Notícia de torto

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Pergaminho da "Notícia de Torto".

Notícia de Torto ou Notícia do Torto é um manuscrito em pergaminho escrito entre 1211 e 1216 (provavelmente em 1214),[1] considerado o segundo texto não literário mais antigo escrito em língua portuguesa, posterior à Notícia de Fiadores de 1175.[2][3] O seu título provém da primeira frase do texto: "De noticia de torto que feceru(m) a Laure(n)cius Ferna(n)diz".[4]

Tal título, porém, é contestado por autores como Ramón Lorenzo, que o considera "um híbrido latino-português".[5] e outros que sequer lhe concediam o status de documento.[6]

O pergaminho, medindo 313 por 170 mm, escrito em ambas as faces, foi encontrado no mosteiro feminino de Vairão e está hoje no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa. No texto, escrito em galaico-português mas crivado de latinismos, D. Lourenço Fernandes da Cunha fez um minucioso relatório dos agravos cometidos contra si pelos filhos de Gonçalo Ramires.[4]

Dado que a maioria dos documentos da época eram redigidos em latim, é provável que o documento se tratasse de um rascunho, destinado a ser traduzido para esta língua. Tem sido estudado como subsídio para o conhecimento da origem e evolução da língua portuguesa. Existe também na Torre do Tombo outro documento semelhante, a "Mentio de malefactoria" (c. 1210) que descreve as malfeitorias feitas ao mesmo Lourenço Fernandes da Cunha pelo rei D. Sancho I ou por intermédio de Vasco Mendes.[7]

Normas principais: 1) as reconstituições editoriais são assinaladas entre [ ] e as formas canceladas entre < > ; 2) as abreviaturas são desenvolvidas em itálico; 3) o til é desenvolvido como n.).

Texto

1 D[e] noticia de torto que fecerun a laurencius fernandiz por plazo qve fece goncauo

2 ramiriz antre suos filios e lourenzo ferrnandiz quale podedes saber: e oue auer de erd[ade]

3 e d auer tanto quome uno de suos filios d aquanto podesen auer de bona de seuo pater; e fio li os seu

4 pater e sua mater. E depois fecerun plazo nouo e conuen uos a saber quale: in ille seem

5 taes firmamentos quales podedes saber. <E f...q> ramiro goncaluiz e goncaluo gonca[luiz e]

6 eluira goncaluiz forun fiadores de sua irmana que o[to]rgase aqu[e]le plazo come illos

7 Super isto plazo ar fe[ce]run suo plecto. e a maior aiuda que illos hic connocerun que les

8 acanoce<r>se laurenzo ferrnandiz sa irdade per plecto que a teuese o abate de sancto martino

9 que como uencesen o[ct]ra que asi les dese de ista o abade. E que nunqua illos lecxasen

10 daquela irdade d. sen seu mandato. Se a lexaren intregaren ille de octra que li plaza

11 E D auer que ouerun de seu pater nu[n]qua <le> li inde derun parte. Deu <a lauren....> dun goncalu

12 o a laurenco fernandiz e martin gonc[a]luiz xii <a> casaes por assas de sua auóó

13 E filarun li illos inde vi casales <quanto er> cun torto. E podedes saber como man

14 do Dun goncauo a sua morte. De xvi casales de ueracin que defructarun e que li

15 nunqua inde der[un] quinnon. E de vii e medio casaes antre coina e bastuzio unde li

16 nunqua derun quinion. E de tres in tefuosa unde li nu[n]qua ar der[un] nada. E iiºs in figeerec

17 do unnde nun<nada>qua li derun quinon. E iiºs in tamal unde li non ar derun quinon. E da sena

18 ra de coina unde li non ar derun quinon. E d uno casal de coina que leuarun inde iii anos

19 o frcuctu cun torto. E por istes tortos que li fecerun tem qua a seu plazo quebrantado

20 e qua li o deuen por sanar. E de pois ouerun seu mal e meteu o abade paz a[n]tre illes

21 inno carualio de laurecdo. E rogou o o abate tanto que beiso cun illes. E derun li

