Hermes

 Nota: Para outros significados, veja Hermes (desambiguação).
Hermes

Hermes Logios, Atribuído a Fídias. Cópia romana, século I. Museu Nacional Romano, Roma
Nome nativo Ἑρμής
Morada Monte Olimpo
Símbolo caduceu
Pais Zeus e Maia
Irmão(s) Ártemis, Afrodite, Musa, Cárites, Ares, Apolo, Dioniso, Hebe, Atena, Héracles, Helena, Hefesto, Minos
Filho(s) , Hermafrodito, Abdero, Autólico, Eudoros, Angelia, Mírtilo
Romano equivalente Mercúrio

Hermes (em grego: Ἑρμής, transl.: Hermés) era, na mitologia grega, um dos deuses olímpicos, filho de Zeus e de Maia, e possuidor de vários atributos. Divindade muito antiga, já era cultuado na história pré-Grécia antiga possivelmente como um deus da fertilidade, dos rebanhos, da magia, da divinação, das estradas e viagens, entre outros atributos. Ao longo dos séculos seu mito foi extensamente ampliado, tornando-se o mensageiro dos deuses e patrono da ginástica, dos ladrões, dos diplomatas, dos comerciantes, da astronomia, da eloquência e de algumas formas de iniciação, além de ser o guia das almas dos mortos para o reino de Hades, apenas para citarem-se algumas de suas funções mais conhecidas. Com o domínio da Grécia por Roma, Hermes foi assimilado ao deus Mercúrio, e através da influência egípcia, sofreu um sincretismo também com Tot, surgindo o personagem de Hermes Trismegisto. Ambas as assimilações tiveram grande importância, criando rica tradição e perpetuando sua imagem através dos séculos até à contemporaneidade, exercendo significativa influência sobre a cultura do ocidente e de certas áreas orientais em torno do Mediterrâneo, chegando até à Pérsia e à Arábia.

As primeiras descrições literárias sobre Hermes datam do período arcaico da Grécia, e mostram-no nascendo na Arcádia. Já no primeiro dia de vida realizou várias proezas e exibiu vários poderes: furtou cinquenta vacas de seu irmão Apolo, inventou o fogo, os sacrifícios, sandálias mágicas e a lira. No dia seguinte, perdoado pelo furto das vacas, foi investido de poderes adicionais por Apolo e por seu pai Zeus, e por sua vez concedeu a Apolo a arte de uma nova música, sendo admitido no Olimpo como um dos grandes deuses. Mais tarde inúmeros outros escritores ampliaram e ornamentaram sua história original, tornando-o até um demiurgo, e surgiram múltiplas versões dela, não raro divergentes em vários detalhes, preservando-se porém suas linhas mais características. Foi um dos deuses mais populares da Antiguidade clássica, teve muitos amores e gerou prole numerosa. Com o advento do Cristianismo, chegou a ser comparado a Cristo em sua função de intérprete da vontade do Logos. As figuras de Hermes e de seu principal distintivo, o caduceu, ainda hoje são conhecidas e usadas por seu valor simbólico, e vários autores o consideram a imagem tutelar da cultura ocidental contemporânea.

Hermes aparentemente foi citado pela primeira vez em tabuletas escritas em Linear B pela civilização Micênica, datadas em mais de mil anos antes de Cristo, mas a identificação do nome não é clara, e sua etimologia é de toda forma controversa. Para alguns ela é simplesmente desconhecida, ou não tem origem grega. Pode ter derivado de hermeneus, que significa intérprete.[1][2][3] Platão, dando voz a Sócrates, tentou estabelecer uma origem do nome, dizendo que Hermes estava ligado ao discurso, à interpretação e à transmissão de mensagens, todas atividades ligadas ao poder da fala (eirein), e segundo supunha no curso do tempo eirein havia sido embelezada e transformada em Hermes.[4] A ideia mais corrente é que tenha derivado de herma, um altar ou marco de estrada que lhe era dedicado desde tempos remotos. Guthrie e Nilsson acreditam que significa "aquele do monte de pedras", a forma primitiva das hermas, mas esta origem também é disputada.[5][2]

Hermes Crióforo (o que leva o cordeiro), cópia tardo-romana de original grego do século V a.C.. Museu Barracco, Roma

As origens do mito de Hermes são incertas, e as opiniões variam entre considerá-lo um deus autóctone, cultuado desde o Neolítico, ou como uma importação asiática, talvez através de Chipre ou da Cilícia bem antes do início dos registros escritos na Grécia. O que parece certo é que seu culto estava estabelecido na Grécia desde uma época bastante remota, provavelmente fazendo dele um deus da natureza, dos agricultores e dos pastores. É possível também que tenha sido desde o início uma divindade com atributos xamânicos, ligados à divinação, à expiação, à magia, aos sacrifícios, à iniciação e ao contato com outros planos de existência, num papel de mediador entre os mundos visível e invisível.[6] Seja como for, tornou-se um dos deuses mais presentes em toda a mitologia grega, e dificilmente algum dos mitos principais não conta com a sua participação, assumindo uma grande quantidade de epítetos, formas e atributos. Entre as funções mais comumente ligadas a ele na literatura grega estão as de ser o mensageiro dos deuses, e o deus das habilidades da linguagem, do discurso eloquente e persuasivo, das metáforas, da prudência e da circunspecção, também das intrigas e razões veladas, da fraude e do perjúrio, da sagacidade e da ambiguidade, por isso era patrono dos oradores, dos arautos, dos embaixadores e diplomatas, dos mensageiros e dos ladrões. Como inventor, diz-se que havia inventado o fogo, a lira, a sírinx, o alfabeto, os números, a astronomia, uma forma especial de música, as artes da luta, da ginástica e do cultivo da oliveira; as medidas, os pesos e várias outras coisas. Pela sua constante mobilidade e outras qualidades intelectuais e relacionais, foi considerado o deus do comércio e do intercâmbio social, da riqueza advinda dos negócios, especialmente do enriquecimento súbito ou inesperado, das viagens, das estradas e encruzilhadas, das fronteiras e das condições limítrofes ou transitórias, da mudanças, dos umbrais, dos acordos e contratos, da amizade, da hospitalidade, do intercurso sexual; era o deus do jogo de dados, dos sorteios, da boa sorte; dos sacrifícios e dos animais sacrificiais, dos rebanhos e pastores, da fertilidade da terra e do gado. Seu ministério a Zeus não se resumia à condição de mensageiro, mas fora incumbido ainda de conduzir a sua carruagem e servir a sua taça, por isso era o deus dos banquetes. Também era quem levava as almas dos mortos para o Hades, e quem dirigia os sonhos enviados aos mortais por Zeus.[7][8][9] Em aspectos limitados, era também um deus da medicina, associado a Higeia e capaz de restaurar a virilidade, afastar pragas, ajudar o parto e curar com certas plantas.[10]

Fontes gregas

[editar | editar código-fonte]

As primeiras descrições do mito de Hermes datam do período arcaico da cultura grega. Uma das mais importantes consta no Hino Homérico a Hermes, uma criação anônima dos séculos VII ou VI a.C. que trata de seu nascimento e primeiras proezas. O Hino abre com uma saudação ao deus, chamando-o de Senhor do Monte Cilene e da Arcádia, dos rebanhos de ovelhas, e mensageiro dos deuses. Também o nomeia como filho de Zeus, fruto de seu amor adulterino com Maia, uma ninfa filha de Atlas e Pleione, a mais velha, sábia e bela de sete irmãs, as Plêiades. Vivendo em uma caverna, escondida dos olhares humanos e principalmente do notório e tempestuoso ciúme de Hera, esposa de Zeus, Maia deu à luz "esta engenhosa criança, este hábil planejador de artifícios, o perseguidor e capturador de gado, o pastor dos sonhos, este cidadão da noite que espreita nos umbrais". Não demorou para mostrar sua origem divina: nascido pela manhã, já ao meio-dia estava tocando a lira, e à tardinha furtou o gado de Apolo.[11]

Nicóxeno: Hermes e sua mãe Maia, detalhe de ânfora ática. c. 500 a.C. Coleções Estatais de Antiguidades, Munique

Ao sair da caverna, deparou-se com uma tartaruga, e disse que ela lhe anunciava uma boa sorte. Ao mesmo tempo conferiu-lhe dons: enquanto vivessem as tartarugas seriam uma proteção contra o mau-olhado, e ao morrerem aprenderiam a cantar belas canções. Tomou-a então e a levou para dentro, matou-a e usou seu casco para fazer o corpo da primeira lira. Com tripas de ovelha fez sete cordas, que afinou em harmonia. Logo, com o instrumento que inventara, acompanhou seu próprio canto, elevado em honra a seus pais. Sentindo fome, saiu para espiar os arredores, já imaginando astúcias. O sol já se punha, e Hermes se dirigiu para as montanhas de Piera, onde pastava o gado divino. Do rebanho ele tirou cinquenta vacas, e as conduziu, tangendo-as com um bastão, por caminhos labirínticos para evitar ser seguido através dos rastros. Também fez com que andassem de marcha-a-ré, com o mesmo objetivo, e para si confeccionou um par de sandálias mágicas com folhas de tamareira e mirtilo, para que pudesse deslizar pelo caminho e prosseguir com rapidez, sem deixar pegadas reconhecíveis. Um velho vinhateiro o viu, mas foi avisado para nada relatar a ninguém. Enquanto ia com o gado em direção à sua caverna, deteve-se junto ao rio Alfeu, alimentou a manada e deu-lhe de beber. Ao mesmo tempo inventou o fogo, friccionando folhas de loureiro com uma acha de lenha. Assim fez uma fogueira e assou duas reses, deleitando-se com o aroma. Dividiu a carne e a gordura em doze porções e as colocou em um lugar alto, como um monumento à sua façanha. Quanto ao resto dos despojos, queimou-os no fogo, jogou suas sandálias no rio, apagou a fogueira, escondeu as outras reses em Pilos e eliminou todos os traços de suas ações. Então voltou para a gruta, passou pelo portão através do buraco da fechadura sob a forma de fumaça ou névoa, e deitou no berço como se nada acontecera. Mas sua mãe a tudo observara, e repreendeu-o, dizendo que ao concebê-lo Zeus havia criado um bom problema tanto para os deuses como para os homens. Hermes entretanto replicou vigorosamente, afirmando sem temor sua origem divina e reivindicando um tratamento igual ao que recebia seu meio-irmão Apolo. Se Zeus o negasse, ele então se transformaria num príncipe dos ladrões. Se Apolo o perseguisse, destruiria seu santuário e tomaria seu ouro.[11]

Amásis: Hermes diante de Zeus, junto com outro jovem possivelmente Ganimedes. Detalhe de um lécito de Gela. c. 575–525 a.C. Museu Arqueológico Regional de Palermo

Chegando Apolo junto de seu rebanho, deu conta da falta das cinquenta vacas e iniciou sua busca. Encontrou o vinhateiro, que embora não tenha acusado Hermes do furto, deu algumas pistas vagas. Uma ave voou como num augúrio, e Apolo de imediato suspeitou de Hermes, mas ficou perplexo ao ver os rastros confusos que a manada deixara, e as estranhas marcas das sandálias de Hermes. Assim partiu direto para a cova onde Hermes nascera, e o encontrou fingindo dormir, em seu berço. Perscrutou o lugar com sua luz mas não encontrou o gado, e exigiu do bebê que revelasse onde o escondera, sob severas ameaças. Hermes negou qualquer conhecimento do caso, e alegando sua pouca idade, disse que jamais poderia ter sido o autor do furto. Mas Apolo não se deixou iludir, e entre aborrecido e divertido, chamando-o de enganador e ardiloso, previu que em muitas noites Hermes penetraria nas casas dos homens e silenciosamente os privaria de seus bens, e tomaria o gado dos pobres pastores. Assim ganharia fama como Mestre dos Ladrões. Tomou a criança em seus braços e a levou para o tribunal de Zeus, para que a disputa fosse resolvida. Mesmo diante do pai o menino negou as acusações, e Zeus, rindo, ordenou que ele revelasse o esconderijo do gado.[11]

