Teoria de placas e lâminas
Em engenharia estrutural, as placas, as lâminas, assim como o elemento estrutural em edificações chamado laje, são elementos estruturais que geometricamente podem ser aproximados por uma superfície bidimensional e que trabalham predominantemente em flexão. Estruturalmente a diferença entre placas e lâminas está na curvatura. As placas são elementos cuja superfície média é plana, enquanto que as lâminas são superfícies curvadas no espaço tridimensional (como as cúpulas, as paredes de reservatórios ou tanques).
Construtivamente são sólidos deformáveis nos quais existe uma superfície média (que é a que se considera aproximada de uma placa ou lâmina), a qual se adiciona uma certa espessura constante por cima e por baixo do plano médio. O fato de que esta espessura é pequena comparada com as dimensões da lâmina e por sua vez pequena comparada com os raios de curvatura da superfície, é o que permite reduzir o cálculo de placas e lâminas reais a elementos idealizados bidimensionais.
Cálculo de placas
[editar | editar código-fonte]Hipóteses de Reissner-Mindlin
[editar | editar código-fonte]As hipóteses de Reissner-Mindlin são um conjunto de hipótese cinemáticas sobre como se deforma uma placa ou lâmina sob flexão que permitem relacionar os deslocamentos com as deformações. Uma vez obtidas as deformações a aplicação rotineira das equações da elasticidade permite encontrar as tensões, e encontrar a equação de governo que relaciona deslocamentos com as forças externas.
As hipóteses de Reissner-Mindlin para o cálculo elástico de placas e lâminas são:
- O material da placa é elástico linear.
- O deslocamento vertical para os pontos do plano médio não depende de z: uz(x, y, z) = w(x, y).
- Os pontos do plano médio só sofrem deslocamento vertical: ux(x, y,0) = 0, uy(x, y,0) = 0.
- A tensão perpendicular ao plano médio se anula: σzz= 0.
Como consequência os deslocamentos horizontais só se dão fora do plano médio e só se produzem por rotação do segmento perpendicular ao plano médio. Como consequência das hipóteses de Reissner-Mindlin os deslocamentos podem ser escritos como:
Hipótese de Love-Kirchhoff
[editar | editar código-fonte]Nas placas em que se despreza a deformação por cortante, pode-se supor adequadamente uma hipótese adicional, conhecida como hipótese de Love-Kirchhoff. Esta hipótese diz que:
- 5.
Esta hipótese é análoga à hipótese de Navier-Bernoulli para vigas. De fato existe um paralelo entre os modelos de vigas e de placas. O modelo de placa de Reissner-Mindlin é o equivalente da viga de Timoshenko, enquanto que o modelo de placa de Love-Kirchhoff é o equivalente da viga de Euler-Bernoulli.
As hipóteses de Reissner-Mindlin combinadas com a hipótese de Love-Kirchhoff proporcionam uma hipótese cinemática para os deslocamentos. A partir desses deslocamentos pode se calcular facilmente as deformações para uma placa delgada:
Em função dessas deformações as tensões são calculadas trivialmente a partir das equações de Lamé-Hooke que generalizam a lei de Hooke para sólidos deformáveis.
Equação de Lagrange para placas delgadas
[editar | editar código-fonte]Para uma placa plana de espessura constante na qual sejam válidas as hipótesis de Reissner-Mindlin e Love-Kircchoff o caimento vertical em cada ponto sob a ação das cargas apoiadas sobre ela é dado por:
- [1]
Onde w(x, y) é a flexão vertical ou caimento vertical da placa no ponto de coordenadas (x, y), q(x, y) é a carga por unidade de área no mesmo ponto, o operador laplaciano é definido pela seguinte soma de operadores:
E finalmente a constante D é a rigidez flexional de placas e é dada em função da espessura da placa (h), o módulo de Young (E), o coeficiente de Poisson (ν):
É interessante notar que a equação [1] é o análogo da equação elástica para vigas. Para placas de espessura não constante, analogamente ao caso da equação elástica para vigas, a flexão e a carga aplicada estão relacionadas pela equação:
- [2]
Onde agora a rigidez flexional D é função D(x, y) que depende do ponto concreto de placa.
Cálculo de tensões em placas delgadas
[editar | editar código-fonte]Em uma lâmina submetida fundamentalmente a flexão na qual se despreza a deformação por cortante, ou lâmina de Love-Kirchhof, os esforços internos se caracterizam por dois momentos fletores segundo duas direções mutuamente perpendiculares e um esforço torsor . Estes esforços estão diretamente relacionados com a flexão vertical w(x, y) em cada ponto por:
Onde:
- , é o coeficiente de Poisson do material da placa.
- , é a rigidez em flexão da placa, sendo:
- o módulo de Young do material da placa, e h a espessura da placa.
As tensões sobre uma placa são diretamente calculáveis a partir dos esforços anteriores:
Cálculo de lâminas
[editar | editar código-fonte]Uma lâmina é um elemento estrutural bidimensional curvado. Se as placas se tratam analogamente as vigas retas, as lâminas são o análogo bidimensional dos arcos. Usando coordenadas curvilíneas ortogonais sobre a superfície podem se escrever as equações de equilíbrio para os esforços internos para uma lâmina de Reisner-Mindlin como:[1][2]
Onde:
- , indicam as derivadas parciais em relação às coordenadas u, v.
- é o módulo do vetor tangente associado à coordenada u.
- é o módulo do vetor tangente associado à coordenada v.
- são os raios de curvatura segundo as direções das linhas coordenadas.
- são as forças por unidade de área em cada ponto da lâmina.
- são os momentos por unidade de área em cada ponto da lâmina.
- são os esforços de membrana.
- são os esforços cortantes da placa.
- são os momentos fletores da placa.
- são os momentos torsores da placa.
Cúpula sob seu próprio peso
[editar | editar código-fonte]Como exemplo das equações anteriores podemos considerar uma cúpula em forma de calota esférica submetida a seu próprio peso. Cada ponto da cúpula bidimensional pode ser parametrizado mediante as coordenadas :
Com o qual temos os fatores geométricos seguintes:
- E portanto as equações anteriores ficarão reduzidas a:
Referências
[editar | editar código-fonte]- ↑ Washizu, K. Variational methods in Elasticity and Plasticity, Pergamon Press, 1974. ISBN 978-0-08-026723-4.
- ↑ Langhaar, H. L. Energy Methods in Applied Mechanics, Wiley, 1962. ISBN 978-0-89464-364-4.