Makara
Makara (em sânscrito: मकर) é uma criatura marítima mitológica hindu, que é geralmente representada como um animal semi-terrestre na parte frontal (veado, crocodilo ou elefante) e aquático na parte traseira (usualmente uma barbatana de peixe ou de foca, embora por vezes tenha uma cauda de pavão ou até um arranjo floral). A sua forma varia bastante conforme as regiões da Ásia. Na astrologia hindu, Makara é equivalente ao signo do Zodíaco de Capricórnio.
As makaras aparecem como o vahana (veículo) da deusa fluvial Ganga (Ganges), do deus do rio Narmada e do deus do mar Varuna. As makaras são consideradas guardiãs dos portões e umbrais, que protegem salas de trono e entradas de templos. São a figura mais recorrente na iconografia de templos hindus e budistas e são também frequentemente usados como gárgulas ou bicas em fontes. Os ornamentos de makaras são um presente popular de casamento dado às noivas; os brincos em forma de makara chamados makarakundalas são por vezes usados por deuses hindus, como por exemplo Xiva, o destruidor, ou o deus preservador Vixnu, o deus do sol Surya e a deusa-mãe Chandi. Makara é também a insígnia do deus do amor Kamadeva, o qual não tem templos a ele dedicado e é também conhecido como Makaradhvaja ("aquele cuja bandeira tem uma makara").[1]
Etimologia
[editar | editar código-fonte]Makara é uma palavra sânscrita que significa "dragão marinho" ou "monstro aquático" e que está na origem do termo hindi para crocodilo (मगर; magar), que por sua vez deu origem ao nome em inglês do crocodilo mais comum na Índia, o (mugger crocodile; crocodilo-persa em português).[2]
Josef Friedrich Kohl, da Universidade de Würzburgo, e vários outros cientistas alemães sugerem que a makara é inspirada no dugongo, baseando-se no texto jainista Sūryaprajñapti.[3][4][5] O golfinho-do-ganges pode também ter contribuído para a imagem da makara. Em tibetano, é chamada chu-srin,[6] o que também indica uma criatura híbrida.[7]
Makaras nos Vedas
[editar | editar código-fonte]Nos Vedas é narrado que quando Indra era o deus do céu, Varuna (o deus da água) tornou-se o deus dos mares e cavalgava uma makara, que se chamava "veículo monstro aquático".[1][8]
Nas suas representações mais típicas, as makaras são seres metade mamífero e metade peixe. Em muitos templos, têm a forma de metade peixe ou foca com cabeça de elefante. Também são representados com forma antropomórfica abstrata, com cabeça e mandíbulas de crocodilo, uma tromba de elefante com escamas de peixe e uma cauda de pavão. Na representação de Lacximi em cima de uma flor de lótus, a deusa puxa a língua duma makara com forma de elefante, projetando a imagem de Lacximi como deusa da prosperidade, riqueza e bem estar,[7][2][9] além de representar o necessário estado de caos antes dum novo estado de ordem emergir.[7]
Iconografia e arquitetura
[editar | editar código-fonte]O arquiteto de templos Ganapati Sthapati descreveu as makaras como um animal mítico com corpo de peixe, tromba de elefante, patas de leão, olhos de macaco, orelhas de porco e cauda de pavão.[2] Outra descrição é que a makara é um antigo símbolo mitológico, uma criatura híbrida formada a partir de vários animais que coletivamente tem a natureza dum crocodilo. A sua mandíbula inferior é de crocodilo, o focinho ou tromba é de elefante, tem presas e orelhas de javali, olhos dardejantes de macaco, escamas e corpo flexível de peixe e penas encaracoladas de pavão.[1] Nas representações mais antigas, em que tem corpo de humano, a cabeça é de crocodilo, ou, mais especificamente, de gavial, devido aos seu focinho longo.[2][10]
Em alguns templos hindus, há makaras que formam um arco acima da entrada. Em algumas escadarias há filas de makaras que formam um corrimão.[2] No Sul da Índia, durante a Idade Média, as makaras eram representadas como o quinto estágio de desenvolvimento, com cabeça e corpo de elefante e uma cauda de peixe elaboradamente lobulada. Muitos mitos mantêm este simbolismo daquele estágio da evolução da vida.[9]
Em templos hindus, as makaras são frequentemente usadas como uma espécie de aparador dum torana ou arco em redor duma divindade. O arco emerge das mandíbulas duma makara e sobre até ao cimo, a kirtimukha ("face da glória"), e desce até às mandíbulas escancaradas doutra makara. Como monstro marinho, é também representado com cabeça e patas de antílope e corpo e cauda de peixe.[11] Há também uma makara feita em ferro cujo corpo é metade veado e metade peixe.[12]
