Série 0100 da CP

 Nota: Este artigo é sobre a antiga série de automotoras compridas a gasóleo de via larga. Se procura a antiga série de automotoras curtas a gasóleo de via larga, igualmente conhecidas como Nohabs, veja Série 0050. Se procura a antiga série de automotoras a gasóleo de via estreita, igualmente conhecidas como Nohabs, veja Série 9100 da CP. Se procura a antiga série de locomotivas a vapor de via estreita, veja Série E101 a E103 da CP.
Série 0100
Série 0100 da CP
Automotora 0113, a cumprir um serviço regional na Estação de Casa Branca, em 2004.
Descrição
Propulsão Diesel-hidráulica
Fabricante Nydqvist & Holm AB (NOHAB)
Ano de fabricação 1948
Locomotivas fabricadas 15
Tipo de serviço Via
Características
Bitola Bitola ibérica
1 668 mm (5,47 ft)
Tipo de transmissão Transmissão hidráulica
Performance
Velocidade máxima 120 Km/H
Operação
Ferrovias Originais Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses
Ferrovias que operou Comboios de Portugal
Apelidos Nohabs, Joaninhas
Local de operação Portugal Portugal
Ano da entrada em serviço 1948
Ano da saída do serviço 2005
Unidades preservadas 0111
Proprietário atual Museu Nacional Ferroviário
Situação Fora de serviço

A Série 0100 identifica um tipo de automotora a tracção a gasóleo, que esteve ao serviço da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses e da sua sucessora, Comboios de Portugal; as unidades desta série também eram conhecidas como Nohabs, em referência ao seu fabricante, ou como joaninhas, relativamente à sua forma arredondada das extremidades e às tonalidades encarnadas e pretas do seu último esquema de cores. Esta Série entrou ao serviço em 1948.[1]

Automotora 1001, pouco tempo após a sua chegada a Portugal.

Antecedentes e encomenda

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Após o final da Segunda Guerra Mundial, verificou-se uma profunda redução nas reservas de carvão no Reino Unido, o que levou a que o governo britânico tivesse colocado grandes entraves à sua exportação, incluindo a Portugal.[2] Esta medida gerou grandes dificuldades à operação da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses, uma vez que a sua frota de material motor era quase totalmente composta por locomotivas a vapor.[2] Por outro lado, o parque motor da Companhia estava muito longe de satisfazer os padrões de qualidade exigidos pelos passageiros, sendo as locomotivas a vapor incómodas, lentas, e poluidoras, além de serem muito dispendiosas, com um consumo substancialmente superior ao material a gasóleo e eléctrico.[3] Em termos de material rebocado, o parque de carruagens da Companhia da Companhia também se apresentava bastante precário, e incapaz de acompanhar o crescimento da procura.[3] Desta forma, a empresa começou a planear a renovação da sua frota com material mais moderno e confortável, e que ao mesmo tempo utilizasse combustíveis alternativos ao carvão, tendo criado para este fim, em conjunto com o governo português, o Plano de Reequipamento, que deveria utilizar parte dos fundos destinados a Portugal do Plano Marshall para adquirir novo material circulante.[2] Ao abrigo deste plano, foram encomendadas 24 automotoras à empresa sueca Nydqvist & Holm Aktiebolag (NOHAB), sendo três de via estreita, seis para as linhas do estado exploradas pela Companhia, e quinze para a rede da própria CP.[3] Entre este material, estavam as automotoras da Série 0100.[2] Esta encomenda contemplou igualmente o fabrico de doze atrelados de via larga.[3]

As automotoras de via larga estavam divididas em dois tipos distintos, sendo o primeiro de caixa curta e o segundo de caixa comprida.[4] Os atrelados de via larga podiam ser rebocados por ambos os tipos de automotora.[4]

Construção e entrada ao serviço

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Os três grupos de automotoras foram construídas na Suécia entre 1947 e 1949[4], tendo a futura série 0100 sido fabricada em 1948.[5] As primeiras automotoras, da futura Série 0050, entraram ao serviço numa cerimónia oficial em 20 de Março.[3] No entanto, apenas alguns meses depois, foi necessário substituir estas automotoras pelas suas congéneres longas, devido à sua maior capacidade, tendo a sua introdução ao serviço sido realizada no dia 22 de Novembro, em Estremoz, com a presença dos engenheiros Roberto de Espregueira Mendes, director geral da CP, e Alberto Carlos de Lima e Sousa Rego.[6]

Estas duas séries, em conjunto com a de via estreita, foram as primeiras automotoras a gasóleo importadas a funcionar em território nacional.[7]

Serviço activo

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Uma Nohab em Évora, em 2004.

Aquando da cerimónia de inauguração da tracção eléctrica na Linha de Sintra e no troço entre Lisboa-Santa Apolónia e o Carregado da Linha do Norte, em 28 de Abril de 1957, uma automotora desta série participou no cortejo inaugural, junto com um atrelado.[5]

Em 1 Novembro de 1954, foram introduzidas na Linha do Algarve, melhorando consideravelmente os serviços, em relação às antigas composições rebocadas por locomotivas a vapor, uma vez que permitiam uma maior velocidade, e, consequentemente, o número de circulações.[8] Tiveram um enorme sucesso, circulando frequentemente completas, mesmo quando rebocavam o atrelado, tendo-se tornado uma imagem de marca da região.[8] Só para o seu serviço, foram criadas duas paragens no Ramal de Lagos, uma na Figueira, e outra em Alvalede.[8] Extinguiram quase totalmente os serviços de passageiros por locomotivas a vapor no Ramal, restando apenas um comboio a vapor de mercadorias que rebocava uma carruagem de terceira classe.[8]

