Capsulite

A Capsulite Adesiva, também conhecida como "Ombro Congelado",[1] ocorre na cápsula articular da glenoide, onde ela se encontra espessa, inelástica e friável, com perda de movimentos ativos e passivos do ombro,[2] resultante de fibrose progressiva e contratura final da cápsula articular da articulação glenoumeral,[3] acompanhada de uma forte sensação dolorosa nos graus finais de movimento.[4]

Ombro congelado.

O aparecimento da capsulite atinge cerca de 3-5% da população em geral,[5] sendo mais frequente em indivíduos do sexo feminino, podendo chegar de 20% a 30% em pacientes diabéticos.[6][7] Seu aparecimento se dá durante a quinta e a sexta década de vida, com incidência maior em indivíduos que sofrem de diabetes.[8] Melhora com movimentos e piora com o repouso.[9]

As causas do surgimento da Capsulite ainda não estão muito bem esclarecidas, sendo que pode ter algum envolvimento do sistema nervoso autônomo,[4] além de estar ligado ao gênero feminino (acima de quarenta anos), pode estar relacionado com traumas, diabetes mellitus, hipotireoidismo ou com alguma cirurgia na articulação glenoumeral.[10]

A CA não é a única doença que acomete o ombro que causa a sua restrição dolorosa,[11] qualquer condição que deixe o ombro estático de forma prolongada poderá levar a restrição capsular, tais como imobilizações de coluna cervical e tórax.[4] Observa-se também que muitas patologias ocorrem em concomitância com a capsulite adesiva: tiroidopatias, diabetes, doenças auto-imunes, doença degenerativa da coluna cervical, doença intratorácica (pneumopatia, infarto agudo do miocárdio), doença neurológica (TCE, AVC, tumores), doença psiquiátrica.[12]

Classificações

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Para melhor compreensão da doença, a CA foi divida e classificada em:[9][10][13]

  • primária, ou idiopática - quando não há causa aparente ou associação com outras doenças ;
  • secundária - quando identifica uma provável causa ou associação com outras doenças .

Capsulite Adesiva Primária ou Idiopática

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É a perda, sem causa conhecida, avançada e dolorosa nos movimentos tanto ativos e passivos do ombro, especialmente apresentando na rotação externa, na qual o paciente passa limitar o uso do braço gradualmente, e pode ser devido a uma inflamação crônica no manguito, tendão do bíceps ou na capsula articular, desenvolvendo aderências capsulares especialmente nas pregas cápsula articular inferior.

Capsulite Adesiva Secundária

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É uma condição que leva a uma restrição de movimento ativa e passiva do ombro, essa condição pode se apresentar de duas formas clínica, na primeira a restrição de movimento é menor que a dor, pois o paciente se readquire seus movimentos com facilidade no decorrer de seis meses a um ano, já na segunda forma a dor é irradiada até abaixo do cotovelo observada quanto à restrição do movimento, com relato de dor em repouso.

A CA secundária pode ainda se subdividir em:[11]

  1. Intrínseca - quando é desencadeada por lesão no próprio ombro (tendinites do manguito do rotador, tenossinovite da cabeça longa do bíceps, bursite, artrose acromioclavicular);
  2. extrínseca - quando há associação com alterações de estruturas distantes do ombro, tais como lesões do membro superior (fraturas do punho e mão, infecções, etc.), doenças do sistema nervoso central e periférico (AVC, epilepsia, lesão de nervos do membro superior, etc.), lesões da coluna cervical com ou sem radiculopatia, doenças do coração (isquemia do miocárdio) e do pulmão (doença pulmonar crônica, tumores do ápice do pulmão) etc.;
  3. sistêmica - quando há associação com doenças como a diabetes, doenças da tireóide, etc.

Ainda de acordo com a divisão clássica,[14] a CA possui alguns estágios de manifestações: [15][11][12][9][16]

  1. Estágio I (Fase dolorosa ou inflamatória) - início insidioso com dor no ombro ao movimento, com intensidade progressiva, ocorrendo mesmo durante o repouso e à noite na ausência de movimentos precipitantes, há reação inflamatória sinovial, causa ansiedade ao paciente, que geralmente não procura tratamento adequado por julgar que esta é a melhor conduta, dura de 3 a 9 meses;
  2. Estágio II (Fase de congelamento ou rigidez) - há dificuldade para usar o membro superior longe do tronco, mesmo para funções simples como vestir-se, pentear-se; ocorre restrição severa da mobilidade e a elevação vai até 90° à custa da articulação escapulotorácica, que não se encontra envolvida no processo. Persiste uma dor leve e contínua, que piora aos movimentos abruptos com dor à palpação na cápsula articular, dura de 4 a 12 meses ;
  3. Estágio III (Fase de recuperação ou descongelamento) - o retorno gradual dos movimentos do ombro ocorre de forma lenta e progride ao longo de meses, embora uma restrição possa persistir sem incomodar o paciente, que está entusiasmado com o alívio da dor e maior liberdade de movimentosa elasticidade capsular e ligamentar começam a ser restaurar-se, esta fase dura de um a três anos.

