Idealização e desvalorização

Idealização na teoria psicanalítica, é um mecanismo de defesa que consiste na atribuição de qualidades perfeitas ou quase perfeitas a outras pessoas, como uma forma de evitar a ansiedade ou os sentimentos negativos como desprezo, inveja ou raiva.[1] A desvalorização juntamente com a idealização e a negação, também é um mecanismo de defesa primitivo usado por pacientes com transtornos de personalidade,[2] quando a idealização continua na idade adulta e na meia-idade, é muitas vezes parte de um ciclo no qual é seguida de desvalorização, este ciclo caracteriza muitos transtornos de personalidade - borderline, sociopatia e narcisismo, por exemplo.[3]

O termo idealização apareceu pela primeira vez em conexão com a definição de Freud para narcisismo. A visão de Freud era que todas as crianças passam por uma fase de narcisismo primário em que assumem que são o centro de seu universo. Para obter o amor dos pais, o filho faz o que acha que os pais valorizam. Internalizando esses valores, a criança forma um ego ideal.[4][5] Esse ideal do ego contém regras para o bom comportamento e os padrões de excelência para os quais o ego precisa se esforçar. Quando a criança não pode suportar a ambivalência entre o eu real e o ideal do ego e as defesas são usadas com muita frequência, isso é considerado patológico. Freud chamou essa situação de narcisismo secundário, porque o próprio ego é idealizado. Explicações sobre a idealização de outros, além do eu, são buscadas na teoria da pulsão e na teoria da relação objetal. Do ponto de vista dos impulsos libidinais, a idealização de outras pessoas é um "fluxo" de libido narcísica sobre o objeto; do ponto de vista das relações self-objeto, as representações objetais (como a dos cuidadores) são imaginadas mais bonitas do que realmente eram.[6]

Uma extensão da teoria do narcisismo de Freud surgiu quando Heinz Kohut apresentou as chamadas "transferências de auto-objeto" de idealização e espelhamento . Para Kohut, a idealização na infância é um mecanismo saudável. Se os pais deixam de proporcionar oportunidades apropriadas para a idealização (narcisismo saudável) e espelhamento (como lidar com a realidade), a criança não se desenvolve além de um estágio de desenvolvimento em que se vê como grandioso, mas que ele também permanece dependente de outros para fornecer sua auto-estima.[7][8] Kohut afirmou que, com os pacientes narcisistas, a idealização do self e do terapeuta deve ser permitida durante a terapia e então, muito gradualmente, diminuirá como resultado da frustração ideal inevitável.[9]

Otto Kernberg

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Otto Kernberg forneceu uma extensa discussão sobre a idealização, tanto em seus aspectos defensivos quanto adaptativos. Ele conceitualizou a idealização como envolvendo uma negação de características indesejadas de um objeto, então aprimorando o objeto projetando sua própria libido ou onipotência nele. Ele propôs uma linha de desenvolvimento com uma extremidade do continuum sendo uma forma normal de idealização e a outra, uma forma patológica. No segundo, o indivíduo tem um problema com a constância do objeto e vê os outros como sendo todos bons ou maus, reforçando assim a idealização e a desvalorização. Neste estágio, a idealização está associada à patologia borderline. No outro extremo do continuum, diz-se que a idealização é um precursor necessário para sentimentos de amor maduro.[10][11]

Referências

  1. Glen O. Gabbard (1 de dezembro de 2015). Psiquiatria Psicodinâmica na Prática Clínica - 5ed. [S.l.]: Artmed Editora. p. 44. ISBN 978-85-8271-280-1 
  2. Eugene C. Toy; Debra Klamen (1 de janeiro de 2014). Casos Clínicos em Psiquiatria. [S.l.]: Artmed Editora. p. 330. ISBN 978-85-8055-305-5 
  3. Roberta Satow Ph.D. Idealization and Contempt, 9/2/2017, Psychology Today (em inglês)
  4. Joseph, E.D. (1978). The Ego Ideal of the Psychoanalyst. Int. J. Psycho-Anal., 59:377-385.
  5. Carver, C.S. & Scheier, M.F. (2000). Perspectives on Personality. Needham Heights: Allyn & Bacon.
  6. Spruiell, V. (1979). Freud's Concepts of Idealization. J. Amer. Psychoanal. Assn., 27:777-791
  7. Corbett, L. (1989). Kohut and Jung A Comparison of Theory and Therapy
  8. Newirth, J.W. (1987). Idealization and Interpretation. Contemporary Psychoanalysis 23, 239-243.
  9. Mitchell, S.A., & Black, M.J. (1995). Freud and beyond. New York: Basic Books. (em inglês)
  10. Lerner, P.M., Van-Der Keshet, Y. (1995). A Note on the Assessment of Idealization. Journal of Personality Assessment, 65 (1) 77-90 (em inglês)
  11. Nancy McWilliams (1 de maio de 2014). Diagnóstico Psicanalítico: Entendendo a Estrutura da Personalidade no Processo Clínico - 2.ed. [S.l.]: Artmed Editora. p. 210. ISBN 978-85-65852-98-2