Em 1966, entraram ao serviço as locomotivas da Série 1200 no Algarve, com o objectivo de render as últimas locomotivas a vapor, tendo desde logo começado a dominar os serviços nesta região, acabando por substituir completamente, alguns anos depois, as Nohabs.[8] Em 1970, ainda circulavam oito automotoras desta série em cada sentido, uma delas ligando Lagos a Silves; no ano seguinte, foram introduzidos três comboios semi-directos entre Lagos e Vila Real de Santo António, também assegurados pelas Nohabs.[8] Em 1974, principiou o serviço directo de Lagos ao Barreiro, inicialmente utilizando estas automotoras; no entanto, apenas cerca de cinco anos depois, foram substituídas por comboios rebocados por locomotivas da Série 1300.[8]

Em 1980, voltaram a entrar ao serviço, após terem sido retiradas para um processo de modernização.[9]

Uma Nohab circulando junto a Ourique, em 2004. Metade da janela fronteira comunica com a área acessível aos passageiros.

Em 1992, estavam a fazer serviços da tipologia Omnibus, até Badajoz.[10] Neste ano, os seus interiores sofreram um processo de remodelação.[4] Em 1995, estas automotoras podiam ser encontradas a assegurar, entre outras ligações, os serviços Regionais no Ramal de Cáceres.[11] Nesta altura, já eram as automotoras de tracção térmica mais antigas a assegurar serviços públicos regulares na Europa Ocidental.[11] Também realizaram serviços na Linha de Sines.[12]

Preservação

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Em 1998, a automotora número 0101 foi apresentada, com o seu esquema de cores original, em tons verde e creme, na exposição de material ferroviário 50 Anos do Diesel, organizada pelo Museu Nacional Ferroviário, junto à Estação Ferroviária do Entroncamento.[2]

Aspeto do interior.

Esta série era constituída por quinze automotoras[13] de bitola ibérica[11], numeradas originalmente de MY 101 a MY115[4], e posteriormente de 20101 a 20115.[7] Apesar das suas reduzidas dimensões, possuíam uma zona dedicada às bagagens e dois salões para passageiros, para primeira e segunda classes[11], que originalmente eram de primeira e terceira classes.[7] Uma das suas desvantagens era o reduzido isolamento sonoro, provocando desta forma um grande ruído no interior dos veículos, quando se encontravam em funcionamento.[11]

Sofreram um processo de modificação, tendo ficado equipadas com bisséis de dois eixos, dos quais apenas o eixo interior era motorizado.[4]

As automotoras desta série utilizavam originalmente motores Scania-Vabis, e transmissão hidráulica.[7]

Ficha técnica

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Cabina de condução da unidade número 0113.

Referências

  1. REIS et al, 2006:102
  2. a b c d e f ERUSTE, Manuel Galán (1998). «Exposición ferroviaria: 50 Años de la Traccion Diesel en Portugal». Maquetren (em espanhol). Ano 6 (71). Madrid: Revistas Profesionales. p. 18-21. ISSN 1132-2063 
  3. a b c d e «Os Caminhos de Ferro Portugueses e a sua modernização» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 60 (1447). Lisboa. 1 de Abril de 1948. p. 257-260. Consultado em 25 de Janeiro de 2014 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa 
  4. a b c d e f MARTINS et al, 1996:96-99
  5. a b c «As cerimónias de inauguração da tracção eléctrica no troço Lisboa-Carregado e na linha de Sintra» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 70 (1665). 1 de Maio de 1957. p. 164-177. Consultado em 25 de Janeiro de 2014 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa 
  6. «Linhas Portuguesas» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 60 (1463). Lisboa. 1 de Dezembro de 1948. p. 644. Consultado em 26 de Janeiro de 2014 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa 
  7. a b c d REIS et al, 2006:115
  8. a b c d e f g DUARTE, Vasco (2005). «O Ramal Ferroviário do Barlavento Algarvio». Foguete. Ano 4 (13). Entroncamento: Associação de Amigos do Museu Nacional Ferroviário. p. 47-54. ISSN 124550 Verifique |issn= (ajuda) 
  9. a b c «Série: 0100 (0101-0115)». Comboios de Portugal. Consultado em 24 de Fevereiro de 2012. Arquivado do original em 10 de Fevereiro de 2008 
  10. «Concurso Fotografico». Maquetren (em espanhol). Ano 3 (28). p. 58 
  11. a b c d e f g «Beira Alta, Beira Baja y los Ramales de Cáceres y Badajoz». Maquetren (em espanhol). Ano 4 (32). Madrid: A. G. B., S. l. 1995. p. 40-41 
  12. CONCEIÇÃO, Marcos A. (2002). «Línea de Sines». Maquetren (em espanhol). Ano 11 (106). Madrid: Revistas Profesionales. p. 64 
  13. a b c d e f g h i «CP withdrawn trainsets and motor cars» (em inglês). Railfaneurope. 16 de Julho de 2010. Consultado em 15 de Fevereiro de 2011 
  • MARTINS, João; BRION, Madalena; SOUSA, Miguel; et al. (1996). O Caminho de Ferro Revisitado. O Caminho de Ferro em Portugal de 1856 a 1996. Lisboa: Caminhos de Ferro Portugueses. 446 páginas 
  • REIS, Francisco; GOMES, Rosa; GOMES, Gilberto; et al. (2006). Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006. Lisboa: CP-Comboios de Portugal e Público-Comunicação Social S. A. 238 páginas. ISBN 989-619-078-X 
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Ligações externas

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