Padre Max

Padre Max
Nome completo Maximino Barbosa de Sousa
Nascimento 1943
Choupica, Ribeira de Pena
Morte 2 de Abril de 1976
Cumieira, Santa Marta de Penaguião
Nacionalidade Portugal Portugal
Profissão Sacerdote, professor e activista político

Maximino Barbosa de Sousa, mais conhecido como Padre Max (Choupica, Ribeira de Pena, 1943 — Cumieira, 2 de Abril de 1976), foi um padre e candidato a deputado pela União Democrática Popular. Morreu em 2 de abril de 1976, vítima de um atentado à bomba no carro onde seguia juntamente com uma estudante. Ao longo dos anos a suspeita da autoria recaiu sobre membros do grupo de extrema-direita Movimento Democrático de Libertação de Portugal. No entanto, os autores nunca chegaram a ser identificados.[1]

Maximino Barbosa de Sousa nasceu na aldeia de Choupica, no concelho de Ribeira de Pena, em 1943.[2]

Carreira eclesiástica e política

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Esteve algum tempo em França, onde absorveu os ideais da Revolução de Maio de 1968.[2] Decidiu-se inicialmente por uma carreira eclesiástica como forma de ajudar as camadas mais desfavorecidas, tendo colaborado na Acção Católica Portuguesa em 1971.[2] Atingiu a posição de sacerdote, sendo conhecido como Padre Max.[3] Fixou-se em Vila Real, onde residiu na Travessa de D. Dinis.[2] Exerceu igualmente como professor, em liceus de Lisboa e Setúbal, e para adultos na Casa da Cultura de Cumieira, a cerca de sete quilómetros de distância de Vila Real.[2]

O seu activismo político iniciou-se no período anterior à Revolução de 25 de Abril de 1974, tendo contribuído para a consciencialização política de muitos indivíduos, especialmente após a revolução.[2] Devido aos seus ideais, foi por diversas vezes detido pelo Estado Novo.[2] Em 1976, tornou-se candidato da União Democrática Popular à Assembleia Constituinte[3] pelo círculo de Vila Real, tendo já nessa altura abandonado a carreira religiosa.[4]

Em Abril de 1976, estava em Vila Real para divulgar um programa de apoio ao desenvolvimento das povoações locais, quando foi morto num ataque bombista ao seu automóvel, no dia 2 desse mês,[3] a alguns quilómetros de distância de Santa Marta de Penaguião.[4] Este atentado provocou igualmente a morte da estudante Maria de Lurdes Ribeiro Correia, aluna do padre e simpatizante da União Democrática Popular, a quem Maximino de Sousa tinha dado boleia.[3] Maximino de Sousa tinha 33 anos, enquanto que Maria de Lurdes tinha 19 anos.[5] O explosivo utilizado foi uma carga de trotil, accionado por sistema de relógio.[4] Este atentado fez parte de uma onda de violência motivada pelas eleições, cujas campanhas tiveram início em 4 de Abril.[6] Até à data tinham sido contabilizados cerca de 300 incidentes contra edifícios e veículos dos partidos de esquerda, tendo sido o primeiro a resultar em vítimas mortais,[4] e o primeiro assassinato político após a Revolução de 25 de Abril de 1974.[7]

Reacções ao atentado

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O ataque foi denunciado por várias associações, incluindo pelos estudantes de Vila Real, que no dia 3 de Abril fizeram um cortejo silencioso pelas ruas da cidade.[6] A Associação dos Ex-Presos Políticos Anti-Fascistas também criticou o atentado, apresentando-o como um exemplo da total liberdade em que operavam naquela região os apoiantes do fascismo e os antigos agentes da Polícia Internacional e de Defesa do Estado.[6] O funeral de ambas as vítimas teve lugar na tarde de 5 de Abril, em Vila Real,[6] tendo contado com a presença de vários milhares de pessoas,[7] incluindo militantes da União Democrática Popular[6] e representantes de Lamego, de Lisboa, do Porto e das regiões do Minho e de Trás-os-Montes, tendo sido encerrado o comércio e os serviços públicos na cidade.[7] Ao funeral seguiu-se uma manifestação em frente ao Palácio do Governo Civil, onde o Governador Civil, Montalvão Machado, recebeu uma comissão de estudantes, que pediram uma investigação ao atentado, e que os nomes das vítimas fossem colocados numa rua de Vila Real.[7]