Obediente, Hermes cumpriu o mandado, mas vendo Apolo que a criança pudera matar duas reses ainda tão pequena, temeu sua futura força, e tentou impedir que ele crescesse atando-o com grossas ramagens de salgueiro, mas o menino as rompeu, caíram longe, e ao tocar o chão imediatamente cresceram tanto que cobriram todo o gado, surpreendendo Apolo. Então Hermes tomou da lira e começou a cantar toda a teogonia, celebrando Mnemosina, deusa da memória, acima de todos os deuses. Encantado, Apolo disse que sua canção valia bem cinquenta vacas, parecia superior a tudo que ele mesmo, como deus da música, conhecia, e que a disputa poderia encerrar em paz. E jurou fazer do irmão um líder entre os imortais, prometendo conceder-lhe muitos dons. Hermes, louvando o irmão, disse que por sua vez lhe dava a ciência desse novo canto e da execução à lira, recomendando que os praticasse com dignidade. Entregou-lhe a lira, e disse que passaria a cuidar dos rebanhos. Apolo então lhe deu seu próprio bastão e o ordenou como pastor divino. Então levaram as reses de volta à sua origem e subiram ao Olimpo. Para si Hermes fez outro instrumento, a sírinx, uma espécie de flauta. Mas Apolo, temendo que no futuro Hermes voltasse a enganá-lo, pediu que o irmão fizesse um juramento solene de jamais armar novos estratagemas contra ele ou suas posses, no que Hermes consentiu. Feita a paz entre ambos, do céu Zeus mandou sua águia em sinal de aprovação, selando sua aliança. Satisfeito, Apolo prometeu novos benefícios: o faria rico, honrado e famoso, hábil em tudo o que empreendesse que fosse bom, tanto na palavra como nos atos, e capaz de levar tudo a termo, mas não pôde compartilhar com ele os dons da profecia e do conhecimento da vontade de Zeus, que só Apolo possuía, impedido que estava pelo pai de fazê-lo. Em compensação, deu a Hermes três virgens aladas, que ensinavam a divinação e diziam a verdade quando alimentadas com mel. Também tinham o poder de levar as coisas ao seu termo. Se Hermes decidisse, depois de aprendê-la, poderia ensinar tal arte a alguns homens de sua escolha. Zeus confirmou os dons de Apolo sobre Hermes, e acrescentou outros: atribui-lhe o comando das aves divinatórias, dos leões, dos ursos, dos cães e de todos os rebanhos da Terra, além de fazê-lo mensageiro junto a Hades, função de grande prestígio.[11]

Eufrônio: Hermes vela o corpo de Sarpedão, carregado por Hipnos e Tânatos. O seu caduceu aparece na forma primitiva, detalhe da Cratera de Eufrônio, vaso de c. 515 a.C. Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque

Outras fontes arcaicas acrescentaram episódios à sua história. Homero e Hesíodo o retrataram muitas vezes como autor de atos habilidosos ou enganosos, e também como um benfeitor dos mortais. Na Ilíada foi chamado de "o portador da boa sorte", "guia e guardião" e "excelente em todas as artimanhas", foi um dos aliados divinos dos gregos contra os troianos, apareceu tirando Ares do vaso de bronze onde havia sido preso por Oto e Efialtes, favoreceu Forbas com riquezas. Protegeu Príamo e usando seus poderes mágicos o levou invisível por entre os gregos até Aquiles para recuperar o corpo de seu filho Heitor, ensinando ainda como sensibilizar o inimigo. Quando Príamo o conseguiu, levou-os de volta para Troia da mesma forma.[12] Na Odisseia ele ajudou ao protagonista, Odisseu, informando-o sobre o triste destino de seus companheiros, transformados em animais pelo poder de Circe, e instruiu-o a se proteger dos seus feitiços mascando uma erva mágica e como agir diante dela; transmitiu a Calipso a ordem de Zeus para que ela libertasse o mesmo herói de sua ilha, para prosseguir sua viagem de volta a casa, e depois que Odisseu matou os pretendentes de sua esposa, Hermes reuniu suas almas e as levou para o Hades.[13] Em Os Trabalhos e os Dias, quando Zeus ordenou a Hefesto que criasse Pandora para desgraçar a humanidade, punindo o ato de Prometeu de dar o fogo aos homens, cada deus lhe concedeu um dom, e o de Hermes foi as mentiras e palavras sedutoras, e um caráter dúbio. Depois foi encarregado de levá-la como esposa para Epimeteu.[14]

Hermes amarrando sua sandália, cópia romana de original do fim do século IV a.C., talvez de Lísipo

Os autores clássicos documentaram a amplitude do mito deixando relatos de outros episódios. Ésquilo mostrou Hermes a ajudar Orestes a matar Clitemnestra sob uma identidade falsa e outros estratagemas,[15] e disse também que ele era o deus das buscas, e daqueles que procuram coisas perdidas ou roubadas.[16] Sófocles fez Odisseu invocá-lo quando precisou convencer Filocteto a entrar na Guerra de Troia do lado dos gregos, e Eurípides o fez aparecer para ajudar Dolon na espionagem da armada grega.[15] Esopo, que pretensamente havia recebido o seu dom literário de Hermes, o colocou em várias de suas fábulas, como regente do portão dos sonhos proféticos, como deus dos atletas, das raízes comestíveis, da hospitalidade; também disse que Hermes havia atribuído a cada pessoa o seu quinhão de inteligência.[17][18] Píndaro e Aristófanes documentam também a sua recente associação com a ginástica, que não existia no tempo de Homero,[19] Aristóteles sistematizou o conceito da hermenêutica, a ciência da interpretação, da tradução e da exegese, a partir dos atributos de Hermes.[20] e Eudoxo de Cnido, um matemático, chamou de Hermes o planeta hoje conhecido como Mercúrio, mudança ocorrida graças à influência romana posterior.[21]

Hermes helenista

[editar | editar código-fonte]

Vários outros escritores do período helenista citaram Hermes e ampliaram o rol de seus feitos. Calímaco disse que ele se disfarçou como um ciclope para assustar as Oceânides desobedientes à sua mãe, e que ele era o deus do aprendizado fácil.[22] Filóstrato o chamou de deus da sabedoria, da filosofia e das recompensas.[23] Um dos Hinos Órficos é dedicado ao Hermes Khthonios, indicando que ele também era um deus do mundo subterrâneo. Ésquilo o chamara por este epíteto várias vezes.[24] Outro é o Hino Órfico a Hermes, onde sua associação com os jogos atléticos é celebrada em tom místico.[25] Flégon de Trales disse que ele era invocado para afastar fantasmas,[26] e o Pseudo-Apolodoro relatou vários eventos: participou na Gigantomaquia em defesa do Olimpo; colocou Hércules à venda como escravo para que este expiasse a morte de Iphitos; recebeu a incumbência de levar Dionísio bebê para ser cuidado por Ino e Athamas, e depois pelas ninfas da Ásia; acompanhou Hera, Atena e Afrodite num concurso de beleza; favoreceu o jovem Hércules dando-lhe uma espada quando ele terminou sua educação, e emprestou suas sandálias a Perseu para que ele matasse a Górgona com mais facilidade.[27] Os príncipes trácios o identificaram com seu deus Zalmoxis, considerando-o seu ancestral.[28]

Ao longo do Helenismo Hermes adquiriu um status particularmente importante como imagem do Logos e intérprete da vontade divina, e passou de ser um mero caractere expressivo para agir criativamente, assumindo funções de demiurgo, um acréscimo que é atribuído principalmente aos estoicos, gnósticos e neoplatônicos. Aparentemente nesta época se iniciou a fusão de Hermes com o deus egípcio Tot, que veio a florescer na figura de Hermes Trismegisto. Smith disse que a identificação remontava período clássico, e que os neoplatônicos acreditavam que Platão e Pitágoras haviam aprendido dele, mas a datação atualmente aceita da literatura hermética é bem mais tardia.[29][30][31] Seu nome só aparece, de fato, registrado entre os séculos II e III d.C.[32]

O Hermes romano: Mercúrio

[editar | editar código-fonte]
Ver artigo principal: Mercúrio
Estela de Mercúrio, obra galo-romana. Museu Carnavalet, Paris

Quando Roma entrou em contato com a cultura grega, operou um sincretismo de sua antiga divindade Mercúrio com o Hermes grego. Até então apenas um deus do comércio, Mercúrio foi investido de todas as demais características e atributos do deus grego.[33] Entretanto, é possível que o próprio Mercúrio tenha sido uma importação da Grécia, uma vez que anais romanos informam que o culto foi estabelecido entre eles por ordem dos Livros Sibilinos.[34] Escritores romanos deram também sua contribuição própria ao mito de Hermes, acrescentando-lhe várias outras histórias e apresentando versões alternativas de tradições já existentes. Desde aquela época ambos os deuses se tornaram na prática indistinguíveis, embora não sem alguma resistência, como a oferecida pelos feciais, uma classe sacerdotal romana, que jamais reconheceu a identidade entre ambos. A literatura, porém, atesta que a assimilação foi ampla e de duradoura penetração,[33] especialmente do reinado de Augusto em diante.[35] Higino falou de sua associação com a palavra e o alfabeto, acrescentando que ele inventara ou explicara as línguas do mundo para os homens, que havia criado a constelação do Triângulo para compensar o pouco brilho do Carneiro e assinalar sua posição, colocando-a sobre esta última, e criara a constelação da Lebre, para homenagear sua fertilidade. Também disse que o planeta Mercúrio foi-lhe consagrado porque o deus fora o primeiro a estabelecer a sequência dos meses; o chamou ainda de inventor da arte da luta.[36] Estácio e Caio Valério Flaco confirmaram sua ligação com o submundo e com o poder de comandar os espíritos dos mortos;[37] Ovídio, Antonino Liberal e Virgílio repetiram várias histórias do mito grego original, incluindo algumas que ilustram ocasiões em que Hermes exerceu sua ira ou foi o executor da vingança de Zeus, transformando Aglauro em pedra por causa de sua inveja e por ter dificultado seu acesso a Herse, a quem o deus desejava; transformando Agrão em ave porque o insultara; matando Ágrio e Ório por se recusarem a seguir as leis da hospitalidade, jogando a casa de Quelone num rio e a transformando em tartaruga por ter-se recusado a atender ao convite para as bodas de Zeus com Hera.[38] Também neste período o grego Pausânias incluiu em sua Descrição da Grécia uma valiosa relação de vários de seus locais de culto na Grécia, identificando estátuas e narrando derivações de seu mito.[39]

Os romanos, expandindo seus territórios sobre uma vasta região, identificaram várias divindades locais com Mercúrio, aumentando a complexidade do sincretismo em torno do Hermes original e das formas de seu culto. Entre elas, Mitra, um importante deus solar oriundo do oriente, com várias estátuas mercuriais encontradas em mitreus na Lusitânia, Hispânia, Numídia e Germânia, tendo adquirido traços solares; Cissônio, Arvernorix, Eso, Iovantucaro, Moco, Visúcio, Dumiatis, Artaius, Gebrínio, todos deidades menores celtas;[40] mas também com Lugus e Toutatis, deuses pan-celtas largamente venerados, e Odim outro grande deus, este da Germânia.[41][35] Fundindo-o ao deus egípcio Anúbis, formaram Hermanúbis, embora este tivesse uma difusão limitada à região de Alexandria, mas através dele traços de Hélio foram assimilados, nascendo Hélios-Hermanúbis, que foi por sua vez identificado com Serápis.[42]

Hermes Trismegisto

[editar | editar código-fonte]
Ver artigos principais: Hermes Trismegisto e Hermetismo

