São Francisco de Assis em Êxtase (Caravaggio)


São Francisco de Assis em Êxtase
São Francisco de Assis em Êxtase (Caravaggio)
Autor Caravaggio
Data c.1595
Género Pintura
Técnica Óleo sobre tela
Dimensões 92,5 × 127,8 
Localização Wadsworth Atheneum, Hartford, Connecticut

São Francisco de Assis em Êxtase (ou O Êxtase de São Francisco) é um pintura do mestre do barroco italiano Michelangelo Merisi da Caravaggio. Encontra-se no Wadsworth Atheneum[1] em Hartford, Connecticut.

A pintura foi a primeira das telas de Caravaggio com tema religioso, e acredita-se que seja de 1595, época em que o artista havia recentemente entrado para a casa do cardeal Francesco Maria Del Monte. Presume-se que foi pintada a mando de Del Monte, e que é uma das primeiras telas feitas por Caravaggio como um "pintor de Del Monte", como, acredita-se, ele intitulou a si mesmo durante os próximos anos em que viveu no Palazzo Madama. A pintura mostra São Francisco de Assis (homônimo do cardeal) no momento de receber os sinais dos estigmas, as feridas deixadas no corpo de Cristo pela crucificação. A história é contada por um dos discípulos de Francisco, Irmão Leo. Em 1224, Francisco retirou-se para o deserto com um pequeno número de seus seguidores para contemplar Deus. Na encosta da montanha, durante a noite, o irmão Leo viu um serafim de seis asas (uma das ordens de anjos mais elevadas) descer até Francisco em resposta à oração do santo para que ele pudesse sentir tanto o sofrimento de Cristo quanto seu amor:

De repente havia uma luz deslumbrante. Era como se os céus estivessem explodindo e espalhando adiante toda sua glória em milhões de cachoeiras de cores e estrelas. E no centro desse turbilhão estava um núcleo de luz ofuscante que brilhava das profundezas do céu com uma velocidade aterrorizante até que subitamente parou, imóvel e sagrada, acima de uma rocha pontiaguda na frente de Francisco. Era uma figura de fogo com asas, pregada a uma cruz de fogo. Duas asas flamejantes erguiam-se à frente, duas outras abriam horizontalmente, e mais duas cobriam a figura. E as feridas nas mãos e nos pés e no coração eram raios de sangue resplandecentes. As características cintilante do Ser tinham uma expressão de beleza sobrenatural e tristeza. Era a face de Jesus, e Jesus falou. Então, de repente correntes de fogo e sangue lançaram-se de Suas feridas e perfuraram as mãos e pés de Francisco com pregos e seu coração com o golpe de uma lança. Conforme Francisco soltou um poderoso grito de alegria e de dor, a imagem de fogo gravou a Si mesma em seu corpo, como um reflexo espelhado de Si, com todo Seu amor, Sua beleza, e Sua tristeza. E desapareceu dentro dele. Outro grito rasgou o ar. Então, com pregos e feridas por todo seu corpo, e com sua alma e espírito em chamas, Francisco caiu, inconsciente, em seu sangue.[2]

São Francisco de Assis em Êxtase (detalhe).

A pintura de Caravaggio é menos dramática que o relato dado por Leo — o serafim de seis asas é substituído por um anjo de duas asas, e não há nenhum confronto violento descrito por Leo — sem correntes de fogo, sem poças de sangue, sem gritos ou imagens flamejantes de Cristo. Apenas o anjo de aparência suave, parecendo muito maior que o santo inconsciente, e os companheiros de Francisco a média distância, quase invisíveis na escuridão.

Este tem sido um tema popular desde o século XIII: Giotto di Bondone o retratou por volta de 1290, e Giovanni Bellini pintou uma famosa versão por volta de 1480-85. A versão de Caravaggio é muito mais intimista and marca uma mudança brusca de key: o santo, que tem as características de Del Monte, parece deixar-se cair para trás nos braços de um rapaz (que tem uma semelhança marcante com o rapaz em Rapaz Descascando Fruta e com o Cupido alado na extrema esquerda em Os Músicos, e ainda mais com o rapaz sendo enganado em Os Trapaceiros) vestindo uma manta e adereços de asas. Há muito pouco para indicar o tema além do hábito franciscano do santo — nenhum sinal dos estigmas, do sangue ou do serafim terrível. No entanto, a atmosfera permanece genuinamente espiritual, as duas figuras iluminadas por um esplendor sublime sobrenatural na escura paisagem noturna onde vislumbres estranhos cintilam no horizonte. A cena é, ao mesmo tempo, real e irreal. Del Monte manteve a pintura consigo até o fim de sua vida, e muitas cópias entraram em circulação e foram grandemente valorizadas.

Veja também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Saint Francis of Assisi in Ecstasy - Notes at Wadsworth Atheneum website». Consultado em 25 de setembro de 2012. Arquivado do original em 15 de maio de 2006 
  2. «St. Francis Receives the Stigmata - Brother Leo's account». Consultado em 25 de setembro de 2012. Arquivado do original em 20 de outubro de 2006