Boi de mamão
Boi de mamão | |
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DJ Cozzatti laçando a Bernunça, em apresentação do Boi de Mamão, em Florianópolis. | |
Categoria: | Formas de expressão |
O boi de mamão é uma expressiva manifestação folclórica típica do litoral do estado de Santa Catarina, Brasil. Ocorre também em algumas cidades do interior de Santa Catarina e litoral do Paraná, até onde se tem notícia, trazido até lá por imigrantes catarinenses. Trata-se de um auto em tom cômico, mas com um elemento central dramático: a morte e a ressurreição do boi, apresentando elementos comuns com o bumba-meu-boi nordestino
Origens
[editar | editar código-fonte]Não há consenso entre os pesquisadores sobre qual a origem exata do boi-de-mamão, provavelmente existindo múltiplas origens e influências nessa tradição[1].
Pesquisadores como o folclorista Doralécio Soares, citando diversos argumentos (como registros históricos oficiais e semelhanças entre o enredo, cantorias, musicalidade e teatralidade) acreditam que o boi-de-mamão nasceu em Santa Catarina, mas originado do bumba-meu-boi nordestino, trazido provavelmente por imigrantes vindos da Região Nordeste[2][1][3]. De acordo com o mesmo pesquisador, o primeiro registro oficial no Brasil citando o " boi-de-mamão" data de 1870, registrado pelo catarinense José Boiteux em seu livro de 1930 "Águas Passadas"[4], o qual afirma, no mesmo registro, que a brincadeira também era chamada de "bumba-meu-boi"[2][1].
Porém, muitos praticantes do boi-de-mamão em Santa Catarina acreditam que a tradição teve origem na cultura açoriana[1][3], supostamente trazida por imigrantes das Ilhas dos Açores que colonizaram Santa Catarina no século XVIII (a partir da década de 1740), apesar de não haver registros históricos que comprovem a existência de brincadeiras semelhantes ao "boi-de-mamão" nestas ilhas portuguesas[5]. Por outro lado, não há dúvidas que a cultura típica dos descendentes de açorianos em Santa Catarina influenciou no desenvolvimento do boi-de-mamão, como por exemplo na estética e musicalidade. Há ainda, como o pesquisador Nereu do Vale Pereira, quem afirme que a cultura do boi-de-mamão iniciou na Ilha de Santa Catarina através dos espanhóis em sua breve ocupação em 1777 da Ilha de Santa Catarina. [5][6].
Fato é que brincadeiras populares, das quais o boi (vivo ou de fantasia) é o personagem principal são tradicionais em toda a Península Ibérica e datam muito antes da Idade Moderna, o que deve ter contribuído ou para criação do boi-de-mamão por imigrantes europeus em Santa Catarina a partir do século XVIII ou pelo menos na assimilação do "bumba-meu-boi" nordestino pelos imigrantes ibéricos e seus descendentes no Estado[2][1].
Além de denominação antiga de "bumba-meu-boi", registrada no século XIX por José Boiteux, o "boi-de-mamão", denominação mais popular da brincandeira, também fora chamado de "boi-de-pano", "boi falso", "boi-mamão", entre outras[2][1].
A prática na atualidade
[editar | editar código-fonte]O boi-de-mamão é encenado por grupos consolidados ou grupos efémeros. Os grupos efémeros geralmente se formam com objetivo de realizar uma única apresentação, como é comum acontecer anualmente em escolas do litoral de Santa Catarina, organizados por professores e apresentados pelos alunos, principalmente na época das Festas Juninas e Dia do Folclore.
Já, os grupos consolidados duram vários anos e acabam adquirindo uma identidade própria, mantendo viva a história e tradição da prática do boi-de-Mamão. Em Florianópolis, onde foi instituído por lei de 2016 o "Dia Municipal do Boi de Mamão" [7] atualmente, podemos destacar os seguintes grupos: "Alivanta Meu Boi", "Arreda Boi", "Boi de Mamão do Pantanal", "Boi de mamão da Vargem Grande", "Boi de mamão do Sambaqui", entre vários outros[8].
Já no Paraná, a tradição é mantida por poucas famílias ou grupos culturais, presentes em apenas algumas cidades[9] [10].Entre os grupos atuantes no Paraná podemos citar o da Associação Mandicuera, em Paranaguá[9].
Personagens
[editar | editar código-fonte]O boi-de-mamão inerentemente usa voluntários para protagonizarem o festejo, sendo que estes são postos sob as fantasias, que são feitas por uma armação de metal ou madeira e por pano. Antigamente também utilizavam carcaças de animais nas fantasias, como crânios. Existem vários personagens, existindo variações porém em cada grupo de boi-de-mamão[2], mas os principais são:
- Boi-de-mamão: figura central do folguedo, morre e renasce.
