Stenodermatinae

Como ler uma infocaixa de taxonomiaStenodermatinae[1]
Ocorrência: Recente 0,012–0 Ma
Artibeus sp.
Artibeus sp.
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Mammalia
Infraclasse: Placentalia
Ordem: Chiroptera
Família: Phyllostomidae
Gray, 1825
Subfamília: Stenodermatinae
Gervais, 1856
Tribos

Stenodermatinae é a maior subfamília de morcegos da família Phyllostomidae, com 14 gêneros e mais de 60 espécies[2]. Os membros dessa subfamília ocorrem nas regiões tropicais e subtropicais das Américas, desde o México até o norte da Argentina, ocorrendo também em algumas ilhas do Caribe e nas Florida Keys[2]. Todas as espécies da subfamília são obrigatoriamente frugívoras, mas podem consumir outros recursos vegetais como folhas, néctar, pólen e sementes.

Taxonomia e Evolução

[editar | editar código-fonte]

Filogenias moleculares recuperam Rhinophyllinae como grupo-irmão de Stenodermatinae[3]. A ausência de cauda e um focinho curto são prováveis sinapomorfias morfológicas para o clado formado pelas duas subfamílias. Dentro de Stenodermatinae, dados moleculares e morfológicos indicam que Sturnira seria grupo-irmão do clado contendo os demais gêneros de Stenodermatinae[4]. Portanto, a primeira divisão na subfamília refere-se às tribos Sturnirini (contendo apenas Sturnira) e Stenodermatini (contendo os demais gêneros). A tribo Stenodermatini, muito mais diversificada, é subdividida em 5 subtribos: Artibeina, Ectophyllina, Enchistenina, Stenodermatina e Vampyressina.[3]

O registro fóssil da subfamília é escasso e restrito ao Quaternário tardio (aproximadamente 100.000 anos). São conhecidos representantes fósseis dos gêneros atuais Artibeus, Chiroderma, Platyrrhinus, Phyllops, e provavelmente Uroderma.[5][6] Quatro espécies e um gênero extintos são conhecidos de Cuba: Artibeus anthonyi†, Cubanycteris silvai, Phyllops vetus† e Phyllops silvai.[7]

Classificação

[editar | editar código-fonte]

Características morfológicas

[editar | editar código-fonte]
Arcada dentária de Pygoderma bilabiatum em vista oclusal.

Os morcegos Stenodermatinae são caracterizados por possuírem a arcada dentária circular em vista oclusal, o primeiro pré-molar superior sempre em contato com o canino, molares superiores com cúspides reduzidas (sem o padrão em "W" presente na maioria dos morcegos), molares inferiores com coroas baixas e cúspides altas, e ausência de cauda[2]. A fórmula dentária das espécies dessa subfamília varia pouco:

Externamente, muitas espécies das subtribos Artibeina, Enchistenina e Vampyressina apresentam quatro listras faciais, geralmente contrastantes com a pelagem ao redor. Adicionalmente às listras faciais, a maioria dos Vampyressina possuem uma listra dorsal sagital, assim como presente nos gêneros não-Stenodermatinae Trinycteris e Gardnerycteris. A cauda é ausente, o uropatágio pode ser bem desenvolvido (por exemplo em Uroderma), ou extremamente reduzido (por exemplo em Sturnira).

Detalhe da região facial de Dermanura sp., notar as litras faciais.

Sabe-se que os morcegos filostomídeos dispersam sementes de pelo menos 549 espécies de plantas de 62 famílias diferentes.[8] Com dieta predominantemente frugívora, os morcegos Stenodermatinae são, portanto, importantes dispersores de sementes. Os Stenodermatinae estão entre as principais espécies de morcego que visitam barreiros na região amazônica. Acredita-se que tal comportamento de geofagia tenha evoluído em animais especializados no consumo de frutos de Ficus spp., que são pobres em sódio, nutriente esse abundante nos barreiros.[9]

As espécies de Stenodermatinae utilizam uma gama variada de abrigos diurnos. A maioria das espécies abriga-se em meio a folhas de árvores, mas também podem utilizar ocos de árvore e cavidades rochosas (como cavernas e cangas), e inclusive construções abandonadas[10]. O comportamento de modificar folhas em tendas para abrigo diurno é exclusivo de Phyllostomidae nos neotrópicos, mas surgiu convergentemente em Pteropodidae.[11] Os gêneros de Stenodermatinae que possuem espécies que utilizam tendas são: Artibeus, Dermanura, Ectophylla, Mesophylla, Platyrrhinus, Uroderma e Vampyressa.[11][12] O único filostomídeo não-Stenodermatinae que utiliza tendas é Rhinophylla.[13]

