Transplante renal

O transplante renal é uma das terapias de substituição renal em indivíduos portadores de doença renal crônica terminal por proporcionar melhor qualidade de vida aos pacientes,[1] assim como uma redução do risco de mortalidade quando comparados a pacientes em terapia renal substitutiva, sendo hemodiálise e diálise peritoneal.[2][3][4]

Tipos de doadores[editar | editar código-fonte]

Na prática do transplante renal, os rins podem ser provenientes de dois ou mais tipos de doadores:

  • Doador vivo: indivíduo sem comorbidades no qual concede a doação do rim para um familiar até quarto grau (pai, mãe, irmãos, filhos, avós, netos, tios e sobrinhos) ou cônjuge (esposa ou esposo). A doação renal também pode ser realizada entre pessoas não relacionadas porém para que está ocorra é necessária autorização judicial.[5]
  • Doador falecido: indivíduos com diagnóstico de morte encefálica através da realização de 02 exames clínicos e 01 exame de imagem e autorização familiar.

Animal[editar | editar código-fonte]

Em 2021, uma equipa médica transplantou um rim de porco geneticamente modificado num humano. Foi uma experiência num paciente em morte cerebral, mas que abre portas à utilização de rins de porco em doentes com falência renal crítica.

A experiência decorreu no Centro Médico Langone Health da Universidade de Nova Iorque e envolveu um paciente em estado de morte cerebral que tinha disfunção nos rins. Os cientistas transplantaram o rim de porco no paciente no exterior do seu corpo, para permitir a observação durante um período de 54 horas.

Antes disso, os cientistas alteraram os genes do porco, nos tecidos do rim, para eliminar a molécula conhecida por despoletar a quase imediata rejeição do órgão por parte do corpo humano. Essa modificação genética surtiu efeito, uma vez que o sistema imunitário do paciente não rejeitou o rim de porco.

O órgão produziu a quantidade de urina esperada num rim humano transplantado.[6]

Testes Imunológicos[editar | editar código-fonte]

Para realização de transplante de renal é necessário a compatibilidade ABO e outros exames imunológicos, como tipificação HLA e prova cruzada.

Os transplantes de rim de doadores vivos com compatibilidade HLA são mais bem-sucedidos do que aqueles de doadores falecidos.

O rim transplantado é colocado na fossa ilíaca do paciente e o ureter é fixado à bexiga e anastomose ao ureter do receptor. A artéria e a veia renais são unidas à artéria e à veia ilíacas externas, respectivamente.

Dados epidemiológicos[editar | editar código-fonte]

Um estudo realizado nos Estados Unidos mostra que pessoas doam um dos rins vivem tanto quanto aquelas que possuem os dois rins.[7]

Segundo estudo publicado na Nature, cerca de 27 mil transplantes renais são feitos anualmente no mundo, sendo 39% do total de transplantes. Estados Unidos, Brasil, Irã, México e Japão de um grupo 69 países registram o maior volume desse tipo de transplante.[8]

Conforme dados ABTO, o Brasil ocupa a segunda posição em número de transplantes renais no mundo. Em 2013, foram realizados no Brasil 5447 transplantes renais, sendo 1382 provenientes de doadores vivos e 4065 doadores falecidos.

O primeiro transplante renal bem-sucedido foi feito em 1954, em Boston, pela equipe do cirurgião Joseph Murray, que receberia o Prêmio Nobel de Medicina em 1990. O recipiente, Richard Herrick, faleceu oito anos após o transplante; e o doador era seu gêmeo univitelino.[9]

Em Portugal, a primeira transplantação de órgãos foi realizada em 20 de julho de 1969, nos Hospitais da Universidade de Coimbra quando uma equipa médica liderada pelo cirurgião Linhares Furtado fez um transplante renal com dador vivo, intervenção pioneira, na altura, no país.

Onze anos mais tarde, em 1980, foi feito o primeiro transplante, também de rim, proveniente de um dador cadáver.