22 xviiii Morabitinos qui li filarun. E de pos iste plecto pre[n]derun li <on> o seruical otro

23 ome de sa casa. e troserun no xviiii dias per montes e fecerun les tan máá prison

24 per que leuarun deles quanto poderun auer. E de pois li desunro goncauo goncauiz

25 sa fili[a] pechena. E irmar[un] li xiii casales unde perdeu fructu. E isto

26 fui de pois que furun fijdos ant o abate. E de pois que furun infiados por iuizo de ilo

27 rec. E nunqua ille feze neu<n> mal por todo aqueste. E feze les <ta qua> agudas

28 quales aqui ouirecdes: Super sua aguda fez testiuigo cun goncauo cebolano

29 E super sa aiuda ar fui li a casa e filo li quanto que li agou e deu a illes. E super sa

30 aiuda oue testifigo cun petro gomez omezio que li custou maes <qua> Ka .c. Morabitinos

31 E super sa aiud[a] oue mal cun goncaluo gomez que li custou multo da auer

32 e muita perda. E in sa aiuda oue mal cun go[n]caluo suariz. E in sa aiuda

33 oue mal cun ramiro fernandiz que li custov muito auer muita perda.

34 E in sa aiuda fui iiªs fezes a coi[m]bra. E in sa aiuda dixe mul[tas] <f> uices

35 e ora in ista tregua furun a ueracin amazarun li os omes erma[run] li x casaes

36 seu torto al rec. E super sa iud[a] mandoc lidar seus omes cun mar

37 <M> tin iohanes que quir[i]a desunrar sa irmana. E cun ille e cun sa casa

38 e cun seu pam e cun seu uino uencestes uosa erdade. E cun ille

39 existis de sua casa in ipso die que uola quitarun. E ille teue a uosa

40 rezon. E otras aiudas multas que < >fez. E plus li a custado

41 uosa aiuda qua li inde cae d erdade. E subre becio e super

42 fíjmento se ar quiserdes ouir as desonras que ante ihc furun

43 ar ouide as: Venerun a uila e fila[run] li o porco ante seus filios e com

44 erun si lo. Venerun alia uice er filarun otro ante illes

45 er comerun s o. Venerun in alia uice er filiarun una ansar ante

46 sa filia er comerun s a. In alia uice ar filiarun li o pane ante

47 suos filios. In alia uice ar ue[ne]run hic er filarun inde o uino

48 ante illos

49 Otra uice uenerun li filar ante seus filios quanto que li agarun in quele

50 casal. E furun li <o> u ueriar e prenderun inde o conlazo unde mamou [?]

51 re e gacarun no e getarun in tera polo cecar e le[ua]run delle quanto oue.

52 In alia uice ar furun a feracin e prenderun iiºs omes e gacarun nos e leuarun

53 deles quanto que ouerun. In otra fice ar prenderun otros iiºs a se[u] irmano pelagio

54 fernandiz e iagarun nos. In otra ue[ne]run a [?]ge [?]tros e leuarun s o [?]

55 ante pelagio fernandiz

Referências

  1. «O Tempo da Língua - Os mais antigos textos escritos em português». cvc.instituto-camoes.pt. Consultado em 23 de junho de 2016 
  2. PEREIRA, Antonio. Alguns d'os mais antigos textos escritos em português', 'Notícia de Fiadores' (1175): estudo antoponímico. Actas do Encontro Comemorativos dos 25 anos do Centro de Linguística da Universidade do Porto
  3. Os mais antigos textos escritos em português. Instituto Camões
  4. a b «Notícia de Torto». Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Consultado em 21 de março de 2016. Arquivado do original em 24 de setembro de 2017 
  5. MARTINS, Ana Maria. O primeiro século do Português escrito
  6. PEDRO, Susana Tavares. O género diplomático ‘notícia’ na documentação medieval portuguesa (séculos X-XIII). O Medievalista
  7. «Mentio de malefactoria». Arquivo Nacional da Torre do Tombo 

Ligações externas

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