- O proprietário do boi: geralmente chamado de Mateus, busca a ajuda de outros personagens para ressuscitar o boi.
- Urubus ou corvos: tentam comer o boi morto, mas são espantados por outros personagens.
- Doutor e/ou curandeiro e/ou benzedeira: trabalham para ressuscitar o boi
- Cavaleiro e seu cavalinho: enlaça o boi ressuscitado e o leva embora, retirando-o de cena.
- Bernunça (ou benúncia) e seu filhote: uma espécie de dragão ou bicho-papão que engole tudo o que encontra pela frente. Segundo o pesquisador Nereu do Vale Pereira, tem origem em tradições ibéricas e espanholas da região da Galícia, onde existem desfiles de um monstro folclórico muito semelhante, denominado "coca"[6][11].
- Maricota: mulher muito alta e geralmente loira, que rodopia e balança seus longos braços, atingindo intencionalmente o público.
- Outros animais e figuras adicionais: variam de acordo com cada grupo de boi-de-mamão, mas geralmente também aparecem na brincadeira outros animais como bois, cabras, macacos, ursos (branco e preto), sapo, papagaios, entre outros. Também pode existir outros personagens sem ser animais, como o "Jaraguá" (com cabeça de bernunça, mas corpo de humano), entre outros.
- Apesar de atualmente outros grupos copiarem tal inclusão, o grupo Boi de Mamão de Santo Antônio foi o pioneiro (primeiro grupo) a trazer para a dança a figura da bruxa, do boitatá, da maromba e do lobisomem, o grupo de Boi de Mamão de Santo Antônio, com a inclusão destes buscou trazer um "q" a mais da e na cultura, tendo a propriedade intelectual desta inserção, mas que os demais grupos acabaram por muito inserindo em seu repertório também, assim como a inserção de surpresas ao longo da apresentação, como olhos que brilham e fumaças nos personagens, que também o grupo Boi de Mamão de Santo Antônio foi pioneiro, já está sendo inserido em outros grupos da ilha, o que acaba tirando a magia única de cada grupo e tornando tudo a mesma coisa. Cada grupo deveria ser único com sua criatividade e apetrechos (que não falta na ilha de Santa Catarina). (2022)
Referências
- ↑ a b c d e f Gonçalves, Reonaldo Manoel (2000). «Cantadores do boi de mamão: velhos cantadores e educação popular na Ilha de Santa Catarina» (PDF). Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências da Educação. Programa de Pós-Graduação em Educação. Consultado em 26 de novembro de 2018
- ↑ a b c d e Soares, Doralécio (2002). Folclore Catarinense. Florianópolis: Editora da UFSC. 224 páginas
- ↑ a b Da Rosa, Clemilson (2010). «História e tradição do Boi de Mamão em Santa Catarina(1970-2000)» (PDF). Trabalho de Conclusão de Curso em História pela UNESC. Consultado em 26 de novembro de 2018
- ↑ Boiteux, José Artur (1932). Águas Passadas. [S.l.]: Livraria Central,. Consultado em 26 de novembro de 2018
- ↑ a b Notícias da UFSC (Periódico online) (2010). «Pesquisador aponta novas origens para folclore do boi de mamão». Notícias da UFSC (Periódico online). Consultado em 26 de novembro de 2018
- ↑ a b Pereira, Nereu do Vale (2010). O Boi de Mamão Folguedo folclórico da Ilha de Santa Catarina - Introdução ao seu Estudo. Florianópolis: Associação Eco Museu do Ribeirão da Ilha
- ↑ «Lei Municipal nº10.164, de 07 de dezembro de 2016». Prefeitura de Florianópolis. Consultado em 26 de novembro de 2018
- ↑ «Grupos Folclóricos de Boi de Mamão». Guia Floripa. Consultado em 26 de novembro de 2018
- ↑ a b Furlanetto, Beatriz Helena (2011). «BOI-DE-MAMÃO NO LITORAL PARANAENSE: QUE TRADIÇÃO É ESSA?» (PDF). Anais do VII Fórum de Pesquisa Científica em Arte.Curitiba, Embap. Consultado em 26 de novembro de 2018
- ↑ Furlanetto, Beatriz Helena (2017). Paisagem sonora do Boi de Mamão paranaense: uma geografia emocional. Col: Série Pesquisa. Curitiba - Paraná - Brasil: Editora UFPR
- ↑ «A cerca da origem da bernunça» (PDF). Boletim da Comissão Catarinense de Folclore - nº61. 2010