Outro sincretismo de enorme influência subsequente que se completou durante o período romano foi o da formação do Hermes Trismegisto, ou "Hermes três-vezes-grande". Segundo uma de suas histórias, Hermes havia viajado ao Egito e lhe dado leis e a escrita, e Tot era um deus imensamente popular no Egito, ligado ao tempo, ao destino, à ordem cósmica, à lei, à sabedoria, à cultura e ao conhecimento, à religião e instituições civis, aos rituais, ao oculto e à magia, e era também juiz e guia dos mortos. Havendo vários pontos de contato entre ambos, na assimilação Hermes adquiriu o status de sacerdote, filósofo e governante, e Tot foi também magnificado em seu país com vários atributos do outro. As origens desta fusão são pouco claras, mas parece que se deve em parte ao estabelecimento de colonos gregos no litoral egípcio, e no início da era cristã já havia uma sólida tradição ligada a este personagem, que se tornara conhecido em largas áreas do mundo antigo em virtude de sua doutrina filosófica e religiosa. Fowden disse que Trismegisto pode ser descrito como uma divindade verdadeiramente cosmopolita, e que o resultado da fusão foi algo maior do que suas partes constituintes, um deus que foi colocado entre os principais do panteão romano. Foi produzida muita literatura sobre ele, e alegou-se que ele mesmo deixara escritos doutrinais num conjunto que veio a ser conhecido como Corpus Hermeticum, cujo conteúdo é uma eclética reunião de elementos de religião, filosofia, divinação, teurgia, ritualística, esoterismo, magia, astrologia, ciências, política e alquimia, influenciado por várias correntes de pensamento egípcias, gregas, romanas e cristãs. A complexidade conceitual que o cercou foi tamanha que alguns escritores, como Cícero, chegaram ao ponto de subdividí-lo em vários Hermes diferentes, e pelo menos parte do mundo romano o via como um homem sábio, até divinizado, mas não como um verdadeiro deus. Plotino, Apolônio de Tiana, Lactâncio, Tertuliano e Amiano Marcelino assim o consideravam, e por isso sua filosofia, o chamado Hermetismo, pôde ser aproveitada pelos primeiros cristãos e sobreviver como precursora da fé cristã.[43][44][45]

Recepção do mito nas Idades Média e Moderna

[editar | editar código-fonte]

A tradição de Trismegisto se irradiou para o ocidente e também para o oriente, encontrando ao longo da Idade Média grandes centros de preservação, ainda que seletiva, no Império Bizantino, na Pérsia e Arábia, mas mesmo escritores medievais da Europa ainda o consideravam uma autoridade. Pedro Abelardo, São Boaventura e São Tomás de Aquino o viam como um grande filósofo, e Alberto Magno o citou como uma referência na astrologia.[46][47] Entre os árabes Trismegisto na maior parte das vezes foi associado ao profeta Idris, que no Corão aparece como uma figura exaltada por Alá.[48] Segundo Moore, no final da Idade Média o caráter de Hermes-Mercúrio estava ligado mais fortemente à filosofia de Trismegisto; iconografia da época o representa às vezes como um escriba ou bispo.[49]

Quanto a Hermes-Mercúrio, alguns dos primeiros Padres da Igreja o compararam a Cristo como veículo do Logos, e foi associado a vários outros personagens da tradição judaico-cristã, como Moisés, Metatron, São Paulo, São João Batista e Enoque, estando assim também ele presente na origem da cultura religiosa europeia moderna. Segundo Mircea Eliade ele foi um dos poucos deuses do panteão clássico que não sucumbiram diante da ascensão do Cristianismo.[50][51] Lawson afirmou que parte da simbologia ligada ao arcanjo São Miguel é uma herança de Hermes, lembrando que ággelos, em grego, significa mensageiro, e é a origem da palavra anjo; Hermes era o ággelos áthanáton, o mensageiro dos imortais.[52] Essa associação parece comprovada pela quantidade de capelas francesas dedicadas a São Miguel erguidas sobre antigos templos de Mercúrio, que havia sido largamente sincretizado a deuses celtas correspondentes.[53][54] Exemplos nas ilhas britânicas também foram atestados.[55] Tradições medievais faziam associações semelhantes quando descreviam São Miguel como aquele incumbido de conduzir os mortos para a Luz Eterna, e cemitérios medievais muitas vezes foram consagrados a ele como o protetor dos mortos, remetendo à função de Hermes como psicopompo, o condutor das almas para o reino de Hades.[53][54] Um camafeu pós-antigo foi encontrado com uma imagem de Hermes contendo a inscrição "Miguel".[55] Taylor notou que a imagem de Hermes como guardião dos rebanhos é o protótipo da figura do Cristo como o Bom Pastor, especialmente quando foi figurado como Hermes Crióforo (Kriophoros; o que carrega o cordeiro), e comparou a figura de sua mãe Maia com a da Virgem Maria, que incorpora os mesmos atributos de uma Grande Mãe.[56]

Ilustração do Symbolicarvm qvaestionvm de vniuerso genere, 1574, de Achille Bocchi, com a imagem de Hermes como o intérprete do conhecimento universal
Ilustração do tratado alquímico Viridarium chymicum, 1624, de Daniel Stolz von Stolzenberg, com a figura de Trismegisto e símbolos herméticos
Rafael Sanzio: Hermes leva Psique para o Olimpo, 1517-1518, Villa Farnesina, Roma

O chamado Renascimento floresceu a partir de um olhar para o passado, recuperando tradições gregas, romanas e orientais, e nesse espírito Hermes e Mercúrio, já considerados um mesmo deus, apareceram na cena cultural europeia revigorados, contribuindo para nutrir a principal corrente de pensamento da época, o Humanismo, através de vários aspectos, e inseminando também a iconografia coeva. Nesta altura Trismegisto estava na visão geral humanizado, não sendo considerado um deus, mas um grande filósofo, contemporâneo de Moisés e inspirador de Platão e dos neoplatônicos. Sua filosofia eclética exerceu enorme impacto sobre os humanistas e os ocultistas do Renascimento, que interpretaram essa herança diversificada dentro da óptica cristã.[57][58][59] A iconografia clássica de Hermes-Mercúrio se inseriu numa onda de reapreciação da arte greco-romana, contribuindo para o desenvolvimento de uma nova forma de representação do corpo humano, que, depois de ser desprezado na Idade Média, ressurgia enobrecido e idealizado.[60][61] Descobriu-se na mitologia antiga símbolos velados de elevada sabedoria, as mesmas verdades pregadas pelo Cristianismo, e disso se concebeu a ideia de que todas as religiões são em essência igualmente dignas, e que a forma dos mitos fora criada para proteger a Verdade da profanação vulgar. Os mitos paralelamente serviram como base interpretativa para uma Psicologia incipiente, fornecendo explicações para várias expressões psíquicas e caracterológicas, e processos da natureza e do homem, até então sem qualquer explicação disponível.[61][62] Hermes-Mercúrio foi o modelo do orador perfeito do Renascimento, quando a retórica estava novamente sendo cultivada com grande entusiasmo e influenciava a consolidação de todo um sistema formal e pedagógico que penetrou em vários domínios da arte e da cultura e foi uma das bases da fundação do Academismo.[63][64][65][59] Deve-se também ao progresso da hermenêutica outra parcela da transmissão da memória de Hermes ao mundo moderno, uma disciplina que se dedica à interpretação da tradição literária e cultural, e denominada assim em homenagem ao deus que era o mensageiro dos deuses e intérprete de sua vontade para os mortais.[66] Heller disse que sem Hermes não é possível nenhuma hermenêutica.[67]

Hermes-Mercúrio igualmente se popularizou através da astrologia como regente dos signos de Gêmeos e Virgem, influenciando aspectos relacionais, comunicativos e cognitivos, e através da astrologia e da alquimia - áreas onde Trismegisto foi de particular importância - repercutiu sobre as ciências práticas e a filosofia da ciência até o século XVIII.[62][68][58][69][70] Como exemplos, Copérnico justificou sua teoria heliocêntrica a partir da convicção de Trismegisto de que o sol era um deus visível,[70] e mais tarde Isaac Newton se deteve atentamente na alquimia e escreveu um comentário sobre A Tábua de Esmeralda, parte do Corpus Hermeticum, tentando unir a ciência e a espiritualidade.[71][72] Na alquimia Hermes-Mercúrio desempenhava papel central, e seu símbolo material era o metal Mercúrio, que por suas qualidades ambíguas - o único metal que se mantém líquido à temperatura ambiente - deu origem a uma grande quantidade de novos mitos alquímicos. Era considerado a essência divina no mundo, fixo e volátil, possuindo em si as propriedades da Lua e do Sol, da prata e do ouro, e por isso, era visto como hermafrodita. Cientistas-alquimistas como Newton e Boyle acreditavam que Mercúrio era a base de todos os metais, e que podia ser extraído de todos através de métodos adequados. Era a "água permanente", a água primordial da Criação, sobre a qual o espírito de Deus se movia, o princípio por excelência de todas as transformações, o maior dos solventes, capaz de decompor todos os metais, recebendo o nome de "água da morte", mas também era de onde os metais transmutados nasciam, sendo chamado assim de "água da ressurreição" e "fonte do batismo". Como toda a alquimia era ela mesma um símbolo do processo de purificação espiritual para a conquista da Redenção, Hermes-Mercúrio era o guia das almas, o próprio Salvador que leva o indivíduo da escuridão da ignorância à luz da realização final, estando na origem, nos meios e no fim, e sendo uma imagem da própria pedra filosofal, que transmutava toda a impureza em ouro, a carnalidade em espiritualidade.[73]

Por todos esses motivos, desde então voltou a se multiplicar um abundante imaginário visual e literário sobre Hermes. Entre os pintores célebres que representaram Hermes ou Mercúrio estão Andrea Mantegna, Sandro Botticelli, Bartholomäus Spranger, Claude Lorrain, Dosso Dossi, Giovanni Battista Tiepolo, Antonio da Correggio, Peter Paul Rubens, Hendrick Goltzius, François Boucher, William Turner e Frederic Leighton; entre os escultores, Benvenuto Cellini, Giambologna, Antico, Adriaen de Vries, Antoine Coysevox, Jean-Baptiste Pigalle, François Rude e Augustin Pajou.[74][75][76] Dos poetas que o mencionaram ou lhe dedicaram poemas, contam-se Dante Alighieri, Gérard de Nerval, Rainer Maria Rilke,[77] William Blake,[78] Johann Wolfgang von Goethe,[79] John Keats,[80] e Henry Wadsworth Longfellow, entre muitos outros.[81]

Ligações e descendência

[editar | editar código-fonte]
Hermes perseguindo uma jovem, possivelmente Herse. Detalhe de um lécito anônimo, c. 470 a.C. Museu Arqueológico Nacional da Espanha, Madrid

