Sonambulismo
Sonambulismo | |
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Escultura de Amina, a protagonista da ópera "La sonnambula" | |
Especialidade | medicina do sono |
Classificação e recursos externos | |
CID-10 | F51.3 |
CID-9 | 307.46 |
CID-11 | 1743751621 |
DiseasesDB | 36323 |
MedlinePlus | 000808 |
eMedicine | 1188854 |
MeSH | D013009 |
Leia o aviso médico |
O noctambulismo ou hipnofrenose, denominado sonambulismo para o sono não-REM ou distúrbio comportamental do sono REM para o sono REM,[1][2] é um transtorno comportamental do sono (parassonia), durante o qual a pessoa pode desenvolver habilidades motoras simples ou complexas. O sonâmbulo sai da cama e pode andar, urinar, comer, realizar tarefas comuns e mesmo sair de casa, enquanto permanece inconsciente. É difícil de acordar um sonâmbulo, mas, contrariamente à crença popular, não é perigoso fazê-lo, sendo inclusive perigoso não acordá-lo.[3] Contudo, esse despertar deve ser feito com cautela, já que alguns sonâmbulos podem ficar confusos e até mesmo ser violentos.[4]
Prevalência
[editar | editar código-fonte]É mais comum em crianças em idade escolar. Cerca de 25% das crianças entre 3 a 10 anos relatam pelo menos um episódio por ano e 15% tem episódios todos os meses.[5] Possui tendência genética pois gêmeos idênticos apresentam sonambulismo seis vezes mais frequentemente que os não-idênticos[6] e 40% das pessoas com sonambulismo possuem pelo menos dois outros parentes que também tem este distúrbio.[5] Estima-se que a prevalência nos países varie entre 1 a 15% da população, sendo mais comum nos países com população predominantemente jovem e com alto uso de sedativos (como álcool).[3]
Dentre as crianças entre 5 e 12 anos de idade, estima-se que 15 a 40% tenham apresentado algum episódio de sonambulismo, pelo menos uma vez na vida. A maior parte das crianças sonâmbulas deixa de apresentar este comportamento a partir da adolescência. Dentre os adultos, as pesquisas estimam que 0,5 a 4% apresentam sonambulismo.[7] Porém é importante lembrar que quando acordamos por curtos intervalos, o cérebro pode apagar essas memórias como desnecessárias junto com nossos sonhos, dando a impressão de um episódio de sonambulismo. Essa amnésia também é comum nas dissonias. Como crianças não tem as áreas responsáveis pela memorização tão bem desenvolvidas quanto adultos esse esquecimento é ainda mais comum nelas.
Características
[editar | editar código-fonte]Habitualmente, são episódios isolados, mas pode ter um carácter recorrente em 1-6% dos pacientes. O sonambulismo, segundo estudos de polissonografia, geralmente ocorre uma a duas horas depois de começar a dormir (estágios 3 e 4 do sono), na fase chamados sono de ondas lentas (SOL) e Lento único e afetivo (LUA).[8] Pode durar apenas alguns segundos ou mais de 30 minutos. É possível que ocorra durante a primeira hora de sono, sendo esse caso mais raro (0,05% dos sonâmbulos apresentam essa característica).[5]
Causas
[editar | editar código-fonte]A sua causa é desconhecida e não há tratamento eficaz. Acredita-se, erradamente, que o sonambulismo é a conversão, no estado de vigília, dos movimentos que o indivíduo efetua durante o sonho. Mas na realidade o sonambulismo ocorre antes do estágio de movimentos oculares rápidos (ver Sono REM). O sono tem cinco estágios durante os quais as ondas cerebrais diminuem de intensidade até atingir um profundo estado de relaxamento.
A baixa atividade se mantém no hipotálamo, ligado à consciência, e no córtex cerebral, que controla os movimentos do corpo. No caso dos sonâmbulos, essas ondas, vindas de uma área do cérebro chamada ponte, são irregulares. Por isso não cumprem a contento a função de inibir a região motora.
Como as áreas motoras permanecem ativas, o sonâmbulo é capaz de se sentar, andar e trocar a roupa. Já a área relacionada à consciência e memória, no hipotálamo, se mantém quase inativa. E isso explica porque quem sofre desse distúrbio não percebe o que faz nem se lembra de nada no dia seguinte embora algumas vezes podendo se manifestar como por exemplo: ir pagar uma conta a um multibanco ou escrever uma carta devido uma grande preocupação.
Fatores de risco
[editar | editar código-fonte]Vários fatores aumentam a probabilidade de sonambulismo, dentre eles[9]:
Além disso, é mais frequente em pessoas que possuem transtornos como[4]:
- Problemas respiratórios;
- Refluxo gastroesofágico;
- Transtorno de estresse pós-traumático.