A OMS estima que cerca de 10% dos transplantes realizados no mundo sejam ilegais.[8]

Imunossupressão[editar | editar código-fonte]

A terapia imunossupressora pode ser dividida em regime de indução e manutenção. A terapia de indução é iniciada no pré ou intraoperatório e incluem anticorpos monoclonais e anticorpos policlonais.

A terapia de manutenção é composta pelos inibidores de calcineurina, agentes antimetabólicos e antiproliferativos, e corticoesteroides.

Os agentes antimetabólicos são compostos por: azatioprina, micofenolato mofetil e micofenolato sódico.

Os inibidores de calcineurina são compostos por: ciclosporina e tacrolimo.

Toxicidade associada aos regimes imunossupressores:

  • Micofenolato: distúrbios gastrointestinais.

Cuidados após o transplante renal[editar | editar código-fonte]

Apesar de proporcionar uma melhor qualidade de vida aos portadores de doença renal crônica terminal, após o transplante renal é necessário um plano de cuidados, que deve ser adotado pelos pacientes transplantados renais. Dentre os cuidados a serem adotados podemos listar:

  • Imunossupressão: até 2023, todos os pacientes submetidos a transplante necessitavam da administração de imunossupressores que consistem em medicamentos que possuem o objetivo de diminuir a possibilidade de rejeição do enxerto. Estes medicamentos deverão ser administrados corretamente, conforme a prescrição médica e não é recomendado serem descontinuados. Em 2023 no Reino Unido com Células estaminais foi possível "reprogramar" o sistema imunitário para não rejeitar o novo órgão.[10]
  • Alimentação: após o transplante renal é recomendado evitar a ingestão de alimentos com alto teor de sódio, como embutidos e enlatados, alimentos gordurosos como as frituras. Recomenda-se uma alimentação baseada da ingestão de frutas, verduras, legumes e alimentos cozidos, assados e grelhados.
  • Cuidados com raios solares: orienta-se evitar o sol das 10 horas da manhã até 16 horas, período no qual ocorre a maior incidência de raios solares.
  • Vacinação: é recomendado a administração das seguintes vacinas: influenza tipo A e B, dupla adulto, pneumocócica, hepatite B, meningocócica e hepatite A. As vacinas de varicela zoster, influenza intranasal, BCG, febre amarela e rubéola não são recomendadas para esta população.
  • Animais de estimação: é possível a presença de animais de estimação como cães e gatos, porém os mesmos devem ser vacinados e vermifugados periodicamente.

Referências

  1. Suthanthiran M, Strom TB. Renal transplantation. N Engl J Med 1994; 331:365.
  2. Schnuelle P, Lorenz D, Trede M, Van Der Woude FJ. Impact of renal cadaveric transplantation on survival in end-stage renal failure: evidence for reduced mortality risk compared with hemodialysis during long-term follow-up. J Am Soc Nephrol 1998; 9:2135.
  3. Port FK, Wolfe RA, Mauger EA, et al. Comparison of survival probabilities for dialysis patients vs cadaveric renal transplant recipients. JAMA 1993; 270:1339.
  4. Ojo AO, Port FK, Wolfe RA, et al. Comparative mortality risks of chronic dialysis and cadaveric transplantation in black end-stage renal disease patients. Am J Kidney Dis 1994; 24:59.
  5. «L9434». www.planalto.gov.br. Consultado em 25 de dezembro de 2021 
  6. «U.S. surgeons successfully test pig kidney transplant in human patient» 
  7. Doar rim não reduz expectativa de vida, mostra estudo - O Estado de S.Paulo, 11 de março de 2010 (visitado em 11-3-2010)
  8. a b Estudo salienta necessidade de mais doações de rins no mundo - O Estado de S.Paulo, 18 de fevereiro de 2009 (visitado em 11-3-2010)
  9. «Transplant Pioneers Recall Medical Milestone». NPR.org (em inglês). 20 de dezembro de 2004. Consultado em 22 de dezembro de 2021 
  10. «Girl receives UK's first rejection-free kidney from mum» 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]