O 18 de Brumário de Luís Bonaparte
O 18 de Brumário de Luís Bonaparte | |
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Der 18te Brumaire des Louis Napoleon | |
Der 18te Brumaire des Louis Napoleon em Die Revolution, 1852 | |
Autor(es) | Karl Marx |
O 18 de Brumário de Luís Bonaparte (em alemão: Der achtzehnte Brumaire des Louis Bonaparte ou Der achtzehnte Brumaire des Louis Napoleon) é uma obra de Karl Marx escrita entre dezembro de 1851 e março de 1852,[1] ano em que foi publicada na revista Die Revolution.[1]
No livro, o autor evoca o golpe de estado de 2 de dezembro de 1851, por meio do qual Luís Bonaparte, então presidente da República Francesa, instaurou o Segundo Império na França. A análise de Marx parte dos acontecimentos revolucionários em França, entre 1848 e 1851, que levaram ao golpe de estado após o qual Luís Bonaparte nomeou-se imperador, com o nome de Napoleão III, emulando seu tio, Napoleão I.[2]
Em O 18 de Brumário de Luís Bonaparte, Marx desenvolve as teses fundamentais do materialismo histórico: a teoria da luta de classes e da revolução proletária, a doutrina do Estado e o conceito de ditadura do proletariado.[3] Destaca-se a conclusão de Marx sobre a atitude do proletariado em relação ao Estado burguês, na França:
"A república parlamentar, na sua luta contra a revolução, viu-se obrigada a fortalecer, juntamente com as medidas repressivas, os meios e a centralização do poder do governo. Todas as revoluções aperfeiçoavam esta máquina, em vez de a destruir. Os partidos que lutavam alternadamente pela dominação, consideravam a tomada de posse deste imenso edifício do Estado como a presa principal do vencedor." [4]
A questão campesinato como aliado da classe operária na revolução iminente, o papel dos partidos políticos na vida social e uma caracterização profunda da essência do bonapartismo são outros aspectos marcantes da obra.[3]
Análise da obra
[editar | editar código-fonte]Uma farsa da história
[editar | editar código-fonte]Marx inicia o texto lembrando que Hegel afirma que "todos os grandes fatos e personagens da história universal aparecem como que duas vezes. Mas ele esqueceu-se de acrescentar: uma vez como tragédia e a outra como farsa."[4] A partir daí, relaciona o golpe de Estado do General Napoleão Bonaparte, que derrubou o Diretório, em 9 de novembro de 1799 (ou seja, em 18 de brumário, Ano VIII da Revolução Francesa[5]) com o golpe perpetrado por seu sobrinho, que ele chama "a segunda edição do 18 de brumário".[6] De fato, ao mesmo tempo em que se refere à primeira fase da Revolução Francesa como um momento heroico da burguesia (com Camille Desmoulins, Danton, Robespierre, Saint-Just e Napoleão), Marx vê o golpe de Luís Napoleão apenas como mera reação militar repressiva.[4]
Sociogênese do regime
[editar | editar código-fonte]Marx procura explicar o movimento da história através da dinâmica entre as classes sociais. A obra é assim uma continuação do seu livro anterior, As Lutas de Classes na França de 1848 a 1850, cujas teses são retomadas, incluindo a ideia de que a República é um instrumento de dominação da burguesia. O período de 1848 a 1851 é, assim, analisado do ponto de vista do antagonismo de classe.[7]
"A França apenas parece escapar ao despotismo de uma classe para voltar a cair no despotismo de um indivíduo, e precisamente sob a autoridade de um indivíduo sem autoridade. O Estado aparentemente tornara-se independente da sociedade, para subjugá-la: "Em vez de ser a própria sociedade a ter conquistado um novo conteúdo, parece simplesmente que o Estado voltou à sua forma mais antiga, à dominação desavergonhadamente simples do sabre e da sotaina."[4]
Sociologia política do campesinato
[editar | editar código-fonte]Marx faz um julgamento basicamente negativo do campesinato, que ele vê como um aliado objetivo da classe dominante. Comparando-o a um saco de batatas, amorfo e sem vontade, considera que os camponeses não formam uma classe e estariam prontos a cair, a qualquer momento, nas mãos de forças sociais superiores a eles e encarnadas precisamente nos Bonaparte, que ter-se-iam apoiado no campesinato conservador, aproveitando-se da fé supersticiosa e dos preconceitos do camponês:
"A dinastia de Bonaparte não representa o camponês revolucionário, mas o conservador; não o camponês que luta para sair da sua condição social de vida, a parcela [de terra], mas aquele que, pelo contrário, quer consolidá-la; não a população rural que, com a sua própria energia, é unida às cidades, quer derrubar a velha ordem, mas a que, pelo contrário, sombriamente retraída nessa velha ordem, quer ver-se salva e preferida, juntamente com a sua parcela, pelo espectro do império. Não representa a ilustração, o esclarecimento, mas a superstição do camponês; não o seu juízo, mas o seu prejuízo, não o seu futuro, mas o seu passado…"[4]
Referências
- ↑ a b «O 18 de brumário de Luís Bonaparte (apresentação do livro)». Consultado em 19 de agosto de 2013. Arquivado do original em 20 de agosto de 2013
- ↑ «O 18 Brumário de Luís Bonaparte : A discreta farsa da burguesia». Consultado em 19 de agosto de 2013. Arquivado do original em 26 de junho de 2013
- ↑ a b «O 18 BRUMÁRIO DE LUIS BONAPARTE, UMA LEITURA FUNDAMENTAL». Consultado em 19 de agosto de 2013
- ↑ a b c d e MARX, Karl. O 18 de Brumário de Luís Bonaparte. Editorial Avante!
- ↑ Datação conforme o calendário revolucionário francês criado pela Convenção Nacional, em 1792.
- ↑ MARX, Karl (1996). Marx: Later Political Writings - Cambridge texts in the history of political thought. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 978-0-521-36739-4
- ↑ MARCUSE, Herbert (26 de março de 2014). Marxism, Revolution and Utopia: Collected Papers of Herbert Marcuse, Volume 6. [S.l.]: Routledge. ISBN 978-1-317-80556-4
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- O 18 de brumário de Luís Bonaparte (Boitempo Editorial, 2011). Tradução de Nélio Schneider. ISBN 9788575591710