Hermes teve grande quantidade de amores com deusas, semideusas e mulheres mortais, e gerou numerosa descendência. Entre os imortais, com Afrodite, a deusa do amor, teve Hermafrodito, e algumas versões do mito o dão como pai de Eros, concebido com a mesma mãe;[82] Em algumas histórias ele foi pai ou filho de Príapo.[83] foi fruto dos amores de Hermes com a ninfa Dríope ou, em algumas versões, Penelopeia, uma ninfa, ou Penélope, esposa de Odisseu. Seduziu Brimo ou Hécate às margens do lago Boibes, com Deira gerou Elêusis; relacionou-se com Peito, a deusa da persuasão, tomando-a como esposa; e tentou cortejar Perséfone, mas foi rejeitado. Com Carmenta gerou Evandro, com uma ninfa não identificada gerou Dáfnis; com Ocirroé, Caicos; com várias Oréades, teve filhas ninfas. Entre as mortais, amou Aglauro, princesa da Ática, gerando Cérix; Acale, princesa de Creta, gerando Cídon; Antianira, que lhe deus dois filhos, Écio e Êurito; Apemósine, que foi morta pelo irmão antes de dar à luz; Áptale, sendo o pai de Euresto; Eriteia, princesa da Ibéria, gerando Norax; Creusa ou Herse, princesa da Ática, gerando Céfalo; Ifítime, que lhe deu três filhos sátiros, Ferespondo, Lico e Prônomo; Quione, que deu à luz Autólico; Ctonófile, rainha de Sicião, sendo pai de Polibo; Clítie ou Teóbule, mãe de Mirtilo; Líbia, princesa da Líbia ou de Náuplia, mãe de Líbis; Filodâmia, princesa de Argos, mãe de Fáris; Polímele, mãe de Eudoro, e Trônia, princesa do Egito, que gerou Árabo. Teve também romances com alguns homens, segundo algumas versões de sua história. Foram eles Crocos, a quem matou acidentalmente em um jogo de disco, e a quem depois transformou em uma flor; Anfião, a quem teria concedido o dom do canto e a habilidade à lira, por cuja arte operou prodígios, e Perseu, a quem também manifestou especial proteção.[84] Os romanos lhe deram mais um amor, Larunda, com quem gerou os Lares, importantes deidades domésticas.[85]

Culto e epítetos

[editar | editar código-fonte]

Sua mais antiga sede de culto era o monte Cilene, na Arcádia, onde o mito diz que ele havia nascido. A tradição afirma que seu primeiro templo foi erguido por Licaão, filho de Pelasgo. De lá o culto teria sido levado para Atenas, e dali se irradiado para toda a Grécia, e segundo Smith seus templos e estátuas eram extremamente numerosos.[7] Luciano de Samósata disse que se viam templos de Hermes por toda parte.[86] Depois da assimilação por Roma, multiplicaram-se por toda a área do Império.[7] Em muitos locais seu templo era consagrado em conjunto com Afrodite, como na Ática, Arcádia, Creta, Samos e na Magna Grécia. Vários ex-votos encontrados em seus templos revelavam sua atuação como iniciador de jovens na vida adulta, entre eles soldados e caçadores, uma vez que a guerra e certas formas de caça cerimonial eram consideradas como provas iniciatórias. Esta função do deus explica o motivo de algumas imagens encontradas em templos e outras em vasos o mostrarem como um adolescente, e a partir de iconografia em que ele aparece junto de sátiros, de narrativas literárias e de seu culto combinado ao de Afrodite, fica evidente que entre as iniciações que Hermes patrocinava estava a sexual.[87]

Ruínas do templo de Mercúrio em Puy-de-Dôme, França

Hermes, como patrono da ginástica e da luta, tinha estátuas em todos os ginásios e era adorado também do santuário dos Doze Deuses em Olímpia, onde se celebravam os Jogos Olímpicos, os mais célebres de todos. Seu culto ali era realizado em um altar consagrado conjuntamente a Apolo.[88] Sua festividade especial era a Hermaia, que se celebrava com sacrifícios a Hermes e jogos atléticos e ginásticos, tendo sido estabelecida possivelmente no século VI ou V a.C. Ésquines disse que as leis reguladoras das Hermaias haviam sido estabelecidas por Sólon ou Drácon, mas não há documentação sobre os ginasiarcas antes do século IV a.C. Entretanto, Platão referiu que Sócrates assistiu a uma Hermaia. De todos os festivais gregos envolvendo jogos, as Hermaias eram os que mais se aproximavam do caráter de uma iniciação, até porque a participação neles era restrita a jovens (ageneioi) e meninos (paides), excluindo adultos.[89] A premiação não contemplava apenas a vitória pura e simples, mas várias outras aptidões. Tendo um caráter iniciatório, os vencedores das Hermaias voltavam para suas cidades como heróis e adultos que haviam adquirido honra (timé). A Hermaia de Pelene se tornou particularmente concorrida, atraindo competidores de regiões distantes. Seu prêmio era um manto grosso.[88] Por outro lado, as Hermaias adquiriram uma fama como uma ocasião em que homens adultos procuravam jovens como amantes, o que levou à criação de leis em Atenas, no século IV a.C., contra a presença de adultos nos jogos. Isso se deveu ao uso abusivo de um festival sagrado para fins profanos, e não porque houvesse uma censura ao relacionamento homossexual masculino, pois é sabido que naquela época a sociedade grega, dentro do contexto da paideia, via tal relação como benéfica e útil para a educação do jovem, tendo também uma feição iniciática.[89] Um documento preservou o regulamento das Hermaias celebradas em Bereia, na Macedônia, já na era cristã, e é de interesse sua transcrição parcial:

"O ginasiarca deverá celebrar a Hermaia no mês de Hiperbereteu, deve sacrificar a Hermes e oferecer como prêmio uma arma e três outros para a aptidão física (euexia), boa disciplina (eutaxia) e treinamento diligente (philoponia) para competidores de até trinta anos. O ginasiarca escolherá uma lista de sete homens dentre os presentes, que julgarão o concurso de boa disciplina, deve fazer um sorteio e escolher três que devem jurar por Hermes que julgarão justamente aqueles que estiverem em melhor condição física, sem favoritismo ou hostilidade de qualquer espécie... Os vencedores receberão coroas naquele dia e serão autorizados a prenderem uma faixa à cabeça de quem quiserem. Na Hermaia o ginasiarca também organizará uma corrida de tochas para meninos e jovens. Os sacerdotes devem receber, ao celebrar a Hermaia, de cada um que frequentar o ginásio, não mais que duas dracmas, e devem festejá-los no ginásio, e devem apontar sucessores para a Hermaia futura. Os treinadores também devem sacrificar a Hermes ao mesmo tempo que os sacerdotes, e não devem receber mais de uma dracma de cada menino, e devem dividir entre eles a carne do sacrifício... Os vencedores devem dedicar os prêmios que receberem para o próximo ginasiarca, dentro do prazo de oito meses, senão o ginasiarca imporá uma multa de cem dracmas. O ginasiarca tem o poder de açoitar e multar quem ficar conversando ou não competir justamente nos jogos, e também se alguém ceder a vitória a outro..."[90]
Píton: Hermes levando um bode ao sacrifício. Detalhe de cratera da Campânia, c. 360–350 a.C. Museu do Louvre, Paris
Herma itifálica de Hermes de forma incomum, com a cabeça do deus servindo como base para uma estátua do infante Dionísio. Estoa de Átalo, Atenas

Entre os itens que lhe eram consagrados estavam a palmeira, a tartaruga, o galo, o bode, o número quatro, vários tipos de peixe, e seus sacrifícios envolviam incenso, mel, bolos, porcos, cordeiros e bodes jovens. Por estar ligado à eloquência, as línguas dos animais sacrificados lhe pertenciam.[7][91] No santuário de Hermes Prômaco em Tânagra se cultivava uma planta de medronheiro sob a qual se acreditava que ele tivesse sido criado,[92] e nos montes Feneos corriam três fontes que lhe eram sagradas, pois acreditava-s que ali ele fora banhado ao nascer. Uma estátua de Hermes guardava a entrada do templo de Apolo em Tebas, e havia algumas em Tânagra em que ele aparecia carregando um cordeiro (Crióforo), pois uma lenda dizia que ele afastara a peste da cidade carregando um cordeiro em torno dos muros. Homero disse que as últimas libações de um banquete eram dedicadas a Hermes, e Pausânias, que em seu tempo havia estátuas suas em todos os ginásios, seguindo um costume antigo que estava então sendo copiado pelos bárbaros. Em muitas cidades havia uma estátua na praça do mercado. Uma das formas de culto era oracular, como a estabelecida em Farai. Na praça do mercado da cidade se erguera uma estátua de Hermes Agoreu, diante da qual havia um coração esculpido em pedra, com duas lâmpadas de óleo atadas com faixas de couro. O suplicante deveria queimar incenso sobre o coração, acender as lâmpadas e colocar uma moeda local no lado direito do altar. Então deveria sussurrar ao ouvido da estátua sua questão, e em seguida tapar seus próprios ouvidos e sair do mercado. Quando estivesse fora, abriria os ouvidos, e a primeira palavra ou frase que ouvisse teria um caráter divinatório.[93]

Entre as suas imagens de culto as mais comuns eram as hermas, colocadas em todas as estradas para delimitar fronteiras ou assinalar distâncias, nas entradas das casas, nas divisões de bairros e nas praças do mercado. As hermas eram pilares quadrangulares com apenas a cabeça do deus esculpida no topo; muitas vezes aparecia também um falo, reforçando sua associação com a fertilidade e seu poder contra o mau-olhado e os espíritos malignos, uma vez que o símbolo da virilidade era também considerado protetor, estando ligado à força guerreira. Suas formas mais antigas eram simples montes de pedra, ou um pilar de pedra sem escultura alguma, mas Heródoto afirmou que as hermas itifálicas eram tão antigas quanto os pelasgos, o povo pré-helênico que ensinara os atenienses a esculpi-las.[93][94][95] Pausânias disse que em Eleia a principal imagem de culto de Hermes era um pênis ereto, sobre um pedestal.[96] As hermas também eram comuns nos ginásios, nos estádios e nos hipódromos gregos, além de serem instaladas no Circo Máximo romano.[97] Sua sacralidade era protegida em mistérios que se tornaram parte dos Mistérios da Samotrácia. Era também um dos deuses patronos dos Mistérios de Elêusis, pois era o deus que escoltava Perséfone para o submundo, e a cada primavera a trazia para a superfície.[93]

Suas várias funções e poderes eram descritos pelos seus numerosos epítetos, dos quais alguns são: Acacésio, aquele que não pode ser ferido, ou que não fere; Agetor, líder, condutor ou guia; Agoreu, presidente das assembleias e mercados; Argifontes, matador de Argos; Cataíbates, condutor das almas para o submundo; Ctésio, protetor das propriedades; Eriúnio, Dôtor Eaôn, doador da boa sorte; Númio, Epimélio, protetor dos pastores e pastagens; Prômaco, campeão ou vencedor; Propileu, protetor das entradas, e Pronau, das entradas dos templos; Tricéfalo, guardião das encruzilhadas; Enagônio, regente dos jogos ginásticos; Hermeneuta, o intérprete e tradutor; Diáctoro, guia, ministro, mensageiro; Ágelo, mensageiro divino; Felétes, ladrão, e Arcos Feletéon, rei dos ladrões; Clépsifro, Mecaniota, enganador, maquinador; Polítropo, móvel, veloz, em muitos lugares; Poneômeno, ocupado; Dais Hetairos, companheiro de festejos; Carídota, doador da alegria; Acáceta, gracioso; Cídimo, glorioso; Aglaos, resplandecente, esplêndido; Crato, Crátero, forte, poderoso; Mastério, mestre das buscas; Pompeu, guia; Eriúnio, muito útil.[98] A multiplicidade de aspectos de Hermes, na visão de Walter Otto, não deve ser motivo de confusão. Como disse,

"Na concepção de uma deidade do seu tipo não pode haver propósito em se diferenciar qualidades primitivas e tardias em busca de alguma linha de desenvolvimento para conectar umas com outras. A despeito de sua multiplicidade elas são de fato uma só, e se um traço especial apareceu antes do que outros, ainda permanece o mesmo significado que encontrou uma nova via de expressão. O que quer que se possa pensar de Hermes nos tempos primitivos, um esplendor emanado das profundezas deve ter de imediato deslumbrado os olhos de modo que foi percebido todo um mundo no deus e o deus em todo o mundo".[99]
Ver artigo principal: Caduceu
Hermes com o infante Dionísio, de Praxíteles, uma das mais famosas estátuas do deus. Museu Arqueológico de Olímpia

