Transtorno do relacionamento sexual
Transtorno do relacionamento sexual | |
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Fran Drescher e seu ex-marido gay Peter Marc Jacobson fizeram um seriado baseado em seu casamento real chamado Happily Divorced (2011)[1] | |
Especialidade | psiquiatria |
Classificação e recursos externos | |
CID-10 | F66.2 |
Leia o aviso médico |
O transtorno do relacionamento sexual ocorre quando a identidade de gênero (masculina, feminina, cisgênero, transgênero ou não-binária) ou a orientação sexual (heterossexual, homossexual, bissexual, androfilia, ginefilia ou assexual) leva a dificuldades no estabelecimento e manutenção de um relacionamento com um parceiro sexual.[2]
A Classificação internacional de doenças (CID-10) inclui uma nota esclarecendo que a orientação sexual não é um transtorno.[3] O transtorno se restringe ao sofrimento causado pelo relacionamento sexual insatisfatório independente da combinação (hetero relacionando-se com homo, homo relacionando-se com bi, bi relacionando-se com hetero).
Causa
[editar | editar código-fonte]Por conta da cultura intolerante a diversidade sexual é comum que homens e mulheres com desejos homossexuais se relacionem com parceiros do sexo oposto como forma de serem melhor aceitos socialmente. A causa da insatisfação depende do tipo de conflito na orientação sexual:
- Homossexual com heterossexual: o desejo homossexual persiste e pode inclusive aumentar progressivamente causando cada vez mais insatisfação sexual no casamento. Em estudos com gays casados com mulheres os motivos mais citados para o casamento foram: "por amor", "parecia natural", "queria casar e ter filhos" e "por expectativas sociais e culturais".[4]
- Bissexual com heterossexual: Similar ao homossexual, mas com maior preconceitos sobre a bissexualidade e maior probabilidade (33%) de manter o casamento depois de revelar a orientação ao parceiro(a).[5]
- Assexual com sexual: Estes casamentos são geralmente baseados no amor romântico e a falta de desejo sexual de um já estava clara antes do casamento.
Assexuais também podem preferir casar um homossexual do sexo oposto por não ter desejo de relações sexuais e assim manter um casamento sem sexo.
- Gay com lésbica: Ambos mantem um casamento de conveniência para ocultar sua sexualidade da sociedade.
Prevalência
[editar | editar código-fonte]Em uma pesquisa com homens casados com mulheres, mas com desejo sexual por outros homens, os pacientes tinham 38 anos em média quando começaram a terapia, eram casados em média há 13 anos e tinham em média 2 filhos. Nenhum foi bem sucedido em eliminar esse desejo, 97% sabiam que possuíam desejo por homens antes de casar, 61% tinham vida sexual insatisfatória, 36% fizeram terapia para eliminar esse desejo, 94% tiveram casos fora do casamento e apenas 19% das esposas sabiam que o marido tinha desejo por homens antes do início da terapia.[7]
Cerca de 6 a 10% dos homens sentem desejo de fazer sexo com outros homens.[8] Entre as mulheres Kinsey estimou que cerca de 12-13% tem desejo de fazer sexo com outras mulheres.[9] Entre as mulheres casadas estima-se que 8-10% sentem atração por outra mulher.[9] O número total de pessoas em um relacionamento desejando fazer sexo com o sexo oposto varia entre 0,3% a 20% dependendo do a cultura, idade, país, critérios e definições usados no estudo.[10]
Tratamento
[editar | editar código-fonte]Pode ser feito com terapia individual onde o indivíduo discute sobre seus desejos e como satisfazê-los causando o mínimo sofrimento para seu(sua) parceiro(a) ou como terapia de casal em que ambos discutem e decidem como preferem lidar com essa situação.
O método Coleman tem 5 objetivos:[7]
- Fazer a pessoa se sentir mais confortável com sua sexualidade;
- Examinar mitos e estereótipos relacionados a homossexualidade e bissexualidade;
- Educar sobre o funcionamento da sexualidade humana;
- Lidar com as questões de performance sexual em relações com o mesmo sexo e com o sexo oposto;
- Explorar alternativas mais saudáveis e funcionais de realizar seus desejos sexuais;
Dentre as soluções possíveis estão: terminar o relacionamento, organizar ménage à trois com parceiros sexualmente atraentes a ambos, manter um relacionamento aberto sexualmente, interpretar papéis diferentes na cama para satisfazer os desejos e fetiches do parceiro, manter um relacionamento a três, fazer trocas de casais bissexuais ou restringir suas fantasias a masturbação individual.[7] Durante a terapia é importante desenvolver habilidades de assertividade e de assumir a responsabilidade no paciente.[7]
Mudança de orientação
[editar | editar código-fonte]Atualmente nenhum tratamento para modificar a orientação sexual se mostrou eficiente,[12] sendo anti-ético e contra o código de ética de profissionais da saúde regulamentados recomendar tratamentos que não são cientificamente comprovados.[13]
Geralmente o desejo de manter o relacionamento heterossexual apesar de desejos homossexuais é embasado em crenças religiosas conservadoras que devem ser discutidas e questionadas cuidadosamente para que o paciente não desista da terapia. O objetivo nesse caso é formar novas crenças mais saudáveis e tolerantes em relação a diversidade. Diversas entidades religiosas aceitam a diversidade sexual de forma tolerante e podem ser recomendadas para auxiliar o paciente a se realizar espiritualmente e sexualmente simultaneamente.[14]
A maioria dos pacientes que fizeram terapia de reorientação sexual relataram sofrer transtornos psicológicos como consequência da terapia. As consequências mais comuns foram depressão maior (40%), transtornos de ansiedade (20%), ideação suicida (10%), impotência (10%) e transtorno do relacionamento sexual (10%).[15]
No Brasil, psicólogos que se proponham a fazer terapia de reorientação sexual devem ser denunciados ao Conselho Regional de Psicologia (CRP) local onde será decidido sua punição.[16] Médicos podem ser denunciados ao Conselho Regional de Medicina(CRM).
