Proteopatia

Em medicina, proteopatia designa uma classe de doenças na qual determinadas proteínas se tornam estruturalmente anormais, interferindo assim com a função das células, tecidos e órgãos do organismo.[1][2] Muitas vezes as proteínas não se enovelam na sua configuração normal, podendo neste caso tornar-se de alguma forma tóxicas ou perder as suas funções normais.[3] Entre as proteopatias mais comuns estão a doença de Alzheimer, doença de Parkinson, diabetes mellitus tipo 2, amiloidose, para além de um vasto conjunto de outros transtornos.[2][4][5][6][7][8]

O conceito de proteopatia teve origem em meados do século XIX, quando, em 1854, Rudolf Virchow cunhou o termo amiloide (semelhante ao amido) para descrever uma substância no corpora amylacea que apresentava uma reação química semelhante à da celulose. Em 1859, Nikolaus Friedreich e August Kekulé demonstrarem que, em vez de ser constituído por celulose, o amiloide era na realidade rico em proteínas.[9] A investigação posterior revelou que existem diversas proteínas que podem formar amiloide e que todos os amiloides têm em comum birrefringência mediante a incidência de luz polarizada após serem marcados com vermelho Congo, assim como ultraestrutura fibrilar quando observados ao microscópio eletrónico.[9] No entanto, algumas lesões proteicas não exibem birrefrigência e contêm poucos ou nenhum fibrilos amiloides, como por exemplo os depósitos de beta amiloides no cérebro de pacientes de Alzheimer.[10] Para além disso, existem evidências de que os pequenos agregados de proteínas não fibrilares, denominados oligómeros, são tóxicos para as células do órgão afetado e que as proteínas amiloidogénicas na sua forma fibrilar podem ser relativamente benignas.[11][12]

Referências

  1. Walker LC, LeVine III H (2000). «The cerebral proteopathies». Neurobiol Aging. 21 (4): 559–561. PMID 10924770. doi:10.1016/S0197-4580(00)00160-3 
  2. a b Walker LC, LeVine III H (2000). «The cerebral proteopathies: Neurodegenerative disorders of protein conformation and assembly». Mol Neurobiol. 21 (1–2): 83–95. PMID 11327151. doi:10.1385/MN:21:1-2:083 
  3. Luheshi M, Crowther DC, Dobson CM (2008). «Protein misfolding and disease: from the test tube to the organism». Current Opinion in Chemical Biology. 12 (1): 25–31. PMID 18295611. doi:10.1016/j.cbpa.2008.02.011 
  4. Chiti F, Dobson CM (2006). «Protein misfolding, functional amyloid, and human disease». Ann Rev Biochem. 75 (1): 333–366. PMID 16756495. doi:10.1146/annurev.biochem.75.101304.123901 
  5. Friedrich O (2006). «Critical illness myopathy: what is happening?». Current Opinion in Clinical Nutrition and Metabolic Care. 9 (4): 403–409. PMID 16778569. doi:10.1097/01.mco.0000232900.59168.a0 
  6. Spinner NB (2000). «CADASIL: Notch signaling defect or protein accumulation problem?». J Clin Invest. 105 (5): 561–562. PMC 292459Acessível livremente. PMID 10712425. doi:10.1172/JCI9511 
  7. Carrell RW, Lomas DA (1997). «Conformational disease». Lancet. 350 (9071): 134–138. PMID 9228977. doi:10.1016/S0140-6736(97)02073-4 
  8. Westermark P; et al. (2007). «A primer of amyloid nomenclature». Amyloid. 14 (1): 179–183. PMID 16076605. doi:10.1080/13506120701460923 
  9. a b Sipe JD, Cohen AS (2000). «Review: History of the amyloid fibril». J Struct Biol. 130 (2–3): 88–98. PMID 10940217. doi:10.1006/jsbi.2000.4221 
  10. Wisniewski HM, Sadowski M, Jakubowska-Sadowska K, Tarnawski M, Wegiel J (1998). «Diffuse, lake-like amyloid-beta deposits in the parvopyramidal layer of the presubiculum in Alzheimer disease». J Neuropath Exp Neurol. 57 (7): 674–683. PMID 9690671. doi:10.1097/00005072-199807000-00004 
  11. Glabe CG (2006). «Common mechanisms of amyloid oligomer pathogenesis in degenerative disease». Neurobiol Aging. 27 (4): 570–575. PMID 16481071. doi:10.1016/j.neurobiolaging.2005.04.017 
  12. Gadad BS, Britton GB, Rao KS (2011). «Targeting oligomers in neurodegenerative disorders: lessons from α-synuclein, tau, and amyloid-β peptide». Journal of Alzheimer's disease : JAD. 24 Suppl 2: 223–232. PMID 21460436. doi:10.3233/JAD-2011-110182