Florbela Malaquias
Florbela Malaquias | |
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Nascimento | 26 de janeiro de 1959 (65 anos) Luena (África Ocidental Portuguesa) |
Cidadania | Angola |
Alma mater |
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Ocupação | política, jornalista, escritora, advogada |
Florbela Catarina "Bela" Malaquias (Luena, 26 de janeiro de 1959) é uma ativista política, jornalista, escritora, ex-militar e advogada angolana. Sua carreira política iniciou-se como ativista da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), sendo, posteriormente, fundadora e primeira presidente do Partido Humanista de Angola (PHA). Participante da guerra civil, tinha a patente de capitã do braço armado da UNITA, as Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA). Com seu novo partido, o PHA, foi eleita, em 2022, para a Assembleia Nacional.
Biografia
[editar | editar código-fonte]Nascida em Luena, em 26 de janeiro de 1959, seu pai é Nelson Malaquias, funcionário da Companhia do Caminho de Ferro de Benguela, e sua mãe é Amélia Malaquias, trabalhadora doméstica.[1] Nelson Malaquias foi um activista anticolonial que, em 1966, tornou-se um dos organizadores das primeiras células da UNITA na província do Moxico.[1] Foi detido pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) e encarcerado no Huambo.[1] A sua mãe Amelia, com seis filhos, dentre eles Florbela, foi internada no Presídio de São Nicolau (também conhecido como Centro Prisional do Bentiaba), na província do Namibe.[1]
Como a militância política da família na UNITA a envolvia desde a sua infância, passou a fazer parte dos quadros da ala feminina do partido, a Liga da Mulher Angolana (LIMA), ainda na adolescência.[1] Foi a autora do hino da LIMA.[1]
Serviu nas FALA ainda nas guerras de independência angolana.[2] Participou também na guerra civil contra o recém-independente Estado angolano.[2] Ocupou cargos de comando, chegando ao posto de capitã das FALA. Sua capacidade comunicativa a projetou para tornar-se locutora da rádio partidária "Voz da Resistencia do Galo Negro-Angola" (VORGAN), apresentando vários programas informativos.[1][2] Foi neste período que ganhou a alcunha de "Bela".[1]
Enquanto estava em Jamba-Cueio, capital de facto da UNITA, Florbela Malaquias entrou em conflito com Jonas Savimbi,[2] manifestando desacordo com o exacerbado patriarcalismo, militarismo e um culto à personalidade no entorno do líder da UNITA.[1] Neste período o partido, sob ordens de Savimbi, levou a cabo repressões contra suspeitos de conspiração e espionagem, além de execuções com rituais tribais e místicos, das quais as mulheres foram as principais vítimas — episódios conhecidos como "Setembro Vermelho".[1] No outono de 1983, Florbela Malaquias conseguiu fugir[1] de um base da UNITA em Bailundo,[3] onde estava encarcerada acusada de traição e feitiçaria,[4] e depois mudar-se para Luanda. Conseguiu escapar, mas Eugénio Manuvakola, então seu marido, continuou sob custódia do partido.[3] Somente não foi morta na Jamba por intervenção de seu primo, Samuel Epalanga, influente liderança do partido e chefe dos serviços de inteligência da UNITA, a Brigada Nacional de Defesa do Estado (Brinde) — justamente a organização responsável pelos assassinatos extrajudiciais ordenados por Savimbi.[4]
Passou a trabalhar como locutora e depois como administradora da emissora estatal Rádio Nacional de Angola (RNA).[1] No período licenciou-se pela Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto[5] e passou a exercer advocacia na esfera económica.[2] Tornou-se também mestre em ciências jurídico-empresariais.[1]
Em novembro de 2019, Florbela Malachias publicou o livro Heroínas da Dignidade: Memórias de guerra, um invulgar testemunho de um feminicídio e da desmistificação da figura idolatrada de Jonas Savimbi.[1] Ela caracterizou Savimbi negativamente e detalhou os episódios da "caça às bruxas" na Jamba.[1] A descrição dos episódios provocou uma forte reação de negação por parte dos representantes da UNITA.[4] Foi instaurado um processo criminal devido a ameaças de morte contra ela.[6] A publicação e as ameaças subsequentes aumentaram dramaticamente a proeminência nacional de Bela Malaquias, tornando-a uma voz associada ao combate ao feminicídio, à violência contra a mulher e à pedofilia.[4]
Em 21 de dezembro de 2020 Florbela Malaquias deu início à criação do Partido Humanista de Angola (PHA).[5] Em 27 de maio de 2022, três meses antes das eleições parlamentares de 2022, o Tribunal Constitucional de Angola publicou o registro do PHA.[1][7] Bela Malaquias ficou em primeiro lugar nas eleições internas de definição da lista partidária, tornando-se a única mulher na história política de Angola a encabeçar uma lista eleitoral parlamentar.[8] O principal eslogã eleitoral do PHA é "Humanize Angola!", com sua plataforma política focando fortemente nas mulheres angolanas.[1] Durante a votação de 24 de agosto de 2022, o partido de Bela recebeu mais de 63 mil votos — 1,02% do eleitorado. Isto deu à PHA dois mandatos parlamentares.[9] A própria Malaquias tornou-se membro da Assembleia Nacional.[10]
Vida pessoal
[editar | editar código-fonte]Florbela Malaquias é residente no Huambo. Divorciada de Eugénio Manuvakola,[3] teve com ele cinco filhos, com destaque para a também política Navita Ngolo.[11][1] Seus passatempos são ler, costurar, cuidar de plantas e desenhar. O livro favorito é Les Misérables de Victor Hugo.[12]
Referências
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q r Florbela Malaquias propõe "humanizar Angola". DW. 17 de julho de 2022.
- ↑ a b c d e Conheça Bela Malaquias, única mulher líder de partido em Angola. Terra. 24 de junho de 2022.
- ↑ a b c Carta enviada a Paulo Lukamba 'Gato' por Bela Malaquias, esposa de Eugénio Manuvakola em 2003. Lil Pasta News. 10 de agosto de 2022.
- ↑ a b c d “As mulheres do 5º Ano eram alvos preferenciais de Jonas Savimbi”. Jornal de Angola. 11 de dezembro de 2019.
- ↑ a b Jornalista Bela Malaquias cria partido político. Jornal de Angola. 23 de novembro de 2020.
- ↑ Livro sobre Jonas Savimbi provoca ameaça de morte a Bela Malaquias. Angola24horas. 3 de dezembro de 2019.
- ↑ Tribunal Constitucional legaliza Partido Humanista, de Florbela Malaquias. Novo Jornal. 27 de maio de 2022
- ↑ Quem é "Bela" Malaquias, a única mulher a liderar um partido em Angola?. DW. 22 de junho de 2022.
- ↑ Resultados/Apuração: Eleições gerais 2022. CNE. 2022.
- ↑ CNE angolana divulga resultados definitivos e proclama João Lourenço como Presidente de Angola. Observador. 29 de agosto de 2022.
- ↑ ÚlTIMA HORA: Navita Ngolo é a nova Secretária Províncial da UNITA no Huambo em substituição de Jonas dos Santos. CAMUNDA News. 13 de janeiro de 2021.
- ↑ Angola Fala Só: Bilhete de Identidade de Bela Malaquias. VOA Português. 9 de janeiro de 2020.