Casos notáveis
[editar | editar código-fonte]Já houve um caso no qual um homem escalou uma montanha durante o sono, e acordou apenas em cima. Bombeiros equipados e outros levaram horas para escalar a montanha para o resgate, dado que a montanha era muito íngreme.[11]
Algumas pessoas já foram vistas caindo de janelas e escadas enquanto estavam sonâmbulas. Alguns sonâmbulos podem ser violentos, inclusive a ponto de matar acidentalmente pessoas próximas [4] (sonambulismo homicida).[12] Em alguns casos internacionais de homicídios e tentativas de homicídio com pacientes sonâmbulos o juri declarou o réu inocente por critério de insanidade temporária.[13] Em outros casos esse argumento já foi negado e o réu condenado a morte, prisão ou confinamento em instituição psiquiátrica.[4]
Existem pelo menos 11 casos de abuso sexual do parceiro(a) durante o sono descritos na literatura (inclusive de mulheres). Os comportamentos incluíram: tirar própria roupa; molestar o parceiro; tentar tirar a roupa do(a) parceiro(a); auto-estimulação e tentar o coito forçado. Acordar o parceiro pode ser difícil mas é suficiente para que ele se controle, geralmente se sentindo culpado e envergonhado por esse comportamento.[14]
Comportamento violento
[editar | editar código-fonte]Alguns pacientes violentos durante o sonambulismo também tem episódios recorrentes de terror noturno e pesadelos.[15] As principais características associadas este comportamento são [16]:
- Sexo masculino;
- Problemas familiares na infância;
- História de abuso sexual;
- Escala de Hamilton > 24;
- História familiar de sonambulismo ou terror noturno;
- Presença de desorganização no horário do sono, com ciclos vigília-sono mais caóticos;
- História de abuso de substâncias.
Esse tipo de comportamento é bastante raro com apenas alguns poucos casos descritos na literatura.
Tratamento
[editar | editar código-fonte]Primariamente, é importante tomar medidas de segurança para a proteção do paciente como dormir no andar térreo, em quarto amplo; proteger as janelas ou fechá-las; retirar mobílias baixas e outros obstáculos do quarto nos quais o paciente possa bater ou tropeçar e cair (como cadeiras, pufes e mesinhas); dificultar o acesso a objetos perfurantes ou cortantes (como tesouras, estiletes e agulhas).[15]
Em casos mais acentuados, pode ser necessário colocar o paciente para dormir em um saco com zíper. Deve-se tratar os fatores de piora, tais como estresse excessivo cotidiano, ansiedade e hábitos de sono irregulares, prevenindo a privação do sono. Para melhorar esses fatores pode-se utilizar ansiolíticos, psicoterapia, técnicas de relaxamento e outras medidas para melhorar a higiene do sono.[15][17]
Além disso, deve-se tratar outras possíveis condições clínicas associadas como: depressão, distúrbios respiratórios, narcolepsia, movimentos periódicos de membros e doenças neurológicas.[15]
Alguns medicamentos psiquiátricos também podem diminuir a frequência dos casos como o clonazepam em doses baixas, que podem ser aumentadas dependendo da resposta terapêutica, ou outros benzodiazepínicos como diazepan ou flurazepam. Nos casos de crises violentas comprovadas, são utilizados antiepiléticos.[15]
Ver também
[editar | editar código-fonte]- Despertar confusional
- Doença do sono
- Distúrbio comportamental do sono REM
- Hipersonia
- Paralisia do sono
- Parassonia
- Sonambulismo magnético
- Sono
- Terror Noturno
Referências
- ↑ [1]
- ↑ [2]
- ↑ a b Sleep foundation.org
- ↑ a b c d Ohayon MM, Caulet M, Priest RG. Violent behavior during sleep. J Clin Psychiatry. 1997;58(8):369-76; quis 377.
- ↑ a b c RUBENS N. A. A. REIMÃO, ANTONIO B. LEFÈVRE (1980) DISTÚRBIOS DO SONO NA INFÂNCIA. http://pediatriasaopaulo.usp.br/upload/pdf/634.pdf
- ↑ BAKWIN, H. — Sleep-walking in twins. Lancet 2:446, 1970.
- ↑ Mahowald & Schenck. 1283.
- ↑ ABLON, S. L. & MACK, J £. — Sleep Disorders. In NOHSPITZ, J. D., ed. — Basic Handbook of Child Psychiatry. New York, Basic Books, 1979 p. 34.
- ↑ Kales JD, Kales A, Soldatos CR, Chamberlin K, Martin ED. Sleepwalking and night terrors related to febrile illness. Am J Psychiatry. 1979;136(9):1214-5.
- ↑ http://law.jrank.org/pages/2490/Albert-Tirrell-Trial-1846-Rufus-Choate-Defends-Tirrell.html
- ↑ http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL872856-15605,00-SONAMBULO+ACORDA+NO+ALTO+DE+MORRO+DE+METROS.html
- ↑ Wolf-Meyer, Matthew J. (13 de dezembro de 2012). «Sleepwalking Killers—And What They Tell Us About Sleep». Psychology Today (em inglês). Consultado em 28 de agosto de 2020
- ↑ http://www.lakesidepress.com/pulmonary/Sleep/sleep-murder.htm
- ↑ Guilleminault C, Moscovitch A, Yuen K, Poyares D. Atypical sexual behavior during sleep. Psychosom Med. 2002;64(2):328-36.
- ↑ a b c d e POYARES, Dalva et al. Violência durante o sono. Rev. Bras. Psiquiatr. [online]. 2005, vol.27, suppl.1 [cited 2011-04-01], pp. 22-26 . Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462005000500005&lng=en&nrm=iso>. ISSN 1516-4446. doi: 10.1590/S1516-44462005000500005.
- ↑ Moldofsky H, Gilbert R, Lue FA, MacLean AW. Sleep-related violence. Sleep. 1995;18(9):731-9.
- ↑ JOVANOVIC, U. J. — Suggestions for the treatment of sleep disturbances and conclusions. In 1st Europ. Cong. Sleep Res., Basel, 1972. p. 45.