Também em 5 de Abril a U.D.P. realizou uma conferência de imprensa no Porto, sobre a onda de violência contra os partidos de esquerda, principalmente a morte do Maximino de Sousa e de Lurdes Correia.[7] Nessa altura, Mário Brochado Coelho afirmou que dias antes do atentado tinha-se suspeitado que os ocupantes de um automóvel estavam a investigar os movimentos do padre, e desmentiu algumas das acusações que tinham sido feitas contra o antigo sacerdote na imprensa.[7] Também nesse dia, a U.D.P., o Movimento de Esquerda Socialista e a associação Cristãos pelo Socialismo reuniram-se na zona de Belém, em Lisboa, para protestar contra o ataque terrorista, onde foi lida uma moção que seria depois entregue ao general Costa Gomes.[7] Esta moção, que foi assinada por diversos partidos políticos de esquerda e várias associações culturais e de trabalhadores, exigia uma maior acção por parte do governo contra os antigos agentes da Polícia Internacional e de Defesa do Estado, tendo muitos deles integrado as organizações terroristas Exército de Libertação de Portugal e Movimento Democrático de Libertação de Portugal.[7] Também se ouviu parte de uma comunicação que Maximino de Sousa tinha feito há poucos dias no Coliseu e que tinha ficado gravada, onde este criticou o controlo da igreja por parte dos partidos da Democracia Cristã, Centro Democrático Social e Popular Democrático, e respondeu às acusações que lhe tinham sido feitas por ser um padre de esquerda, afirmando que o sacerdócio é para servir o povo e não para servir-se do povo. [...] Um padre de esquerda custa muito à burguesia. Eles temem isso e sabem porquê..[7] Em seguida discursou o padre Felicidade Alves, dos Cristãos pelo Socialismo, que falou sobre os padres revolucionários, citando exemplos como Camilo Torres, Martin Luther King e Hélder Câmara.[7] O último discurso foi feito pelo antigo deputado Afonso Dias, que recordou uma frase que foi escrita numa parede de Vila Real, Os fascistas não mataram o padre Maximino, semearam-no, seguindo-se um minuto de silêncio e o canto do hino A Internacional.[7] Após o final da manifestação, verificou-se um incidente quando um dos participantes tentou colar um autocolante num veículo estacionado, tendo sido preso e identificado pelo grupo de intervenção da polícia.[7]

Investigação

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Os principais suspeitos por este atentado foram agentes do Movimento Democrático de Libertação de Portugal,[2] um grupo terrorista de direita, que funcionou durante o período do Processo Revolucionário em Curso, após a Revolução de 25 de Abril de 1974.[3] Foram feitas duas tentativas de julgamento, a primeira em 1997, onde foi atribuída a culpa por este incidente ao M.D.L.P., e depois em 1999.[3] Durante o julgamento, foram apresentados cinco arguidos, mas não foram feitas quaisquer condenações, devido à falta de provas concretas.[3] O advogado Mário Brochado Coelho, que há mais de duas décadas que tentava levar o caso a tribunal, concordou com a decisão, afirmando que os arguidos só poderiam ser julgados se existissem provas claras da sua culpabilidade.[3] Afirmou igualmente que os autores fizeram o atentado mesmo sabendo que o padre Maximino não ia sozinho no automóvel, conduta que considerou típica da extrema-direita em Portugal.[3] Em 1 de Abril de 2006, o dirigente do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, criticou os tribunais de silenciosos, negligentes e muitas vezes incompetentes durante o processo de julgamento pelo assassinato, acusando-os de não quererem investigar e levar o processo às últimas consequências.[3] Estes comentários foram feitos durante uma conferência no Porto, no âmbito dos 30 anos do assassinato de Maximino de Sousa.[3]

Em 25 de Abril de 2014, foi colocado o nome de Padre Max numa rua de Vila Real.[8] Em 3 de Abril de 2016, a União Democrática Popular assinalou os 40 anos do atentado com uma cerimónia em Vila Real, tendo discursado Mário Durval e Luís Fazenda, e sido colocadas flores nas campas e na Rua Padre Max.[5]

Referências

  1. Ana Martins. «Padre Max, vítima da extrema-direita». Rádio e Televisão de Portugal. Consultado em 6 de março de 2020 
  2. a b c d e f g h «Ata Número Seis: Reunião Ordinária de 30 Setembro 2013» (PDF). Assembleia Municipal de Vila Real. 30 de Setembro de 2013. p. 4-6. Consultado em 7 de Outubro de 2019 
  3. a b c d e f g h i j k «Caso Padre Max: Louçã acusa tribunais de "negligência e incompetência"». Público. 2 de Abril de 2006. Consultado em 7 de Outubro de 2019 
  4. a b c d «Morto num atentado um ex-sacerdote candidato da U.D.P.». Diário de Lisboa. Ano 55 (19019). Lisboa: Renascença Gráfica. 3 de Abril de 2019. p. 1. Consultado em 7 de Outubro de 2019 – via Casa Comum / Fundação Mário Soares 
  5. a b «"Recordar Max e Lurdes é defender a Constituição"». União Democrática Popular. 8 de Abril de 2016. Consultado em 7 de Outubro de 2019 
  6. a b c d e «Incidentes marcam início da campanha eleitoral». Diário de Lisboa. Ano 55 (19020). Lisboa: Renascença Gráfica. 5 de Abril de 2019. p. 2. Consultado em 7 de Outubro de 2019 – via Casa Comum / Fundação Mário Soares 
  7. a b c d e f g h i j k l «U.D.P. acusa e afirma: "Há elementos de prova para indicar autores da vaga terrorista no Norte"». Diário de Lisboa. Ano 55 (19021). Lisboa: Renascença Gráfica. 6 de Abril de 2019. p. 2. Consultado em 7 de Outubro de 2019 – via Casa Comum / Fundação Mário Soares 
  8. MEIRELES, Maria (5 de Novembro de 2015). «Uma rua, uma história para contar…». A Voz de Trás-os-Montes. Consultado em 7 de Outubro de 2019 


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