A imagem de Hermes variou conforme evoluiu a arte e cultura gregas. Em tempos arcaicos ele é usualmente um homem maduro, barbado, com um traje de viajante, arauto, ou pastor. No classicismo e helenismo ele é via de regra figurado nu, com porte atlético, como convém ao deus da palestra e dos ginastas, ou com um manto, fórmula que se fixou predominantemente pelos séculos afora. Quando é representado como Lógio (orador), sua atitude é condizente com o atributo. Uma estátua célebre, hoje conhecida como Hermes Ludovisi ou Hermes Lógio, representada na abertura do artigo, é atribuída a Fídias, e Praxíteles criou outra, também muito afamada, mostrando-o com Dionísio bebê aos braços. Em todas as épocas, porém, atravessando os períodos helenista, romano, e ao longo da história do ocidente até os dias de hoje, vários de seus objetos característicos estão presentes como forma de identificação, mas nem sempre todos aparecem juntos.[100][7]

Entre estes objetos está um chapéu de abas largas, o pétaso, muito usado pelos povos rurais da antiguidade para se proteger do sol, e que em épocas tardias foi adornado com um par de pequenas asas; às vezes o chapéu não está presente, mas pode ter então asas nascendo da cabeleira. Porta um bastão, chamado de rabdos (vara) ou skeptron (cetro), que se refere como sendo uma varinha mágica. Algumas fontes primitivas dizem que este foi o bastão que recebeu de Apolo, mas outras não acusam a procedência. Parece que podem ter sido dois bastões, com o tempo fundidos em um, um deles um cajado de pastor, como consta no Hino Homérico, e outro uma vara mágica, como dizem alguns autores. Seu bastão também passou a ser chamado de kerykeion, o caduceu, em datas tardias. As primeiras representações deste bastão o mostram como uma vara de ouro coroada por uma forma que se assemelhava à do número oito, embora às vezes com seu topo truncado e aberto. Mais tarde o bastão passou a ter duas serpentes entrelaçadas e às vezes era coroado com um par de asas e uma esfera, mas a forma antiga permaneceu em uso mesmo quando Hermes foi associado a Mercúrio pelos romanos.[7][101][102] Higino explicou a presença das serpentes dizendo que certa vez Hermes estava a viajar pela Arcádia quando viu duas serpentes entrelaçadas em luta. Colocou o caduceu entre elas e se separaram, e assim disse que seu bastão trazia a paz.[103] O caduceu, historicamente, não apareceu com Hermes, e é documentado entre os babilônios desde cerca de 3 500 a.C. As duas serpentes enroladas em torno de um bastão eram um símbolo do deus Ninguiszida, que servia como um mediador entre os homens e deusa-mãe Istar ou o supremo, Ninguirsu. Da Babilônia passou à Síria, cujo deus Simios tinha o caduceu como seu símbolo. Na própria Grécia outros deuses podiam portar um caduceu, mas ficou principalmente associado com Hermes. Tinha o poder de fazer as pessoas dormirem ou acordarem, e também fazia a paz entre litigantes, além de ser um sinal visível de sua autoridade, usado como um cetro. Era representado nas entradas das casas possivelmente como um amuleto de boa fortuna, ou como um símbolo purificador. O caduceu não deve ser confundido com o bastão de Asclépio, patrono da medicina e filho de Apolo, que ostenta apenas uma serpente. O bastão de Asclépio foi adotado pela maioria dos médicos ocidentais como um emblema de sua profissão, mas em várias organizações médicas dos Estados Unidos o caduceu assumiu o seu lugar desde o século XVIII, embora este uso esteja em declínio em favor do outro símbolo. Depois do Renascimento o caduceu apareceu também na heráldica em vários brasões, e presentemente é um símbolo do comércio.[7][104] No Brasil o caduceu é um dos símbolos das Ciências Contábeis.[105]

Suas sandálias, chamadas de pédila pelos gregos e talaria pelos romanos, no Hino eram feitas de ramas de mirtilo e tamareira, mas foram descritas como belas, douradas e imortais, feitas com uma arte sublime, capazes de o levarem pelos caminhos com a rapidez do vento. Originalmente não tinham asas, mas nas representações artísticas tardias elas aparecem. Em certas imagens as asas brotam diretamente dos tornozelos. Também pode levar uma bolsa ou um saco em suas mãos, e usar um manto ou capa, que tinha o poder de conferir a invisibilidade. Sua arma era uma espada de ouro, com a qual matou Argos; emprestou-a a Perseu para que matasse Echemon.[7][92]

Leituras do mito

[editar | editar código-fonte]

Alguns estudiosos acreditam que a ligação de Hermes com o furto nasceu como uma derivação de sua imagem como pastor, como mostra o relato do engano que impingiu a seu irmão divino, Apolo, subtraindo-lhe o gado. Isso possivelmente refletia os costumes das tribos de pastores gregos da Idade do Bronze. Como se pode ler em Tucídides, expedições predatórias de gado sobre tribos vizinhas eram comuns naquele tempo, e eram vistas como façanhas dignas de louvor, contando com a participação dos reis e de grande número de pastores e assumindo a forma de uma guerra. A primeira descrição desta história aparece no citado Hino Homérico a Hermes, mas não é claro se o Hino registra a identidade primitiva do deus ou é produto da cultura mais tardia. Em outras evidências literárias, como na Ilíada e na Odisseia, de Homero, e na Teogonia e Os Trabalhos e os Dias, de Hesíodo, mais ou menos da mesma época, o deus é representado como um ladrão, mas não está ligado ao roubo de gado. Seu epíteto costumeiro era "o Enganador", e neste sentido ele é o protótipo do Trickster. Contudo, como o mito de Hermes surgiu na pré-história grega, bem antes de Homero, Hesíodo e do Hino, é possível que lá uma distinção entre engano, roubo e furto não fosse tão nítida como mais tarde se apresentou. Essas primeiras descrições de Hermes como um ladrão fazem uso de uma palavra que deriva de kléptein, que significa literalmente "remover ou agir em segredo" e "enganar", o que não implica necessariamente nem furto e ainda menos roubo, que são violações da propriedade. Hermes apela antes à inteligência e à agilidade, ao engenho e à sutileza, enquanto que as expedições de roubo de gado estavam mais ligadas ao caráter violento dos heróis. De fato, o deus do roubo de gado mais citado na literatura é Hércules, e não Hermes, que permaneceu primariamente associado com o engano, a astúcia e as habilidades sutis.[15]

Relevo mostrando Hermes Agoreu, o patrono da ágora, a praça principal na constituição da pólis e o símbolo da urbanidade

Para Taylor, Hermes foi uma figura central no processo de transformação da sociedade grega de uma cultura nômade matriarcal baseada no banditismo para outra fundamentada em valores masculinos, sedentários e urbanos, operando uma grande mudança na estrutura social, religiosa e na econômica, bem como na compreensão do mundo pelos indivíduos. Foi ele quem orientou a transformação do roubo de gado, da guerra e da vingança em comércio, lei e governo, refinando a sociedade através das artes, das comunicações e das ciências. Representa, pois, o impulso civilizador e o princípio da criatividade.[56][106] Riker acrescentou que Hermes é mais do que um mito socioeconômico, é uma representação de uma das mais profundas capacidades da psique, que começou a ser compreendida no período arcaico: o poder da transformação. Fazendo uma lira de uma tartaruga e de tripas de carneiro e distorcendo os juramentos sagrados, mudou a natureza em cultura, mudou a linguagem divina em linguagem humana, o estranho em familiar, o obscuro em consciência, a convenção em adaptabilidade, o incomunicável em articulação e interpretação, um mundo bruto em um mundo humanizado por significados e valores.[107]

Também ligada a atividades dúbias era sua fama como mestre dos juramentos ambíguos, e também da diplomacia e da negociação, o que fica evidente na leitura do Hino. Quando Apolo suspeita dele como o autor do furto, ele diz que "vai jurar" inocência, mas não jura, apenas a declara. Novamente faz isso diante de Zeus, e mais, diz que é digno de confiança e incapaz de mentir e, distorcendo as palavras, afirma que não levou o gado para sua casa, e nem cruzou o umbral da entrada com ele, ambas afirmativas verdadeiras, pois ele escondera o gado em outra gruta, mas usadas como se provassem que ele não estava envolvido de forma alguma. Ao mesmo tempo, invocado sua pouca idade, vira a acusação contra Apolo, exigindo reparação pelo ultraje da acusação e ameaçando vingança. Mesmo que sua culpa tenha ficado de imediato óbvia para Zeus, ele não desperta a sua ira, antes o diverte por seu engenho. É-lhe ordenado que revele o esconderijo a Apolo, e não explicitamente que devolva o gado, e isso lhe abre a oportunidade de negociar em seu próprio favor. "Facilmente aplacando o filho da gloriosa Leto" (Apolo), Hermes canta, e seu canto maravilha Apolo, que diz que tal arte valia as cinquenta vacas. É de notar que Hermes demonstrou tato suficiente para furtar apenas vacas, e nenhum touro, pois se o fizesse afrontaria a masculinidade do irmão. Em seguida, Apolo lhe solicita outro juramento - o grande juramento em nome das águas do Estige, que nem os deuses podiam violar - de que Hermes jamais o enganaria novamente, mas ele não jura, apenas meneia afirmativamente a cabeça. Tais tipos de juramentos prometidos mas não expressos, ou de interpretação dupla, eram comuns na sociedade grega nas esferas da amizade ritualizada, do comércio e da diplomacia, e também eram juramentos perfeitos para os ladrões, todas atividades de que Hermes era patrono. Também fica patenteada sua capacidade de se esquivar de situações extremas, de se ocultar, dissimular e de não ser facilmente preso, como ele prova mudando de identidade, voando com suas sandálias, fingindo dormir, transformando-se em fumaça e ocultando os rastros do gado, e depois rompendo as amarras que Apolo lhe impõe e obtendo favores através de seu encanto pessoal, manipulação, inventividade e talento para a barganha.[108][11] Outras histórias, nesse sentido, ampliaram seus poderes evasivos dizendo que ele podia assumir qualquer forma que quisesse e dando-lhe um manto que conferia a invisibilidade.[109]

Stanisław Wyspiański: Hermes levando as almas dos mortos para o Hades, 1897. Coleção privada
Admissão de Hermes no Olimpo, ladeado por Poseidon e Atena, detalhe de vaso ático anônimo, c. 550-530 a.C. Museu do Louvre, Paris

Além disso, os enganos que ele opera estão com frequência ligados às artes mágicas, típicas dos tricksters de todas as culturas primitivas, e mesmo quando furtou o gado de Apolo o fez por seus poderes sobrenaturais, exibidos em várias etapas do evento. Em suas outras histórias várias vezes ele é antes de tudo um mágico habilidoso, sendo investido, pela tradição em desenvolvimento, de vários poderes adicionais, como o de prender e soltar, ligar e desligar coisas e pessoas, e de intermediar as ligações e o convívio social. Tornou-se também o deus que impedia as almas dos mortos de saírem de suas tumbas, e permitia que elas o fizessem um único dia no ano, no festival das Antestérias, para que pudessem receber as oferendas dos vivos. A magia estava ainda envolvida nas artes da sedução sexual, sendo comum a realização de encantamentos para a atração da pessoa desejada, e de preces em voz baixa invocando Hermes como o intermediário da ligação. A sedução envolvia o uso da palavra habilidosa e convincente, e Hermes aparece como um dos deuses patronos do amor e do discurso sedutor, comandando as palavras mágicas, os mistérios e os sussurros amorosos. Um de seus epítetos era "o Sussurrante". Outro elemento que o associava à magia era seu caduceu, que tinha o poder de fazer as pessoas dormirem ou acordarem.[101]