Sinais e sintomas

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Caracteriza-se por dor mal localizada no ombro tendo início espontâneo, geralmente sem qualquer história de trauma. A dor torna-se muito intensa, mesmo em repouso, e a noite sua intensidade costuma diminuir em algumas semanas. A mobilidade do ombro torna-se limitada em todas as direções. Deve-se atentar para as amplitudes em que se realiza os movimentos, devido a mobilidade das articulações.[17][18]

O diagnóstico diferencial deve ser realizado com todas as patologias do ombro que podem evoluir para rigidez articular, além do uso da radiografia como confirmador do caso[12] sendo que o melhor exame é a artrografia do ombro e até a ressonância magnética.[11]

As características de imagem da capsulite adesiva são observadas na ressonância nuclear magnética sem contraste, embora a artroscopia por ressonância magnética e a artroscopia invasiva sejam mais precisas no diagnóstico. A ultrassonografia e a ressonância magnética podem auxiliar no diagnóstico, avaliando o ligamento coraco-umeral, sendo largura maior que 3 mm, com 60% de sensibilidade e 95% de especificidade para o diagnóstico[19]. A capsulite também pode estar associada a edema ou líquido no intervalo rotador, um espaço na articulação do ombro contendo normalmente gordura entre os tendões supraespinhal e subescapular, medialmente ao manguito rotador[20]. Ombros com capsulite adesiva também fibrosam e espessam na bolsa axilar e no intervalo do rotador, melhor visualizado como sinal escuro nas sequências T1, e com edema e inflamação nas sequências T2. Um achado no ultrassom associado à capsulite adesiva é o material hipoecogênico em torno do tendão da cabeça longa do bíceps no intervalo do rotador, refletindo a fibrose. Na fase dolorosa, esse material hipoecogênico pode demonstrar aumento da vascularização com a ultrassonografia com Doppler.

O tratamento para a CA pode ser dividida entre o tratamento conservador (fisioterapia) e tratamento médico que pode incluir remédios e, em casos mais graves, cirurgia.[21] A intervenção dever ser pautado também pelo quadro e estágio a qual o indivíduo se encontra e deve abordar a patologia subjacente, as medidas não-cirúrgicas abrangem tratamento farmacológico da sinovite e mediadores inflamatórios e também modalidades físicas para prevenir ou modificar a contratura capsular. A cirurgia pode abordar tanto o componente inflamatório via sinovectomia e contratura capsular através de liberação capsular e / ou manipulação sob anestesia. A otimização do tratamento depende do reconhecimento do estágio clínico na apresentação, porque a condição progride através de uma sequência previsível.[3]

Para pacientes com estágios iniciais de capsulite adesiva do ombro, a fisioterapia é a primeira linha de tratamento. Em geral, a fisioterapia é simultaneamente combinada com outras modalidades de tratamento.[22] Dentre as modalidades fisioterapêuticas, a terapia manual é uma das mais eficazes no tratamento, com suas mobilizações articulares,[23] [24] além de recursos eletrotermofototerapêuticos,[25] cinesioterapia convencional, todas com a finalidade de aliviar a dor e retomar a biomecânica normal da articulação do ombro.[26][27]

