinções |
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Apolônio de Carvalho (Corumbá, 9 de fevereiro de 1912 — Rio de Janeiro, 23 de setembro de 2005) foi um militante comunista brasileiro, [1] também reconhecido como combatente das Brigadas Internacionais, na Guerra Civil Espanhola, e herói da Resistência Francesa, durante a Segunda Guerra Mundial.
Vida
[editar | editar código-fonte]Apolônio de Carvalho foi uma figura ímpar no cenário da vida política brasileira. Poucos como ele viveram com tanta intensidade a «paixão» que o impeliu, desde os seus anos de cadete da Escola Militar de Realengo, a engajar-se na luta pelos ideais socialistas e contra os regimes de opressão, com uma dedicação que se manifestou em todos os episódios vividos: da militância no Partido Comunista Brasileiro (PCB) e na ANL (Aliança Nacional Libertadora) à participação na Guerra Civil Espanhola e na Resistência Francesa contra o fascismo;[2] da luta clandestina contra o período militar no Brasil, como membro do PCBR, à militância no PT, desde o momento da fundação do partido até sua morte.
Apolônio de Carvalho era filho de um soldado sergipano e de mãe gaúcha. Teve contato com a política bem jovem, na época em que cursou a escola militar, conforme disse à revista Teoria e Debate em 1989: "Em fins de 1933 eu já era oficial, achava que era necessário mudar a sociedade brasileira", contou ele.
Dois anos depois, ajudou a criar a ANL: "um colega do Rio Grande do Sul, um capitão do Exército, me falou da ANL (…) Então, eu participei da organização dessa frente popular", sendo considerado um traidor, por passar a não comungar mais com os valores que defendia e não se afastou da carreira militar.
Preso em 1936 pelo governo de Getúlio Vargas, tem sua patente militar destituída, sendo expulso do Exército.
Com a saída da prisão em junho de 1937, Apolônio ingressa no Partido Comunista Brasileiro (PCB). Segundo disse Apolônio a Teoria e Debate, o ideário do PCB "era muito parecido com o da ANL: contra os monopólios estrangeiros, pela reforma agrária, pela autonomia sindical, pelas liberdades sindicais, pelas amplas conquistas sociais". Recebe a orientação de embarcar para a Espanha onde, juntamente com outros vinte brasileiros, combaterá nas Brigadas Internacionais ao lado das forças Republicanas contra os fascistas liderados pelo general Francisco Franco.
Apolônio deixa a Espanha juntamente com as Brigadas Internacionais em fevereiro de 1939 e parte para a França, onde permanece em campos de refugiados até maio de 1940, quando consegue fugir do campo de Gurs, dirigindo-se a Marselha. É nesta cidade portuária que ele ingressa na Resistência Francesa, em 1942, da qual se torna comandante da guerrilha dos partisans para a região sul, com sede em Lyon. É também em 1942 que conhece Renée France Laugery, uma jovem de 17 anos, militante comunista da Resistência, que se tornaria sua companheira para o resto da vida. Em janeiro de 1944, Apolônio e Renée se instalam em Nîmes, onde em fevereiro, se organiza o ataque à prisão daquela cidade, libertando 23 militantes da Resistência. Em maio, mudam-se para Toulouse. Em agosto, Apolônio comanda a liberação de Carmaux, Albi e Toulouse. Em novembro, nasce o primeiro filho do casal, René-Louis.[3][4] Por sua coragem, Apolônio é considerado um herói na França, onde foi condecorado com a Legião de Honra.[5]
O fim da guerra encontra a família em Paris, de onde embarca no ano seguinte para o Rio de Janeiro. Em 1947 nasce o segundo filho do casal, Raul. Apolônio, Renée e as duas crianças passam a viver na clandestinidade, militando entre Rio e São Paulo até 1953, quando ele parte para um curso na União Soviética que dura cerca de quatro anos. Em 1955, Renée o encontra em Moscou e, em 1957, a família está de volta ao Brasil, vivendo na semilegalidade, situação que se estende até o golpe militar de 1964.