O Hino Homérico foi interpretado por Johnston, Fletcher, Haft e outros autores como a narrativa prototípica da função de Hermes como iniciador, por vários motivos. O furto do gado, como já foi citado, era uma atividade ligada historicamente a expedições predatórias revestidas de honra, uma prática que tinha origens antiquíssimas entre os povos indo-europeus. No Hino Hermes rejeita a censura de sua mãe, que o considera ainda um bebê - embora o fosse - e protesta contra o desejo materno de mantê-lo ligado a si, infantilmente, numa caverna, enquanto ele queria ser adorado em pé de igualdade com Apolo e prover pessoalmente o sustento para sua mãe. Quando ele vai com Apolo recuperar as vacas, Apolo diz que ele não precisa crescer mais, e tenta prendê-lo. Entretanto, depois Apolo reconhece o valor do irmão, lhe concede vários dons e autoriza que ele ensine, significando que sua iniciação foi bem-sucedida e que ele mesmo fora tornado por sua vez um iniciador. Por outro lado, Hermes serve como iniciador de Apolo em uma forma desconhecida de música, a qual estava ligada à arte da eloquência. Através disso, Hermes e Apolo manterão uma ligação estreita e compartilharão de várias qualidades comuns, e seu culto conjunto em Olímpia o confirma. Isso remete à tradição de fortes relacionamentos masculinos na sociedade grega, com um homem maduro facilitando o ingresso de um jovem no mundo adulto. Sua canonização definitiva acontece quando depois de todo o processo Hermes é admitido no Olimpo. Outros elementos que tornam o Hino um relato de uma iniciação são os cantos que Hermes entoa: no primeiro ele canta entre outras coisas sua própria origem divina, estabelecendo a justificativa de sua reivindicação ao reconhecimento como um igual aos deuses maiores. No segundo, canta a história da criação do universo e a genealogia dos deuses, louvando suas qualidades, significando que ele reconhece precedências e poderes que devem ser respeitados. Com esses cantos fica percebido que em parte seu sucesso depende de si mesmo e em parte de fatores externos, levando em conta tanto o valor do indivíduo como o do grupo social em que ele deseja se inserir, saindo da esfera doméstica e abandonando um caráter transgressor típico da juventude e ingressando num mundo muito mais vasto e carregado de responsabilidades próprias da maturidade. Toda a história do furto soa ainda como uma simulação de um conflito, e não um conflito verdadeiro, o que era comum em ritos iniciatórios.[110][111]

Gardaphé e Brown fizeram uma associação do mito, baseados na datação do Hino, com a emergência da democracia em Atenas e com o desenvolvimento de um senso de individualismo na sociedade grega em torno do século V a.C. Dizem que sua passagem de um trickster para um deus reflete a rápida alteração na hierarquia social de então, com a formação de uma classe de negociantes burgueses independentes da organização aristocrática e latifundiária que antes prevalecia. Nesta época Hermes se tornou o deus dos sorteios com que se elegiam os servidores públicos, uma prática que segundo Aristóteles era a expressão do princípio da igualdade entre os cidadãos. Brown também sugeriu que a intrusão de Hermes na música, arte onde Apolo era o patrono, significa a pretensão da burguesia à elevação de seu status cultural, passando a circular numa esfera antes dominada pelos aristocratas.[112]

Pintor de Dolon: Hermes pede que Páris seja juiz no concurso de beleza das deusas. Cálice, c. 380 a.C.

Para Zore, Hermes, por seu próprio caráter evasivo, anárquico e dúbio, nos torna cientes das limitações do projeto do Iluminismo, que orientou a cultura do século XIX e parte da do século XX, das ambiguidades da cultura contemporânea, e dos riscos envolvidos em toda a hermenêutica, que podem levar ao niilismo, ao paradoxo, a uma ideia de que "tudo vale", e a distorções na interpretação e aplicação da Justiça. Por outro lado, é o deus que propicia o entendimento e a penetração em zonas confusas e intrincadas da interpretação; por seus dois lados, é um deus que pode guiar e iluminar ou confundir e perder.[113] Samuels, Matthews, Ketola e outros autores expandiram a associação de Hermes com o comércio dizendo que ele é uma figura que simboliza as condições ambíguas da atual economia de mercado globalizada, caracterizada pela diversidade, universalidade, inovação, sistemas positivos de parcerias e também contradição, mentiras, abuso de direitos, ambição, fraude, inveja, imposturas e todos os tipos de subterfúgios e estratégias para enganar e vencer a concorrência, aspectos que repercutem sobre e/ou são influenciados pela política interna e externa das nações e a psicologia coletiva atual, e favorecem a dessacralização da vida humana, entre outros sérios problemas.[114][115][116] Samuels observou que tais dificuldades são inerentes ao sistema econômico e dificilmente poderão ser eliminadas, pois "os problemas oriundos da psicologia do roubo persistem porque a sociedade aprecia o resultado da sutil psicologia da barganha", em áreas que extrapolam o comércio de bens materiais, mas então Hermes torna-se um símbolo da compreensão sintética e da adaptação realista às condições presentes, o primeiro passo para que se possa combater seus aspectos negativos.[117]

Presença na cultura contemporânea

[editar | editar código-fonte]
Cúpula do Capitólio dos Estados Unidos
Imagem de Hermes em vitral no Clube do Comércio, década de 30-40. Porto Alegre
O Handley Page HP 81 Hermes, 1954
Caixas de coleta de correspondência dos Correios gregos com o perfil estilizado de Hermes. Atenas, 2007

Depois do fim do mundo da Antiguidade Hermes reapareceu com força no Renascimento, quando toda a mitologia clássica voltou a ser estudada, mas permaneceu em uma posição secundária, atrás de Apolo, cuja imagem dominou a cultura ocidental até o século XVIII. Segundo Neville e Serres, no século XIX, com o rápido desenvolvimento da ciência, da tecnologia e da indústria, o nume tutelar passou a ser principalmente Prometeu, o titã que criara a humanidade e lhe dera o fogo que roubara dos deuses. Contudo, no século XX, entraram em declínio os valores apolíneos e prometeicos, que enfatizam um modelo patriarcal, imperialista, heróico e misógino, buscando impor estruturas e conceitos supostos como válidos perene e universalmente. Assim, vários autores afirmam que a presente é uma era da pluralidade, da mudança, da negociação, da velocidade, da complexidade, da comunicabilidade e da versatilidade de Hermes. Também uma era de Hermes porque já ficou claro que um domínio mecânico e explorador da natureza já não pode ser sustentado por muito tempo, e Hermes, como o deus que ensinou aos mortais as leis do sacrifício e os instruiu na veneração das potências divinas, se tornou uma imagem do respeito ao mundo natural e ao princípio feminino. Sua figura, mais a de um anti-herói do que de um herói, tem sido recuperada em várias áreas da cultura.[118][119][120][121] Neville afirmou que sua presença é tão grande que toda a cultura contemporânea do ocidente sofre de uma espécie de "inflação hermética", com um excesso de mobilidade, relativismo, perda de valores estáveis, dissolução moral, manipulação da informação na mídia e na política, comodificação da cultura, das artes, da saúde e do conhecimento, opinião compartilhada com Crouse, Samuels e em parte com Barcena.[122][119][121][123][124][116] No entendimento de Taylor, as modificações radicais na sociedade grega patrocinadas por Hermes há milênios são um bom espelho das transformações por que passa a sociedade contemporânea, e que para conseguirmos preservar a sustentabilidade da vida sobre a Terra devemos apelar para os dons criativos de Hermes.[106] Na mesma linha de ideias, Hatch, Kostera & Koźmiński pensam que Zeus, Ares e Hefesto como símbolos de liderança vêm sendo deslocadas em favor de Hermes, Atena e Deméter, com um perfil mais comunicativo, dignificado e rejuvenescedor, sendo capazes de assumir riscos, compartilhar responsabilidades mais facilmente que os outros modelos e evitar o paternalismo ou o autoritarismo.[125]

Está presente até na cultura popular, onde ele é lembrado mais por ser o mensageiro dos deuses e, se bem que sob o nome de Mercúrio, por pertencer ao universo da astrologia, que é difundida através de previsões em almanaques, revistas e jornais de larga circulação. Aparece em agências de correio, em associações comerciais, e seu caduceu consta em brasões de várias cidades e organizações.[126] Empresas, periódicos, produtos e pessoas adotaram seu nome. No Brasil se celebrizaram Hermes da Fonseca, antigo presidente da república, e Hermes Aquino, músico. Internacionalmente é muito prestigiada a griffe Hermès, de artigos de luxo, trazendo um nome de família. Um mártir do Catolicismo se chamou São Hermes,[127] e receberam também o nome do deus uma comuna francesa no departamento de Oise, um personagem da Marvel Comics,[128] dez navios da marinha britânica,[129] uma linha de aviões da Handley Page Aircraft Company,[130] um projeto de mísseis do exército dos Estados Unidos,[131] um projeto de ônibus espacial da Agência Espacial Europeia - embora não tenha sido levado a cabo[132] - e um asteróide.[133] A efígie estilizada de Hermes foi oficializada como o símbolo do serviço postal da Grécia e o país emitiu selos com sua imagem.[134]

Na antropologia, Hermes tem sido de utilidade na compreensão da figura do trickster, presente em várias culturas aborígenes antigas e modernas.[6] Na psicoterapia, desde o trabalho de Carl Jung com os arquétipos, Hermes se tornou uma imagem tutelar do processo de individuação e da cura psíquica, sendo considerado um princípio capaz de interligar e relacionar aspectos discordantes da psique e levá-los a uma integração saudável e funcional. Sua própria associação com atividades usualmente chamadas de indignas, como o furto e o engano, o habilita para penetrar em constelações psíquicas cuja expressão exterior é condenada socialmente, e compreendê-las na perspectiva da individualidade e humanidade do paciente. No mito Hermes muitas vezes é chamado de "o deus mais amigo dos mortais", e para ele "nenhuma estranheza era estranha". Tendo sido chamado de psicagogo ou psiocopompo, condutor ou guia das almas, e pedagogo, guia dos jovens, é um símbolo também do próprio psicoterapeuta, em seu papel de orientador sensível, dinâmico e adaptável do processo de análise e cura, e um protótipo de todos os que ensinam e iniciam.[135][136] Além disso, estudando a psique coletiva numa óptica geográfica, registrou-se que mitos e lendas específicos de cada região frequentemente se manifestam em sonhos da população local, e a conhecida psicanalista junguiana Marie-Louise von Franz assinalou que "jamais havia analisado um italiano, seja homem ou mulher, em quem motivos da Antiguidade clássica não tenham aparecido plenamente vivificados nos seus sonhos", e citou vários exemplos de sonhos envolvendo Hermes, o que reforça a ideia de que além de ser parte apenas de uma tradição, permanece como uma imagem ativa operando em nível inconsciente, aflorando em certas ocasiões ao consciente.[137]

Italo Calvino, que em suas próprias palavras rendia um "tributo especial" a Hermes-Mercúrio, ofereceu Hermes e Hefesto como os dois guias para os escritores modernos, dizendo que o trabalho do escritor deve levar em conta o tempo de Hermes e o tempo de Hefesto, um trazendo uma mensagem de imediatismo, da certeza que apenas a legítima intuição pode conferir, e outro capacitando-o a submeter a ideia intuitiva ao trabalho longo, paciencioso e minucioso necessário para a boa articulação da forma, quando as ideias e sentimentos se sedimentam, amadurecem, libertam-se de toda impaciência e de toda contingência efêmera.[120] Na literatura recente ligada à Nova Era e ao ocultismo seu nome também é comumente invocado. No terreno dos estudos clássicos Hermes continua uma figura de grande interesse para as disciplinas da iconografia, da arqueologia, da história da cultura, da arte, da religião e da sociedade, e várias outras. Desde o século XIX o Corpus Hermeticum em particular vem recebendo nova e intensa atenção dos eruditos, em associação com os avanços dos estudos sobre a Idade Média e o oriente. Alguns textos inéditos têm sido redescobertos a partir desses esforços, iluminado a irradiação do Hermetismo para regiões antes insuspeitadas, como a Pérsia, a Arábia e outras mais, bem como o debate resultante tem apresentado aspectos novos e instigantes sobre conceitos consagrados.[138][139]

