Genádio de Constantinopla

 Nota: Para o historiador cristão do século V, veja Genádio de Massília.
Genádio de Constantinopla.
Xilogravura das Crônicas de Nurembergue.

Genádio de Constantinopla (em grego: Άγιος Γεννάδιος; em latim: Gennadius) foi o patriarca de Constantinopla entre 458 e 471. Ele parece ter sido um escritor culto e seguia os princípios de exegese literal da escola de Antioquia,[1] embora poucos de suas obras tenha sobrevivido. Ele é celebrado como um santo pela Igreja Ortodoxa em 17 de novembro, mas não está listado no martirológio romano.[2]

Sua primeira obra foi citada por Facundo (Defensio II, iv) e era contra Cirilo de Alexandria, em dois volumes, provavelmente em 431 ou 432, incluindo uma passagem para mostrar que a obra de Cirilo era ainda mais perigosa que a carta de Ibas de Edessa (veja controvérsia dos três capítulos). Os "Anátemas" de Cirilo e os dois livros para Partênio foram criticados. Neste último, ele chegou a exclamar "Quantas vezes eu ouvi blasfêmias de Cirilo do Egito? Maldito seja o flagelo de Alexandria!".[1] Em 433, Genádio provavelmente se reconciliou com Cirilo,[3] pois se considerarmos que a epístola de Cirilo de 434 (Ep. lvi) era para este mesmo Genádio, eles já eram amigos quando foi escrita. Genádio era um presbítero em Constantinopla quando ele sucedeu a Anatólio em 458.[1] Porém, sua discrição seria logo testada.[3]

Timóteo Eluro, o monofisista que se fez Patriarca de Alexandria e que seria depois expulso de Alexandria por ordem do imperador romano, tinha obtido permissão para vir à Constantinopla - sob o falso pretexto de ecumenismo - com o objetivo real de se restabelecer no trono.[3] Em 17 de junho de 460, o Papa Leão I avisou Genádio (em sua Ep. clxx) contra Eluro[1] e pediu que ele fizesse o possível para evitar a viagem de Timóteo e que ele assegurasse uma consagração imediata de um prelado para Alexandria.[3] Tudo ocorreu como o Papa desejava: Eluro foi banido para Quersoneso e Timóteo Salofaciol foi escolhido para a sé de Alexandria em seu lugar.[3]

Dois eremitas egípcios contaram uma história para João Mosco, que também foi relatada por Teodoro, o Leitor. A igreja de Santo Eleutério em Constantinopla era servida por um leitor chamado Carísio, que levava uma vida desregrada, o que levou Genádio a repreendê-lo, em vão. De acordo com as regras da igreja, o Patriarca fez com que ele fosse flagelado, o que também não surtiu efeito. Ele então enviou um de seus oficiais para a igreja de Santo Eleutério para implorar ao santo mártir que ou corrigisse os modos de Carísio ou que o levasse deste mundo. No dia seguinte, o leitor foi encontrado morto, aterrorizando a cidade toda. Teodoro também relata como um pintor, que presumia estar pintando Jesus sob a forma de Júpiter teve a sua mão incapacitada e, posteriormente, curada por intermédio de Genádio.[3]

Nesta mesma época, Daniel, o Estilita começou a viver em sua coluna em Faros, perto de Constantinopla, aparentemente sem a permissão do Patriarca e, certamente, sem a permissão de Gelásio, o proprietário do local onde seu pilar estava localizado, que resistia fortemente a esta estranha invasão de sua propriedade. O imperador bizantino Leão I, o Trácio protegeu o asceta e, algum tempo depois, enviou Genádio para ordená-lo padre, o que, conta-se, ele fez ao pé da coluna do santo, pois ele se recusou tanto a ser ordenado quanto a deixar que o bispo subisse a escada para chegar até ele. Ao final do ritual, porém, o Patriarca subiu para dar-lhe a Comunhão e para recebê-la dele. Se ele neste momento impôs suas mãos nele, não é dito. Possivelmente ele considerou suficiente estendê-las de sua posição abaixo do santo, ao pé da coluna.[1]

De acordo com Teodoro, o Leitor, Genádio não permitia que ninguém se tornasse um clérigo se não tivesse aprendido de cor o saltério.[1]

A compra e venda de ordens sagradas era um dos escândalos da época. Medidas já tinha sido tomadas contra a simonia pelo concílio de Calcedônia (451). Parece que não muito depois de 459, Genádio celebrou um grande concílio com oitenta e um bispos, muitos dos quais eram do oriente e mesmo do Egito, incluindo os que foram derrubados de suas sés por Timóteo Eluro. A carta deste concílio contra a simonia chegou até nossos dias (J. D. Mansi, VII, 912). Uma encíclica também foi proclamada, acrescentando o anátema à pena já estabelecida para este pecado.[3]

Genádio morreu em 471 e se destacou como um administrador hábil e vitorioso, merecedor dos elogios dos historiadores posteriores.[3]

Obras bíblicas

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João Mosco disse que Genádio era muito calmo e de grande pureza. Genádio de Marselha disse que o Patriarca era tão versado em conhecimentos sobre os antigos que ele compôs um comentário sobre todo o livro de Daniel, além de muitos outros livros do Antigo Testamento.[1] A continuação da Crônica de Jerônimo por Conde Marcelino conta que, de acordo com alguns manuscritos, Genádio também teria feito comentários sobre todas as epístolas paulinas.[1]

Destas obras, uns poucos fragmentos restaram. Os principais incluem o Gênesis, Êxodo, Salmos, Romanos, I Coríntios, 2 Coríntios, Gálatas e Hebreus. Todas são excelentes exemplos da exegese do século V.[4]

Genádio I de Constantinopla
(458 - 471)
Precedido por:

Patriarcas ecumênicos de Constantinopla

Sucedido por:
Anatólio 46.º Acácio

Referências

  1. a b c d e f g h "St. Gennadius I" na edição de 1913 da Enciclopédia Católica (em inglês). Em domínio público.
  2. Martyrologium Romanum. [S.l.]: Libreria Editrice Vaticana. 2001. ISBN 88-209-7210-7 
  3. a b c d e f g h Este artigo incorpora texto do verbete Gennadius (10), bp. of Constantinople no "Dicionário de Biografias Cristãs e Literatura do final do século VI, com o relato das principais seitas e heresias" (em inglês) por Henry Wace (1911), uma publicação agora em domínio público.
  4. Wace cita a Patr. Gk. lxxxv. p. 1611 etc.; Bolland. AA. SS. Aug. 25, p. 148; Ceillier, x. 343.

ligações externas

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