Na década de 1960, participou da oposição popular ao regime militar. Logo após o golpe de 1 de abril de 1964, Apolônio passa a viver em profunda clandestinidade no estado do Rio de Janeiro, longe da família. Em consequência das divergências com o Comitê Central do Partido Comunista (do qual era membro) Apolônio e a Corrente Revolucionária do Estado do Rio deixam o PCB, em 1967. Em abril do ano seguinte, juntamente com Mário Alves, Jacob Gorender e outros dissidentes, Apolônio fundará o PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário).
Em janeiro de 1970, no bojo de quedas que atingiram dezenas de militantes do PCBR, Apolônio e Mário Alves são presos no Rio e Jacob Gorender em São Paulo. Todos são interrogados e Mário Alves, desaparecido. Em fevereiro, os filhos Raul e René-Louis também são presos.
Em junho, Apolônio e outros 39 presos políticos brasileiros chegam a Argel, trocados pelo embaixador da Alemanha Ocidental, Ehrenfried von Holleben,[6] sequestrado no Rio de Janeiro, numa ação conjunta da Ação Libertadora Nacional (ALN) e da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). René-Louis será libertado em 1971, trocado (juntamente com 69 outros presos políticos) pelo embaixador da Suíça, Giovanni Bucher. Raul sai da prisão no ano seguinte. Depois disso que Renée deixa o Brasil e a família se reúne em Paris.
Durante os anos que teve de ficar fora das terras brasileiras, mantém contato com o Brasil e se articula com os exilados no exterior. A volta ao Brasil será em outubro de 1979, depois da Anistia de agosto daquele ano.
No fim dos anos 1970, aproximou-se dos grupos que então trabalhavam para criar o PT, tornando-se um de seus fundadores. "Nós tivemos uma imensa simpatia pelo PT", disse ele. "Em fevereiro de 1980, quando se lança (o partido) oficialmente, vemos o primeiro partido de esquerda em todo o século que pleiteia, como um de seus traços essenciais, a conquista da legalidade".
Permanece na direção do novo partido até 1987, quando se afasta por orientação médica.
"Apesar das limitações da saúde e da idade, Apolônio prossegue um militante que não se furtará jamais aos debates e à manifestação pública de suas posições de socialista convicto. Um socialista que soube combater criticamente as distorções do socialismo real, mas que, nem por isto (ou por isto mesmo), a queda do muro de Berlim ou o diversionismo das teorias propagadas pelo capital conseguiram dobrar."
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Vale A Pena Sonhar (biografia). Editora Rocco, 1997, 260 páginas.
Filmografia
[editar | editar código-fonte]- Vale a pena sonhar. Documentário dirigido por Stela Grisotti e Rudi Böhm. Cinematográfica Superfilmes,[7] 2003, 74 min.[8]
Referências
- ↑ Viúva de Apolônio de Carvalho relembra trajetória de lutas. Folha de S.Paulo.
- ↑ «Apolonio de Carvalho, o brasileiro que lutou na Guerra Civil Espanhola e na Resistência Francesa». Jornal Opção. 20 de janeiro de 2016. Consultado em 4 de agosto de 2016
- ↑ Apolônio de Carvalho, 88 anos. Um comunista bom de briga. Voluntário das Brigadas Internacionais da Guerra Civil Espanhola e um dos líderes da Resistência no sul da França, ele ajudou na fundação do Partido dos Trabalhadores no início da década de 1980. Por Leneide Duarte. IstoÉ Gente
- ↑ «Memória – Apolônio de Carvalho (entrevista)». Por Paulo de Tarso Venceslau. Teoria e Debate nº 6, 1º de abril de 1989.
- ↑ Apolonio de Carvalho : rêver à tout prix. L'Humanité, 1º de outubro de 2005.
- ↑ Há 48 anos, ditadura libertou 40 em troca de embaixador alemão. Por Antonio Alonso. Fundação Perseu Abramo, 11 de junho de 2018.
- ↑ «Cinematográfica Superfilmes». www.superfilmes.com.br. Consultado em 13 de junho de 2019
- ↑ Documentário Vale a pena sonhar. A trajetória de Apolônio de Carvalho, da Guerra Civil Espanhola à fundação do Partido dos Trabalhadores. IstoÉ Gente, 8 de dezembro de 2003.