Renascimento do culto

[editar | editar código-fonte]
Ver artigos principais: Neopaganismo e Dodecateísmo

Com a ressurgência de cultos neopagãos na sociedade contemporânea, Hermes está sendo novamente cultuado de fato como uma potência divina. Essa tendência começou a aparecer no século XIX, na esteira do movimento romântico, quando os assuntos medievais, os folclores arcaicos e os mitos da Antiguidade receberam nova atenção em toda a Europa como parte de um processo de criação de identidades nacionais. Serviu ainda como uma alternativa para uma visão do mundo materialista, mecanicista e dominada pela ciência, e também para uma religiosidade exclusivamente centrada na tradição judaico-cristã. Seus praticantes sentiam os mitos como parte ativa de suas vidas, e Deus como uma força imanente na natureza, expressa por uma multiplicidade de formas. Através desses aspectos, muitos neopagãos assumiram posições ligadas ao ambientalismo, à contra-cultura, ao feminismo e ao pacifismo, enquanto outros se dirigiram para práticas mágicas e esotéricas, e neste sentido, a influência de Hermes Trismegisto voltou a se fazer muito sensível.[140][141]

Cabeça de Hermes, fragmento de herma, século V a.C. Estoa de Átalo, Atenas

Na Grécia contemporânea existem grupos dedicados ao culto dos antigos deuses olímpicos, entre eles Hermes.[142] Conseguiram reverter legalmente o banimento do paganismo em 2006[143] e conquistaram o seu reconhecimento oficial como religião em 2007.[144] O Supreme Council of Ethnikoi Hellenes, fundado em 1997, é um dos grupos que mais tem atraído a atenção, alegando ter cerca de dois mil seguidores e cem mil simpatizantes, incluindo ramos em vários outros países.[145][146] Seu objetivo declarado é "defender e restaurar o Caminho, Religião e Tradição Étnica e Politeísta Helênica, que foi pesadamente dominada pela Igreja Ortodoxa Cristã e as sombrias sendas (ethos) Bizantinas".[147] Não pretendem um retorno superficial às formas antigas, mas ser regidos por valores humanistas, como foram primeiro expressos por seus antecessores, e trilhar no caminho da virtude, da tolerância, da civilização, dentro do espírito da paideia. Para eles os deuses são seres exaltados, impessoais, imortais, que servem desinteressadamente o universo regulando os processos da natureza, mas os consideram partes integrantes e inseparáveis de um todo que inclui o homem e natureza. Usam imagens de culto de forma antropomórfica porque acreditam que a sutil teologia compreendida nos mitos pode ser melhor apreciada através de sua tradução em conceitos e imagens mais facilmente acessíveis à compreensão humana. O ritual consiste na invocação da deidade, récita de hinos e sacrifícios sem sangue, expressos em ofertas de flores, frutos, incenso, perfumes e libações de vinho, leite e mel.[148] Geralmente o culto se realiza em torno de um altar ao ar livre.[149] O website Temple of Hermes sugere como práticas rituais fazer oferendas de moedas, morangos, libações e incenso; jogar dados ou cartas, e fazer orações.[150]

Entre outros grupos estão a Societas Hellenica Antiquariorum, promovendo o estudo e o fomento da "Ideia Helenística", pretendendo estabelecer a língua grega clássica, proteger sítios históricos e ressuscitar valores ancestrais, além de lutar pela oficialização da religião antiga. Seus princípios gerais são semelhantes aos do Supreme Council,[151] da mesma forma que o grupo Hellenion, este com o cuidado de expurgar da tradição grega a interpolação de interpretações derivadas do Renascimento e do Hermetismo que incluem magia e xamanismo.[152] A Igreja dos Helenos, porém, tem uma posição belicosa e militante contra tudo o que se oponha às seitas helênicas, buscando, como dizem, erradicar, numa "guerra santa", "todas as emoções femininas como amizade, tolerância e amor. O Guerreiro Helênico só tem um pensamento, um alvo: o extermínio impiedoso dos inimigos da religião e cultura helênicas... com uma ética maquiavélica, lógica fria e incansável perseguição do alvo".[153] Enfim, a prática neopagã na Grécia tem sido objeto de muita controvérsia,[145][7][154] recebendo críticas especialmente ácidas de parte da Igreja Ortodoxa, mas o fato de ter conseguido um reconhecimento do Estado indica que se vem tornando um movimento de expressão significativa na sociedade grega.[7][134]