Todos estes elementos são reunidos de várias formas para comporem um dos temas mais recorrentes da iconografia de templos hindus. Na arte indiana, a makara assume formas variadas e de diversos estilos. Figuras de makaras são colocadas em pontos de entrada (toranas) de diversos monumentos budistas, como é o caso da Grande estupa de Sanchi. As makaras são também usadas como guardiãs das entradas de salas de trono.[2]
As makaras do budismo tibetano evoluíram a partir das formas das makaras indianas, mas diferem em alguns aspetos, como tendo patas dianteiras de leão, crinas de cavalo, brânquias de peixe e cornos de veado ou de dragão. A cauda evoluiu dum forma que outrora era uma simples cauda de peixes, or vezes com penas, para um padrão espiralado complexo, conhecido como padrão de cauda de makara (em sânscrito: nome).[1]
No vajrayana tibetano, as makaras aparecem como armas de força e tenacidade. As armas vajrayanas que têm simbolismo makara são o machado, gancho de ferro, faca curvada, vajra e o dragão ritual. Em todas elas, a lâmina sai da boca aberta duma makara.[1]
As cabeças de makara nos cantos dos telhados de templos são um elemento aquático simbólico que também funcionam como bicas de água da chuva ou gárgulas. Também é comum encontrar makaras nas bicas de fontes. Um arranjo arquitetónico comum na arquitetura hindu e budista é o kirtimukha, onde um par de makaras iguais são flanqueadas por duas nagas (deuses-cobra), que são encimados por um Garuda. Os kirtimukha encontram-se em portões ou entradas de madeira, onde constituem a parte superior, e em toranas atrás de imagens de Buda.[1] Na arquitetura neuari do Nepal, esta representação é usada extensivamente.[1]
Nos templos javaneses antigos, é muito comum o uso do conjunto kala-makara como elementos decorativos e simbólicos. No cimo das entradas e portões há uma cabeça gigante de Kala, símbolo do tempo, flanqueada por makaras. Nas paredes que ladeiam escadarias também é usual haver conjuntos kala-makara, com makaras saindo da boca de kalas e formando um corrimão. Este tipo de decorações em escadarias pode ser observado, por exemplo, nos templos de budista de Borobudur e hindu de Prambanan. É frequente que as trombas das makaras tenham representações de joias e que das suas bocas sejam projetadas figuras de ganás anões ou animais como leões ou papagaios.[carece de fontes]
As makaras são também um motivo caraterístico da arquitetura religiosa quemer da região de Angkor (atual Camboja), capital do antigo Império Khmer. É comum o uso de makaras nos relevos decorativos dos lintéis, tímpanos e paredes. As makaras são geralmente representadas com outro animal simbólico, como um leão, uma naga ou serpente, que emerge da sua boca aberta. As makaras são o motivo central dos belos lintéis do grupo de templos Roluos: Preah Ko, Bakong e Lolei. Em Banteay Srei, há relevos de makaras vomitando outros monstros em esquinas de muitos dos edifícios.[13]
Notas e referências
[editar | editar código-fonte]- Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Makara (Hindu mythology)», especificamente desta versão.
- ↑ a b c d e f g Beer, Robert (2003), The handbook of Tibetan Buddhist symbols, ISBN 978-1-932476-03-3, Serindia Publications, Inc., pp. 77–
- ↑ a b c d e f Lenin, Janaki (14 de janeiro de 2011), My Husband and Other Animals - The beast within File:Makara Bedur.jpg, Kasturi & Sons Ltd [ligação inativa]
- ↑ Meulenbeld, Gerrit Jan (1974), The Mādhavanidāna and Its Chief Commentary, Chapters 1-10, Parts 1-10, ISBN 978-90-04-03892-9, Brill Archive, p. 484
- ↑ van der Geer, Alexandra Anna Enrica (2008), Animals in Stone:Indian Mammals Sculptured Through Time, ISBN 978-90-04-16819-0, Brill, p. 64
- ↑ http://www.herenow4u.net/index.php?id=83738
- ↑ Monier-Williams, Monier (2005), A Sanskrit-English dictionary: etymologically and philologically arranged, Motilal Banarsidass Publications, p. 771
- ↑ a b c Brenda Rosen (2009), The Mythical Creatures Bible: The Definitive Guide to Legendary Beings, ISBN 978-1-4027-6536-0, Sterling Publishing Company, Inc., pp. 136–
- ↑ Williams, George Mason (2003), Handbook of Hindu mythology, ISBN 978-1-57607-106-9, ABC-CLIO, pp. 294–
- ↑ a b Archaeology, 23–24, Archaeological Institute of America, 1970, pp. 41–43
- ↑ Murthy, K. Krishna (1985), Mythical animals in Indian art, ISBN 978-0-391-03287-3, Abhinav Publications, pp. 37, 41, 44
- ↑ Wilkins, W. J. (2004), Hindu Mythology, Vedic and Puranic, ISBN 978-0-7661-8881-5, Kessinger Publishing, pp. 36–
- ↑ Wilkins 2004, p. 373.
- ↑ Roveda, Vittorio (2005), Images of the gods: Khmer mythology in Cambodia, Thailand and Laos, River Books, pp. 209–210