Assexuais
[editar | editar código-fonte]A comunidade assexual recomenda que o assexual deve ou se comprometer a manter relações sexuais para agradar o(a) parceiro(a) ou permitir ao parceiro se relacionar sexualmente com outras pessoas.[17]
Bissexuais
[editar | editar código-fonte]A manutenção do casamento foi maior entre bissexuais (33%) e correlacionada com o amor e amizade mútuos, a existência de filhos, terapia de casal e apoio de amigos e família. A terapia é similar a dos homossexuais casados com heterossexuais, mas em um estudo com 58 casais a relação dos bissexuais com heterossexuais está marcada por uma interação de vários níveis que inclui prazer sexual mútuo, bem como envolvimento cognitivo, verbal, comportamental e emocional. Seu esforço conjunto ao longo do tempo lhes permitiu desconstruir não apenas conceitos tradicionais de casamento, mas também desconstruir os conflitos entre as visões de orientação sexual.[18]
Cultura
[editar | editar código-fonte]- A Marriage Below Zero (1889) - Chester Allan Dale (pseudônimo de Alfred J. Cohen)
- American Beauty
- Brokeback Mountain
- Crustacés et Coquillages
- De-Lovely
- Far From Heaven
- Imagine Me & You
- Mulligans
- The Wedding Banquet
- The Playboy Club (2011): Um gay está casado com uma lésbica para ocultarem suas sexualidades.
- Episódio de "Os Simpsons" de 1996 "Um peixe chamado Selma" faz uma paródia desse transtorno: Selma se casa com um ator famoso que busca ocultar sua atração sexual por peixes.
- Degrassi: The Next Generation
- Bright Shiny Morning
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ «Happily Divorced». IMDB. Consultado em 2 de janeiro de 2017
- ↑ «F60-F69 Transtornos da personalidade e do comportamento do adulto». www.datasus.gov.br. Consultado em 2 de novembro de 2015
- ↑ «ICD-10 Version:2010». apps.who.int. Consultado em 2 de janeiro de 2017
- ↑ PhD, Eli Coleman (5 de junho de 1982). «Bisexual and Gay Men in Heterosexual Marriage:». Journal of Homosexuality. 7 (2-3): 93–103. ISSN 0091-8369. doi:10.1300/J082v07n02_11
- ↑ Buxton, Amity Pierce (2004-07-01). "How Mixed-Orientation Couples Maintain Their Marriages After the Wives Come Out". Journal of Bisexuality. Routledge. 4 (1–2): 57–82. doi:10.1300/J159v04n01_06
- ↑ WEEKS, J. (2000). “O corpo e a sexualidade”. In: LOURO, G. L. (2000). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte, Autêntica.
- ↑ a b c d Coleman, E. «Bisexual and gay men in heterosexual marriage: conflicts and resolutions in therapy». Journal of Homosexuality. 7 (2-3): 93-103. ISSN 0091-8369. PMID 7346553
- ↑ «Travestismo - Perturbações sexuais e psicosexuais - Secção 7 : Perturbações mentais - Manual MSD para a Familia». www.manuaismsd.pt. Consultado em 2 de janeiro de 2017
- ↑ a b Hite, Shere (4 de janeiro de 2011). The Hite Report: A Nationwide Study of Female Sexuality. [S.l.]: Seven Stories Press. ISBN 9781609800352
- ↑ Corey, Gerald; Corey, Marianne Schneider; Callanan, Patrick (1 de janeiro de 2007). Issues and Ethics in the Helping Professions. [S.l.]: Cengage Learning. ISBN 0534614434
- ↑ a b «Bisexual and gay men in heterosexual marriage: conflicts and resolutions in therapy. - PubMed - NCBI». 7 de março de 2016. Consultado em 2 de janeiro de 2017
- ↑ «Appropriate Therapeutic Responses to Sexual Orientation» (PDF). America Phychological Association. Agosto de 2009. Consultado em 2 de janeiro de 2017
- ↑ Holland, Erik (1 de novembro de 2004). The Nature of Homosexuality: Vindication for Homosexual Activists and the Religious Right. [S.l.]: iUniverse. ISBN 9780595305087
- ↑ Beckstead, A. L. (1 de agosto de 2004). «Mormon Clients' Experiences of Conversion Therapy: The Need for a New Treatment Approach». The Counseling Psychologist. 32 (5): 651–690. ISSN 0011-0000. doi:10.1177/0011000004267555
- ↑ «Aversion therapy of homosexuality. A pilot study of 10 cases». 29 de julho de 2009. Consultado em 2 de janeiro de 2017. Cópia arquivada em 29 de julho de 2009
- ↑ «Código de ética profissional do Psicólogo» (PDF). Consultado em 1 de janeiro de 2017
- ↑ «Is it fair for an asexual person married to a sexual person to insist on a monogamous relationship?». Asexual Visibility and Education Network (em inglês). Consultado em 10 de abril de 2017
- ↑ Buxton, Amity Pierce (1 de junho de 2000). «How Bisexual Men and Their Heterosexual Wives Maintain Their Marriages After Disclosure». Journal of Bisexuality. 1 (2-3): 155–189. ISSN 1529-9716. doi:10.1300/J159v01n02_06. Consultado em 9 de abril de 2017