Referências

  1. Silver, Morris. Taking ancient mythology economically. Brill, 1992. pp. 159-160
  2. a b Davies, Anna Morpurgo & Duhoux, Yves. Linear B: a 1984 survey. Peeters Publishers, 1985. p. 136
  3. Bremmer, Jan. Effigies Dei In Ancient Greece: Poseidon. IN Van der Plas, Dirk. Effigies dei: essays on the history of religions. Brill, 1987. p. 35
  4. Plato. Cratylus. London: Harvard University Press, William Heinemann Ltd. 1921. Trad. de Harold N. Fowler. 383b; 400d-408a
  5. López-Pedraza, Rafael. Hermes and His Children. Daimon, 2003. pp. 13-14
  6. a b Carvalho, Silvia M. S. Comentários Antropológicos ao Hino Homérico a Hermes. IV Congresso Nacional de Estudos Clássicos/XII Reunião da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos, s/d.
  7. a b c d e f g h i j Smith, William. Dictionary of Greek and Roman Biography and Mythology. Boston: Little, Brown & Co., 1867. pp. 411-413
  8. Neville, Bernie. Taking Care of Business in the Age of Hermes. Trinity University, 2003. pp. 2-5
  9. Padel, Ruth. In and Out of the Mind: Greek Images of the Tragic Self. Princeton University Press, 1994. pp. 6-9
  10. Metzer, W. Stevens. The caduceus and the Aesculapian Staff: Eastern origins, evolution, and Western Parallels. IN Southern Medical Journal. June 1989, Vol. 82, Issue 6. p. 743
  11. a b c d e Homeric Hymn to Hermes. Tradução de Hugh G. Evelyn-White, 1914. Disponível em About.com
  12. Homer. The Iliad. The Project Gutenberg Etext. Trad. de Samuel Butler, s/d.
  13. Homer. The Odyssey. Plain Label Books, 1990. Trad. Samuel Butler. pp. 40; 81-82; 192-195
  14. Hesiod. Works And Days. ll. 60-68. Trad. de Hugh G. Evelyn-White, 1914
  15. a b c Brown, Norman Oliver. Hermes the thief: the evolution of a myth. Steiner Books, 1990. pp. 3-10
  16. Aeschylus. Suppliant Women, 919. Citado em God of Searchers. The Theoi Project: Greek Mythology
  17. Aesop. Fables 474; 479; 520; 522; 563; 564. Citado em God of Dreams of Omen; God of Contests, Athletics, Gymnasiums, The Games; Hermes Myths 2 The Theoi Project: Greek Mythology
  18. Philostratus. Life of Apollonius of Tyana, 5.15. Citado em God of Animal Fables. The Theoi Project: Greek Mythology
  19. Smith, p. 413
  20. Palmer, Richard. The Relevance of Gadamer's Philosophical Hermeneutics to thirty six topics or Fields of Human Activity. Palestra proferida no Departamento de Filosofia da Southern Illinois University at Carbondale, 1 de abril de 1999
  21. Colligan, L. H. Mercury. Marshall Cavendish, 2009. p.23
  22. Callimachus. Iambi, Frag. 12. Citado em God of Memory and Learning. The Theoi Project: Greek Mythology
  23. Philostratus. Life of Apollonius of Tyana, 5.15. Citado em God of Memory and Learning. The Theoi Project: Greek Mythology
  24. Orphic Hymn 57 to Chthonian Hermes; Aeschylus. Libation Bearers. Citados em Guide of the Dead. The Theoi Project: Greek Mythology
  25. Orphic Hymn 28 to Hermes. Citado em God of Contests, Athletics, Gymnasiums, The Games. The Theoi Project: Greek Mythology
  26. Phlegon of Tralles. Book of Marvels, 2.1. Citado em Guide of the Dead. The Theoi Project: Greek Mythology
  27. Pseudo-Apolodoro, Biblioteca. Citado em Hermes Myths 2; Hermes Myths 3; Hermes Favour. The Theoi Project: Greek Mythology
  28. Herodotus. Histories, 5.7. Citado em Identified with Foreign Gods. The Theoi Project: Greek Mythology
  29. Fowden, Garth. The Egyptian Hermes: a historical approach to the late pagan mind. Cambridge University Press, 1986. p. 24
  30. Fideler, David R. Jesus Christ, sun of God: ancient cosmology and early Christian symbolism. Quest Books, 1993. p. 226
  31. Smith, p. 313
  32. Erik Hornung. The secret lore of Egypt: its impact on the West. Cornell University Press, 2001. p. 48
  33. a b Smith, p. 1046
  34. Viktor, Rydberg. Teutonic Mythology. BiblioBazaar, LLC, 2009. p. 53
  35. a b Bonnefoy, Yves & Doniger, Wendy. Roman and European Mythologies. University of Chicago Press, 1992. pp. 135-137
  36. Hyginus. Astronomica, 2.19; 2.33; 2.42. Fabulae 277. Citado em God of Languages and Writing; God of Contests, Athletics, Gymnasiums, The Games; God of Astronomy and the Calendar. Citado em The Theoi Project: Greek Mythology
  37. Statius. Thebaid, 2.27; Valerius Flaccus. Argonautica, 1.730. Citados em Hermes invoked in Offerings to the Ghosts of the Dead & Necromancy. The Theoi Project: Greek Mythology
  38. Ovídio. Metamorfoses; Virgílio. Eneida; Antonino Liberal. Metamorfoses. Citados em God of Sleep; Hermes Myths 1; Hermes Wrath. The Theoi Project: Greek Mythology
  39. Pausanias. Description of Greece. Citações em Birth of Hermes. The Theoi Project: Greek Mythology
  40. Maier, Bernhard. Dictionary of Celtic religion and culture. Boydell & Brewer, 1997. p. 22; 25; 74; 101; 193; 196
  41. Kondratiev, Alexei. Lugus: the Many-Gifted Lord. IN An Tríbhís Mhór, The IMBAS Journal of Celtic Reconstructionism nº 1, 1997
  42. Hastings, James. Encyclopedia of Religion. Kessinger Publishing, 2003. p. 380
  43. Fowden, pp. 22-28
  44. Linden, Stanton J. The alchemy reader: from Hermes Trismegistus to Isaac Newton. Cambridge University Press, 2003. pp. 27-28
  45. Hornung, p. 53
  46. Van Bladel, Kevin. The Arabic Hermes: From Pagan Sage to Prophet of Science. Oxford University Press US, 2009. pp. 234-236
  47. Hornung, p. 79
  48. El Daly, Okasha. Egyptology: the missing millennium: ancient Egypt in medieval Arabic writings. Routledge Cavendish, 2005. pp. 84-85
  49. Moore, Thomas. The planets within: the astrological psychology of Marsilio Ficino. Steiner Books, 1990. pp. 149-150
  50. Zore, Franci. Hermes and Dike: The Understanding and Goal of Platonic Philosophizing. IN Synthesis Philosophica. Nº 46, feb. 2008. p. 383
  51. Deutsch, Nathaniel. Guardians of the gate: angelic vice regency in late antiquity. Brill, 1999. pp. 165-167
  52. Lawson, John Cuthbert. Modern Greek Folklore and Ancient Greek Religion: A Study in Survivals. Kessinger Publishing, 2003. p. 45
  53. a b Māle, Émile. Religious Art in France of the Thirteenth Century. Courier Dover Publications, 2000. pp. 169; 378
  54. a b Carpenter, J. Studies in the Theology. Kessinger Publishing, 2005. p. 188
  55. a b Didron, M. & Millingston, E. J. Christian Iconography Or the History of Christian Art in the Middle Ages. Kessinger Publishing, 2003. pp. 181-182
  56. a b Taylor, Jeremy. Dream work: techniques for discovering the creative power in dreams. Paulist Press, 1983. p. 190
  57. Van Bladel, pp. 5-7
  58. a b Yates, Frances Amelia. Giordano Bruno and the Hermetic Tradition. Taylor & Francis, 1999. pp. 1-3
  59. a b Huffman, William H. Robert Fludd and the end of the Renaissance. Routledge, 1988. pp. 90-93 ss
  60. Sorabella, Jean. The Nude in the Middle Ages and the Renaissance. In Heilbrunn Timeline of Art History. New York: The Metropolitan Museum of Art, 2000
  61. a b Seznec, Jean. The survival of the pagan gods: the mythological tradition and its place in Renaissance humanism and art. Princeton University Press, 1995. pp. 97-99
  62. a b Chastel, André. The Arts during the Renaissance. IN Chastel, André (ed). The Renaissance: essays in interpretation. Routledge, 1982. pp. 97-99
  63. Smith, Paul & Wilde, Carolyn. A companion to art theory. Wiley-Blackwell, 2002, pp. 111-113
  64. Plett, Heinrich F. Rhetoric and Renaissance culture. Walter de Gruyter, 2004. pp. 1-9
  65. Richards, Jennifer. Rhetoric. Routledge, 2008. pp. 64-75
  66. Krajewski, Bruce. Traveling with Hermes: hermeneutics and rhetoric. University of Massachusetts Press, 1992. pp. 7-8
  67. Heller, Agnes. Omnivorous Modernity. IN Bauman, Zygmunt; Kilminster, Richard & Varcoe, Ian. Culture, modernity and revolution: essays in honour of Zygmunt Bauman. Routledge, 1996. p. 112
  68. Turi, Louis. And God Created the Stars. Startheme Publications, 2001. pp. 239-255
  69. Yates, pp. 150-154
  70. a b Von Stuckrad, Kocku. Astrologia Hermetica: Astrology, Western Culture, and the Academy. IN Hanegraaff, W. & Pijnenburg, J. Hermes in the Academy: ten years' study of western esotericism at the University of Amsterdam. Amsterdam University Press, 2009. pp. 54-55
  71. Emerys, Chevalier. Revelation of the Holy Grail. Lulu, 2007. pp. 122-123
  72. Dobbs, Betty Jo Teeter. The Janus Faces of Genius: The Role of Alchemy in Newton's Thought. Cambridge University Press, 2002. pp. 1-3; 271-274
  73. Haeffner, Mark. Dictionary of Alchemy: From Maria Prophetessa to Isaac Newton. Karnac Books, 2004. pp. 171-176
  74. Paintings of Hermes. Wikimedia Commons
  75. Statues of Hermes. Wikimedia Commons
  76. Mercurius in post-antique art. Wikimedia Commons
  77. Rothenberg, Jerome & Robinson, Jeffrey. Poems for the millennium: the University of California book of modern & postmodern poetry. University of California Press, 2009. pp. 311; 486; 874
  78. Blake, William & Erdman, David V., Bloom, Harold. The complete poetry and prose of William Blake. University of California Press, 2008. p. 685
  79. Von Goethe, Johann Wolfgang. The Poems of Goethe. Wildside Press LLC, 2008. p. 269
  80. Christensen, Allan C. The challenge of Keats: bicentenary essays 1795-1995. Rodopi, 2000. p. 131
  81. Longfellow, Henry Wadsworth & McClatchy, J. D. Poems and other writings. Library of America, 2000. p. 666
  82. Braz, Ana Lúcia Nogueira. Origem e significado do amor na mitologia greco–romana. IN Estudos de Psicologia. Vol. 22, nº 1. Campinas: PUC-Campinas, Jan./Mar. 2005.
  83. López-Pedraza, p. 183
  84. Hermes Loves. The Theoi Project: Greek Mythology
  85. Atchity, Kenneth John. The classical Roman reader: new encounters with Ancient Rome. Oxford University Press US, 1998. p. 405
  86. Lucian of Samosata. The Works of Lucian of Samosata. BiblioBazaar, LLC, 2008. Volume 1, p. 107
  87. Marimatos, Nanno. Striding across Boundaries: Hermes and Aphrodite as gods of initiation. IN Dodd, David Brooks & Faraone, Christopher A. Initiation in ancient Greek rituals and narratives: new critical perspectives. Routledge, 2003. pp. 130-147
  88. a b Johnston, Sarah Iles. Initiation in Myth, Initiation in Practice. IN Dodd, David Brooks & Faraone, Christopher A. Initiation in ancient Greek rituals and narratives: new critical perspectives. Routledge, 2003. pp. 162; 169
  89. a b Scanlon, Thomas Francis. Eros and Greek athletics. Oxford University Press US, 2002. pp. 92-93
  90. Austin, M. The Hellenistic world from Alexander to the Roman conquest: a selection of ancient sources in translation. Cambridge University Press, 2006. p. 137
  91. Turner, Patricia & Coulter, Charles Russell. Dictionary of ancient deities. Oxford University Press US, 2001. p. 214
  92. a b Hermes Estate. The Theoi Project: Greek Mythology
  93. a b c Hermes Cult. The Theoi Project: Greek Mythology
  94. Zema, Katarzyna. The Aegean Origin of the Ancient Aniconic Cult of Aphrodite in Paphos. IN Papantoniou, Giorgos (ed). Proceedings of the Fifth Annual Meeting of Young Researchers on Cypriot Archaeology. Department of Classics, Trinity College, Dublin, 21-22 October 2005. p. 63
  95. Peters, Gerald. The mutilating God: authorship and authority in the narrative of conversion. University of Massachusetts Press, 1994. pp. 74-75
  96. Pausanias, p. 365
  97. Humphrey, John H. Roman circuses: arenas for chariot racing. University of California Press, 1986. p. 135
  98. Hermes Titles. The Theoi Project: Greek Mythology
  99. López-Pedraza, p. 14
  100. Müller, Karl Otfried. Ancient art and its remains: or, A manual of the archæology of art. B. Quaritch, 1852. pp. 483-488
  101. a b Brown, pp. 9-17
  102. Caduceus. Encyclopædia Britannica Online. 15 Mar. 2010
  103. Hyginus. Astronomica, 2.7. Citado em God of Heralds and Bringer of Peace. The Theoi Project: Greek Mythology
  104. Metzer, pp. 743-748
  105. Símbolos do Contabilista. Conselho Federal de Contabilidade
  106. a b Taylor, pp. 194-195
  107. Riker, John H. Human excellence and an ecological conception of the psyche. State University of New York Press, 1991. p. 180
  108. Fletcher, Judith. A Trickster's Oath in the Homeric Hymns to Hermes. IN American Journal of Philology. Vol. 129, N.º 1, Spring 2008. pp. 20-32; 40-41
  109. Anthon, Charles. A classical dictionary containing an account of the principal proper names mentioned in ancient authors ... etc. Harper & Brothers, 1869. p. 826
  110. Johnston, pp. 161-169
  111. Fletcher, pp. 30-33
  112. Gardaphé, Fred L. From wiseguys to wise men: the gangster and Italian American masculinities. CRC Press, 2006. pp. 6-7
  113. Zore, pp. 381-382; 386; 394
  114. Matthews, Robin. The myth of global competition and the nature of work. Journal of Organizational Change Management, 1998. Vol. 11, nº 5. p. 389
  115. Ketola, Tarja. Mercury (= Hermes) Leading the Future of Nordic Business Schools?. IN Nordic Academy of Management Conference. Bergen, 9-11 August 2007.
  116. a b Samuels, Andrew. The political psyche. Routledge, 1993. pp. 88-89
  117. Samuels, pp. 94-95
  118. Neville, pp. 5-7
  119. a b Neville, Bernie (1992). The charm of Hermes: Hillman, Lyotard, and the postmodern condition. Journal of Analytical Psychology, 1992
  120. a b Candido, Celso. O reino alado de Hermes. Universidade do Vale dos Sinos, s/d.
  121. a b Zore, p. 385
  122. Lembert, Alexandra. The heritage of Hermes: alchemy in contemporary British literature. Galda & Wilch, 2004. pp. 9-10
  123. Barcena, Iñaki. ''Hermes versus Gaia? Interferencias medioambientales en la comunicación. IN ZER - Revista de Estudios de Comunicación. Nº 5, noviembre 1998.
  124. Neville, Bernie. Surviving a Postmodern Pathology. IN Futures, 26 (10). December 1994. pp. 1092-1099
  125. Hatch, Mary Jo; Kostera, Monika & Koźmiński, Andrzej K. The three faces of leadership: manager, artist, priest. Wiley-Blackwell, 2005. pp. 80-96
  126. Caduceus in heraldry. Wikimedia Commons
  127. St. Hermes. Catholic Online
  128. Hermes. Marvel Universe
  129. Colledge, J. J. & Warlow, Ben. Ships of the Royal Navy: the complete record of all fighting ships of the Royal Navy. London: Chatham, 1969
  130. H.P.81 Hermes. Handley Page Hermes IV
  131. Missile, Surface-to-Surface, Hermes A-3B. Smithsonian National Air and Space Museum
  132. Hermes. Encyclopedia Astronautica
  133. 69230 Hermes (1937 UB). Small-Body Database Browser. Jet Propulsion Laboratory
  134. a b Makrides, Vasilios. Hellenic temples and Christian churches: a concise history of the religious cultures of Greece from antiquity to the present. New York University Press, 2009. pp. 149-150
  135. López-Pedraza, p. 7-9; 22-23; 215
  136. Zore, pp. 384-385
  137. Adams, Michael Vannoy. The mythological unconscious. Other Press, LLC, 2001. pp. 52-59
  138. Van Bladel, pp. 8-10
  139. Sophistes, Apollonius. Hellenic Neo-Paganism. IN Green Egg. Vol. 28, No. 109, Summer 1995. pp. 8-10. Disponível em Biblioteca Arcana. University of Tennessee
  140. Milton, Kay. Environmentalism: the view from anthropology. Routledge, 1993. pp. 220-224
  141. Magliocco, Sabina. Witching culture: folklore and neo-paganism in America. University of Pennsylvania Press, 2009. pp. 24-27
  142. Alexander, Timothy Jay. Hellenismos Today. Lulu, 2007. p. 23
  143. Smith, Helena. Greek gods prepare for comeback. IN The Guardian. Friday 5 May 2006
  144. Brabant, Malcolm. Ancient Greek gods' new believers. IN BBC News, Athens. Sunday, 21 January 2007
  145. a b Brunwasser, Matthew. Letter From Greece: The Gods Return to Olympus. IN Archaeological Institute of America. Archaeology. Volume 58, Number 1, January/February 2005
  146. Miller, Jon. The Return of the Hellenes Arquivado em 27 de dezembro de 2005, no Wayback Machine.. Homeland Productions
  147. Quem nós somos e o que nós queremos?. Supremo Conselho dos Gentis Helenos
  148. Frequently asked questions about the Ethnic Hellenic religion and tradition. Supreme Council of Ethnikoi Hellenes
  149. About Altars. Supreme Council of Ethnikoi Hellenes
  150. Honoring Hermes Today. Temple of Hermes
  151. Aims Arquivado em 11 de dezembro de 2006, no Wayback Machine.. Societas Hellenica Antiquariorum
  152. Mission Statement Arquivado em 15 de fevereiro de 2015, no Wayback Machine.. Hellenion
  153. Mission Arquivado em 7 de setembro de 2013, no Wayback Machine.. Church of Hellenes
  154. Alexander, pp. 13-16

Ligações externas

[editar | editar código-fonte]
  • Hermes. The Theoi Project: Greek Mythology. Grande website com informação detalhada e diversificada