Referências

  1. Neviaser, Andrew S. (2010). «Adhesive Capsulitis: A Review of Current Treatment». The American Journal of Sports Medicine. v.38 (n.11). doi:10.1177/0363546509348048 
  2. Spassim, Mateus Valdir; Gaviolli, Cristina. «Intervenções fisioterapeuticas na capsulite adesiva ou ombro congelado». Luzimar Teixeira 
  3. a b Neviaser, Andrew S; Hannafin, Jo A. (2010). «Adhesive Capsulitis: A Review of Current Treatment». The American Journal of Sports Medicine. v.38 (n.11). doi:10.1177/0363546509348048 
  4. a b c Souza, Marcial Zanelli de (2001). Reabilitação do complexo do ombro. [S.l.]: Manone. 141 páginas. ISBN 8520412491 
  5. Binder, AI (1984). «Frozen shoulder: a long-term prospective study». Ann Rheum Dis. v.43 (n.3) 
  6. Manske, RC; Prohaska, D (2008). «Diagnosis and management of adhesive capsulitis». Curr Rev Musculoskelet Med 
  7. Silva, Marilia Barreto Gameiro; Skare, Thelma Larocca (2012). «Manifestações musculoesqueléticas em diabetes mellitus». Rev. Bras. Reumatol. v.52 (n.4). doi:10.1590/S0482-50042012000400010 
  8. «Capsulite Adesiva». Consultado em 8 de maio de 2018 
  9. a b c Dutton, Mark (2009). Fisioterapia Ortopédica: Exame, Avaliação e Intervenção. [S.l.]: Artmed Editora. pp. 561–608. ISBN 9788536323718 
  10. a b SILVA, ROSICLERI CARVALHO DA. «ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA NA CAPSULITE ADESIVA DO OMBRO». FACULDADE DE EDUCAÇÃO E MEIO AMBIENTE 
  11. a b c d FILHO, ARNALDO AMADO FERREIRA (2005). «Capsulite adesiva». Rev Bras Ortop. v.40 (n.10) 
  12. a b c LECH, OSVANDRÉ (1993). «Capsulite adesiva ("ombro congelado"): Abordagem multidisciplinar». Rev Bras Ortop. v.28 (n.9) 
  13. Kisner, Carolyn (2009). Exercicios Terapêuticos - Fundamentos e Técnicas 5ª ed. [S.l.]: MANOLE. pp. 510–511. ISBN 9788520427262 
  14. Neviaser, RJ (1983). «Painful conditions affecting the shoulder». Clin Orthop Relat Res. v.173: 63-69 
  15. «CAPSULITE ADESIVA - Causas, Sintomas e Tratamento » MD.Saúde». www.mdsaude.com. Consultado em 9 de maio de 2018 
  16. ROMANO, Miriam Aparecida (2001). «Dor em afecções reumatológicas». Revista de Medicina. v.80: 128-134. ISSN 1679-9836. doi:10.11606/issn.1679-9836.v80ispe1p128-134. Consultado em 9 de maio de 2018 
  17. «Intervenções Fisioterapêuticas na Capsulite Adesiva ou Ombro Congelado» 
  18. Sizínio, K (2016). Ortopedia e Traumatologia 5ª ed. [S.l.]: Artmed. ISBN 8582713770 
  19. Shaikh, Abe; Sundaram, Murali (janeiro de 2009). «Adhesive capsulitis demonstrated on magnetic resonance imaging». Orthopedics. 32 (1). 2 páginas. ISSN 1938-2367. PMID 19226048 
  20. «shoulderus.com». www6.shoulderus.com. Consultado em 17 de dezembro de 2018 
  21. Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. «Capsulite Adesiva: Tratamento Clínico e Cirúrgico». Associação Médica Brasileira 
  22. Le, Hai V; Lee, Stella J. (2017). «Adhesive capsulitis of the shoulder: review of pathophysiology and current clinical treatments». Shoulder & Elbow. v.9 (n.2) 
  23. Noten, Suzie (2016). «Efficacy of Different Types of Mobilization Techniques in Patients With Primary Adhesive Capsulitis of the Shoulder: A Systematic Review». Archives of Physical Medicine and Rehabilitation. v.97 (n.5): 815-825. doi:10.1016/j.apmr.2015.07.025. Consultado em 9 de maio de 2018 
  24. Bialosky,, Joel E (2009). «The Mechanisms of Manual Therapy in the Treatment of Musculoskeletal Pain: A comprehensive Model». Man Ther. doi:10.1016/j.math.2008.09.001 
  25. Page, MJ (2014). «Electrotherapy modalities for adhesive capsulitis (frozen shoulder) (Review)». The Cochrane Collaboration. doi:10.1002/14651858.CD011324 
  26. Ciccone, Ciccone; Oliveira, Marcilene Aparecida Dantas de. «Revisão bibliográfica da anatomia de ombro e da Capsulite adesiva para futura abordagem na terapia manual de Maitland». Centro Universitário Anhanguera 
  27. Yıldız, Abdurrahim; Kuş, Gamze (2017). «The Comparison of The Effectiveness of Physical And Electrotherapy Modalities Versus Home Exercises Program on Frozen Shoulder». The Orthopaedic Journal of Sports Medicine. v.5 (n.2). doi:10.1177/2325967117S00087