Grupo de Platyrrhinus sp. (provavelmente P. lineatus) utilizando casa abandonada como abrigo, em Pilar do Sul, São Paulo.
  1. Simmons, N.B. (2005). Wilson, D.E.; Reeder, D.M. (eds.), eds. Mammal Species of the World 3 ed. Baltimore: Johns Hopkins University Press. pp. 312–529. ISBN 978-0-8018-8221-0. OCLC 62265494 
  2. a b c Gardner, Alfred L. Mammals of South America, Volume 1 (em inglês). [S.l.: s.n.] doi:10.7208/chicago/9780226282428.001.0001 
  3. a b Baker, Robert J.; Solari, Sergio; Cirranello, Andrea; Simmons, Nancy B. (1 de junho de 2016). «Higher Level Classification of Phyllostomid Bats with a Summary of DNA Synapomorphies». Acta Chiropterologica. 18 (1): 1–38. ISSN 1508-1109. doi:10.3161/15081109ACC2016.18.1.001 
  4. Dávalos, Liliana M.; Cirranello, Andrea L.; Geisler, Jonathan H.; Simmons, Nancy B. (1 de novembro de 2012). «Understanding phylogenetic incongruence: lessons from phyllostomid bats». Biological Reviews (em inglês). 87 (4): 991–1024. ISSN 1469-185X. PMID 22891620. doi:10.1111/j.1469-185X.2012.00240.x 
  5. Fracasso, Maria P. D. A.; Salles, Leandro D. O. (17 de janeiro de 2005). «Diversity of Quaternary Bats from Serra da Mesa (State of Goiás, Brazil)». Zootaxa (em inglês). 817 (1): 1–19. ISSN 1175-5334. doi:10.11646/zootaxa.817.1.1 
  6. Czaplewski, Nicholas J.; Cartelle, Cástor; Cartelle, Castor (21 de agosto de 1998). «Pleistocene Bats from Cave Deposits in Bahia, Brazil». Journal of Mammalogy (em inglês). 79 (3). ISSN 0022-2372. doi:10.2307/1383089 
  7. Balseiro, Fernando; Mancina, Carlos A.; Guerrero, JoséAntonio (15 de dezembro de 2009). «Taxonomic Status of Artibeus anthonyi (Chiroptera: Phyllostomidae), a Fossil Bat from Cuba». Journal of Mammalogy. 90 (6): 1487–1494. ISSN 0022-2372. doi:10.1644/08-MAMM-A-372R1.1 
  8. Kunz, Thomas H.; Braun de Torrez, Elizabeth; Bauer, Dana; Lobova, Tatyana; Fleming, Theodore H. (1 de março de 2011). «Ecosystem services provided by bats». Annals of the New York Academy of Sciences (em inglês). 1223 (1): 1–38. ISSN 1749-6632. doi:10.1111/j.1749-6632.2011.06004.x 
  9. Bravo, Adriana; Harms, Kyle E.; Emmons, Louise H. (1 de agosto de 2012). «Keystone resource (Ficus) chemistry explains lick visitation by frugivorous bats». Journal of Mammalogy. 93 (4): 1099–1109. ISSN 0022-2372. doi:10.1644/11-MAMM-A-333.1 
  10. Garbino, Guilherme S. T.; Tavares, Valéria da Cunha. «Roosting ecology of Stenodermatinae bats (Phyllostomidae): evolution of foliage roosting and correlated phenotypes». Mammal Review (em inglês): n/a–n/a. ISSN 1365-2907. doi:10.1111/mam.12114 
  11. a b Rodríguez-H, Bernal; Medellín, Rodrigo A.; Timm, Robert M. (1 de janeiro de 2007). Murciélagos neotropicales que acampan en hojas (em espanhol). [S.l.]: Editorial INBio. ISBN 9789968927284 
  12. Garbino, Guilherme S. T.; Tavares, Valéria da Cunha (abril de 2018). «Roosting ecology of Stenodermatinae bats (Phyllostomidae): evolution of foliage roosting and correlated phenotypes». Mammal Review (em inglês). 48 (2): 75–89. doi:10.1111/mam.12114 
  13. Zortea, Marlon (1 de janeiro de 2012). «Observations on tent-using in the Carolline Bat Rhinohylla pumilio in southeastern Brazil». Chiroptera Neotropical. 1 (1): 2–4. ISSN 2317-6105